sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

#ITAURACISTA: NO BRASIL A RAÇA SOBREPÕE A CLASSE E A CONTA BANCÁRIA

janeiro 31, 2020 0

O discurso Marxista empregado à sociedade brasileira, quando desconsidera o racismo estrutural no qual estamos inseridos, não se sustenta por mais de dez segundos. E posso afirmar isto com tranquilidade enquanto mulher preta e historiadora. Raça, no Brasil, sobrepõe classe SIM!

Nesse momento um dos assuntos mais comentados no Twitter e no #BlackTwitter é o #ITAURACISTA.

Na tarde da última quinta-feira Lorena Vieira que é empresária e mora no Rio de Janeiro sofreu racismo numa agência do Banco Itau, na qual era correntista (Lorena já anunciou que retirará sua conta do banco). A empresária, que faz movimentações altas em sua conta foi acusada de FRAUDE. Lorena alega ter sido "enrolada" pelo banco, ficando lá até não haver mais nenhum cliente na agência e então foi levada pela Polícia Civil para "prestar esclarecimentos" sobre seu próprio dinheiro.

Além de todo o constrangimento provocado pelo Banco Itau contra a cliente a polícia também expôs Lorena à constrangimentos desnecessários ao envolver o nome de seu companheiro nas perguntas sobre a sua conta no banco.
Perguntas relacionadas às suas visitas ao companheiro na prisão foram feitas à Lorena quando na verdade a "averiguação" inicialmente seria sobre uma suposta fraude, denunciada pelo banco Itau em sua própria conta.
O banco se manifestou dizendo se tratar de uma "conduta padrão". Agora, cá entre nós, é padrão chamar a polícia para pessoas brancas que movimentam altas quantias em suas contas bancárias? Este é com certeza mais um daqueles "casos isolados" que só acontecem com gente negra no Brasil.




Outras pessoas tem se manifestado através da rede social sobre o caso de racismo recente no banco Itaú.

E não podemos esquecer que recentemente o mesmo banco esteve envolvido em outra polêmica racista: Uma turma INTEIRA de estagiários, 125 novos trainees do banco e NENHUMA pessoa negra entre os selecionados. Desta vez o banco alegou "coincidência", para justificar seu racismo.


Em sua consta no Instagram (@badgallore) Lorena relatou os fatos e falou de como se sentiu ofendida com a conduta do Banco Itau e dos policiais que a interrogaram sobre o seu companheiro, o Dj Renan da Penha, preso injustamente no ano de 2019.

A esperança que fica neste caso é que, como em 1955 quando Rosa Parks foi presa por se negar a ceder para o segregacionismo num ônibus nos EUA, nós negros brasileiros possamos REALMENTE deixar de dar o nosso dinheiro para um banco que foi explicitamente racista com uma mulher negra. E não que as demais instituições financeiras do país não sejam, são. Mas se não começarmos de algum lugar, nos revoltaremos quando?

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

NÃO É PORQUE EU GOSTO DE MULHER QUE EU VOU DAR EM CIMA DE VOCÊ

janeiro 15, 2020 0
Precisamos falar sobre a autoestima elevada da mulher hétero.


Guardadas as devidas proporções reservadas às mulheres negras e as não negras, numa sociedade racista que joga nossa autoestima no lixo cotidianamente, ainda assim é necessário falar da autoestima hétero. E falo aqui de um lugar muito específico: a mulher que se declarava heterossexual e representava muito bem este estereótipo.

A culpa disso, acredito eu, é de pensarmos todas as relações como pensamos as relações entre a masculinidade tóxica e as mulheres. Mas, mulheres se amam — geralmente — não se comportam como predadoras. 

Nós geralmente somos criadas dentro da heteronormatividade compulsória. Nasceu menina, vai usar rosa, usar vestido e, claro, gostar de meninos. Não consideramos as variantes do gênero muito menos a diversidade sexual quando nasce uma menina. E é nesse padrão que somos criadas. Quem nunca ouviu na infância que se um menino era agressivo com você era porque ele gostava de você? Eu ouvi muito! Lembro da minha primeira experiência com o gostar violento dos meninos, eu tinha uns 10 anos e aprendi que se aquele menino me agredia era o jeito dele demonstrar amor. E é dentro desta lógica de heteronormatividade violenta e agressiva que muitas de nós cresceram. Logo, é comum que projetemos este modelo de relação em qualquer ser humano que se relacione com mulheres. Mas, acredite, eu tô aqui para te contar que não é sempre assim!

E pasme, isso ocorre não porque mulheres sejam seres sagrados e perfeitos, incapazes de serem abusivas. Somos, podemos ser se não cuidarmos. Mas, não é a regra. 

Homens heterossexuais geralmente não gostam de mulheres. Aceite. Repudiam nosso cheiro, nossa forma, nossos traços físicos — e se eu entrar na seara de ser uma mulher negra, piora — e nosso intelecto. Homens geralmente não leem mulheres, não ouvem mulheres, não conversam com mulheres sem intenção sexual e são capazes de jurar que gostam de mulher. "Mano, não gosta, teu amor você guarda pros teus brothers da bunda cabeluda!"

E quando somos criadas dentro dessa lógica insana de violência e repulsa para com mulheres tendemos a acreditar que só existe essa maneira predatória de lidar e se relacionar. Mas, para a nossa felicidade, existem outras.

A VIOLÊNCIA E O COMPORTAMENTO PREDATÓRIO NÃO SÃO AS ÚNICAS MANEIRAS DE AMAR MULHERES. E quando a gente entende isso fica fácil entender outra coisa: NÃO É PORQUE EU GOSTO DE MULHER QUE EU VOU DAR EM CIMA DE VOCÊ, SÓ PORQUE VOCÊ É MULHER!

Acostumadas com a lógica predatória da masculinidade tóxica para com as mulheres heterossexuais elas aplicam à nós mulheres que gostam de mulheres — e muito, graças a Deus — a mesma lógica violenta e predatória da maioria dos homens. Mas, mais uma vez, não é assim que a banda toca.

Aliás este texto, como você já deve ter percebido, é sobre várias coisas que você achou que eram mas na verdade não são. Mulheres que gostam de mulheres não são homens. Homens são homens, mulheres são outro patamar. E, antes que você ache que mulheres são perfeitas, volte algumas linhas neste texto e entenda, a função de tudo isto não é romantizar relações entre mulheres — que podem também ser abusivas.

Quando uma mulher gosta sexualmente de outras mulheres isto não significa que ela enxerga todas as mulheres do mundo como um pedaço de carne pronto para ser comido. Essa é uma lógica machista,  patriarcal e, por mais que algumas mulheres possam sim reproduzir esta lógica, essa é a forma como a masculinidade violenta se organiza e o princípio básico para que você seja a base disso é ser homem. Claro que existem outras formas de viver a masculinidade e vários homens tem se proposto a discutir isso mas está muito mais provável que mulheres façam diferente — por princípio, já que não são homens — do que os próprios. 

Isso quer dizer que não é a regra que mulheres saim por ai querendo meter os seus dedos em todo o buraco só para provar que são comedoras. Não é a regra que mulheres vejam todas as outras mulheres como seu lugar de masturbação, apenas um buraco para satisfazer seus prazeres sexuais. 

Um parênteses aqui, pretendo logo escrever um texto sobre a não romantização das  relações entre mulheres, a gente pode querer só sexo algumas vezes e TÁ TUDO BEM, VIU, MIGA? Mas fica para outra hora.

Entender sobre consentimentos, sobre respeitar espaços, sobre conseguir ouvir o que o outro ser humano está dizendo pode não parecer difícil, mas numa sociedade machista ouvir e sentir mulheres parece ser uma atitude impossível para alguns homens.

Por fim o que importa aqui é que não somos nós mulheres que vivemos nessa lógica predatória, logo, você mulher heterossexual pode ficar bem tranquila, a gente não vai dar em cima de você só porque a gente gosta de mulher. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O PODER TRANSFORMADOR E A FORÇA DO ÓDIO

dezembro 18, 2019 2
Conversar com uma pessoa que nasceu, cresceu, viveu e para sempre vai viver numa pele que não representa uma ameaça à ela chega a ser quase uma experiência antropológica para uma pessoa negra. Eu, mulher negra e com um alvo nas costas há 28 anos não sei o que é viver sem medo. Nunca soube, mesmo quando eu não sabia de onde vinha o medo que sentia. O ódio é a linguagem com a qual pessoas negras são educadas e, perceba, não estou aqui falando dos nossos lares, do nosso local de segurança, estou falando de uma estrutura social que conversa com pessoas negras através do ódio e somente ele. Frantz Fanon, psiquiatra martinicano que escreveu “Os Condenados da Terra”, título publicado em 1961, tratou em sua obra da linguagem da violência aplicada pelo sistema colonial aos corpos e mentes negras, durante a guerra de libertação da Argélia. Fanon analisa ali um contexto sendo contemporâneo da repressão colonial, mas peço licença para analisar o contexto brasileiro aos olhos do psiquiatra.


Imagem: Getty Images
Ter a tranquilidade de poder não sentir ódio é, com toda a certeza, um privilégio.
Todos os dias lemos notícias de injustiças, desmandos e ataques diretos às pessoas negras e periféricas. Ao pensar na Indústria da Cultura, segundo o filósofo Adorno, é possível ver qual o papel da mídia na hora de formar e tranquilizar uma sociedade em relação às suas mazelas, mas, e quando a indústria da cultura é pensada para amenizar apenas “um lado” da história? O sistema colonial faz o trabalho de manter dóceis alguns membros da sociedade que, mesmo sendo negros, não conseguem se revoltar contra o sistema. Mas, aí é que está, nem todos nós conseguimos nos anestesiar.

Quando você cresce sem a necessidade de se revoltar com um sistema que foi feito para atrasar, oprimir e matar (no extremo do genocídio negro) a única coisa que lhe garantiria o mínimo de incômodo com a situação de quem sente essa necessidade é uma formação ideológica bastante refinada (referência ao antropólogo Kabengele Munanga, em seu livro “Negritude: Usos e Sentidos") mas numa sociedade criada sob a falsa ideia de uma democracia racial e a cordialidade entre as diferentes raças (do ponto de vista social e não biológico), fica muito difícil criar em pessoas não negras essa revolta inata que nasce com as pessoas negras. Já está mais do que provado que biologicamente o conceito de raça não se sustenta, em especial para explicar as diferenças entre pessoas, mas, socialmente o conceito existe e é forte, por isso é impossível não falar de racismo na hora de identificar as diferenças sociais entre pessoas negras e brancas num país como o Brasil. 

Raça aqui é fator determinante. E, quanto mais escuro, mais decisivo é este fator na vida das pessoas. A pigmentocracia no Brasil é real. 

Pessoas negras são o alvo direto da necropolítica atualmente instalada no Brasil. Criar um inimigo para poder exterminá-lo com aprovação de várias camadas da sociedade não é novo, mas vem se fortalecendo cada dia mais e mais. E nós, pessoas negras minimamente conscientes, nos revoltamos com isso, odiamos isso. Daí, voltamos a Fanon, se é com ódio que dialogam conosco, qual será a linguagem usaremos para responder aos ataques, se não o mesmo ódio?

Odiar é normal e esperado quando nossos corpos são alvo diariamente deste ódio social.

E é a colonialidade que tem a missão de manter domesticado este ódio.
Evocar a paz e a “civilidade” diante da raiva e indignação de pessoas negras com a violência sistematizada é, no mínimo, desrespeitoso. Confundir a reação do oprimido com a violência do opressor é também desrespeitoso para com quem não conhece outra linguagem de tratamento a não ser a violência. 
A sociedade espera o que além disso de quem é criado para saber que deverá se submeter ao ódio?

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

SANKOFA: É SEMPRE POSSÍVEL VOLTAR AO PASSADO PARA RESSIGNIFICAR O PRESENTE

novembro 08, 2019 0
Resenha crítica apresentada ao curso de Literatura Afro Brasileira - Literafro, da formação transversal em Relações Étnico-raciais e História da África e Cultura Afro-brasileira¹.

Imagem de Pexels por Pixabay

Eduardo Assis Duarte graduou-se em Letras pela UFMG em 1973, é mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro e doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada, pela USP desde 1991. Aposentado desde 2005, mantém vínculo voluntário com a UFMG, atuando como professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Letras. Participa do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade - NEIA e coordena o Literafro Portal da Literatura Afro-brasileira.
O artigo Margens da história: a revisitação do passado na ficção afro-brasileira, que foi publicado em 2015 e hoje encontra-se disponível no portal Literafro, trata sobre a característica de discurso sociológico do romance afro-brasileiro, pensando na perspectiva política na qual estes autores estão inseridos.
A escrita literária afro-brasileira, ou mais recentemente “negro-brasileira”, é marcada pelo resgate de um passado que, para uma certa camada da nossa sociedade, já passou de fato. Mas que para aqueles que identificam o local da sua escrita como literatura negro-brasileira, esse passado ainda precisa ser discutido, revisitado e rememorado para ter uma espécie de solução ou o mais próximo disto. Este local da escrita da literatura afro-brasileira é também outro marcador importante na tarefa de descartar o mito da imparcialidade de quem escreve. Mito este que é geralmente invocado sob a justificativa - parcial - de que estas são questões identitárias, no entanto, Duarte fala da importância de debater estas questões, e é quando o romance ganha um viés de “documento sociológico” (Jean-Yves Mérian - 2000). 
A memória é usada na literatura tanto como chave de leitura do público que encara esta obra, como na composição dos personagens e as narrativas de suas histórias. Memórias coletivas do povo são levadas em consideração 
"O texto de Nei Lopes mescla falas e tempos distintos, num dialogismo entre passado e presente que dá ao conto ares de crônica histórica inusitada e plural."
A memória traumática de uma escravidão ainda que não vivenciada diretamente mas sentida graças aos elos atemporais que são construídos com seus semelhantes, o tal eu mais amplo (DUARTE, 2019) é uma construção que muitas vezes se dá através da escola e colegas de turma, desde a infância até adultos.
"À memória traumática da escravização acrescenta-se a da leitura enviesada produzida pelo discurso pedagógico, que faz da escola aparelho ideológico disseminador do racismo."
Este reconhecimento do seu semelhante na memória também é debatido pela autora Vilma Piedade em sua obra, Dororidade. Falando especificamente do Feminismo Negro a autora, fazendo uma referência a Sororidade, traz a discussão sobre como mulheres negras se reconhecem e se solidarizam a partir da dor. 
Memórias de crueldade que estariam relegadas ao esquecimento ganham registros e forma, a partir da voz do lado “vencido” da história
"O texto se faz ainda com o depoimento dos pretos velhos, tornado causo e lembrado pelos mais jovens. Nestes momentos o tom sobe e a crueldade do passado aflora sem meias palavras."
Desta forma a história oral, que acaba não resistindo muito ao tempo, devido as suas limitações intrínsecas, acaba ganhando um registro bastante duradouro dentro destes romances históricos.
O autor também procura demonstrar as consequências de séculos de exploração, escravidão, racismo e violências várias, 
"Suas atitudes resultam de um passado que não se restringe à individualidade. Remontam ao processo que atinge corpo e identidade negros submetidos ao rebaixamento histórico que os exclui dos padrões de beleza oriundos da branquitude."
Para Duarte a literatura afro-brasileira contribui para a humanização e a fuga dos estereótipos do negro, 
"O tom anti-laudatório propicia, por outro lado, a recusa ao discurso da vitimização pura e simples do negro."
E demonstra que o que houve na verdade foi a desumanização de um sistema e não dos sujeitos que, embora violentados, continuavam sendo seres humanos, com seus defeitos e qualidades, seu lado bom e lado ruim, como todo ser social. Não ficando condicionados ao lugar de monstros, vítimas ou infans. 
Estes são romances que ambientam e humanizam favelas, ocupações, morros, senzalas e espaços marginais da sociedade que são majoritariamente ocupados por pessoas negras, além de ser também um espaço para que aqueles que professam religião de matriz africana possam falar de sua fé sem estarem rodeados pelos estereótipos e sensacionalismos da escrita não-negra.
A literatura afro-brasileira é então um espaço político de afirmação, reafirmação, retorno e avanço ao mesmo tempo para os escritores que fazem parte desta comunidade, com um propósito real de resgate e registro de todos os aspectos que rodeiam a nossa população. 
Humanizar é tirar o véu da colonização, ao escrever suas próprias histórias e memórias históricas, o literato afro-brasileiro insere sua obra num local de resistência política há um apagamento sistêmico ou o “memoricídio” da história desta parte da população.


¹ In: SISCAR, Marcos; NATALI, Marcos (Org.). Margens da democracia: a literatura e a questão da
diferença. Campinas, SP / São Paulo, SP: Editora da Unicamp / Editora da USP, 2015, p. 167-189.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUARTE, Eduardo Assis. Margens da história: A revisitação do passado na ficção afro-brasileira. 2019. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/151-eduardo-de-assis-duarte-margens-da-historia>. Acesso em: 05 out. 2019.

FANON, Frantz. Guerra colonial e distúrbios mentais. In: FANON, Frantz. Os condenados da terra. Juiz de Fora: Editora Ufjf, 2015. Cap. 5. p. 285-358. Tradução de: Les damnés de la terre.

GONZALES, Lélia. RACISMO E SEXISMO NA CULTURA BRASILEIRA. Ciências Sociais Hoje: ANPOCS, São Paulo, v. 5, n. 8, p.223-244, nov. 1984. Anual. VII Encontro Anual da ANPOCS. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20-%20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2019.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

"a solidão da mulher negra..." É UMA PAUTA QUE PRECISA SER SUPERADA LOGO

outubro 29, 2019 1

"A pauta da solidão da mulher negra precisa ser superada. Acho que já chegou a hora de unificar os movimentos..."

Imagem de TréVoy Kelly por Pixabay
Esta foi fala de um homem sobre o assunto dado momento numa aula de literatura afro brasileira. Aula esta em que se discutia a importância de marcar o lugar do negro dentro da literatura através da identidade "afro" de seus escritos e de como é fundamental lutar pela demonstração de um lugar bastante específico onde está localizada a literatura negra.

O curioso caso das pautas menos importantes, que devem ser sublimadas e superadas. E que coincidentemente afetam diretamente as mulheres pretas.

Esta não é a única pauta negra e feminina que é silenciada, mas cabe aqui pensar o quanto são tratadas como conversas de boteco – e estas também têm lá sua importância – as pautas da militância negra feminina. A nossa estética enquanto ato político, as nossas relações afetivas, os nossos corpos e vontades... Tudo ficando abaixo de uma lógica patriarcal e machista que considera menos importante pautas que para nós também são importantes.

Como já discutimos aqui, num dos posts mais lidos deste blog, A SOLIDÃO DA MULHER NEGRA NÃO É SÓ AFETIVA, no entanto existe também uma discussão fundamentada sobre esta solidão da mulher negra e sempre cito a dissertação da Claudete Alves da Silva, abrindo os caminhos (até onde sei) em 2008 na PUC SP. Esta discussão que tem sido cada dia mais aprofundada por mulheres negras é nossa episteme, é nossa produção intelectual sobre as mazelas que nos afetam. Acaso alguém pede para que deixemos de discutir as teorias de Michel Foucault sobre o corpo e a relação da sociedade com a punição, violência? Alguém tem dúvidas de que é preciso discutir e entender a necropolítica como uma política de estado existente? Não, absolutamente. Mas, aquilo que nos é caro pode ficar para depois?

"A mulher Negra precisa entender que ela pode ser feliz sem homem..."

Essa frase tem tantos problemas que é difícil saber de onde começar, mas, vamos lá, discutir ponto por ponto até que fique perceptível que a solidão da mulher negra não é falta de pau ou de homem!

A começar pelo problema da heteronormatividade desta ideia de que a mulher que reclama de solidão está necessariamente reclamando da falta de um parceiro do sexo masculino. Em primeiro lugar porque mulheres são diversas, inclusive nas suas condições sexuais e – graças a Deusa – muitas destas mulheres também amam outras mulheres. Tratar sobre a solidão da mulher negra não é sobre um discurso cristão culpabilizador de uma figura, neste caso o homem negro, da nossa solidão. Não mesmo, está bem longe disso.

Outro ponto levantado é que "não existe uma solidão específica da mulher negra, solidão é solidão". Esta é uma frase rasa e muito fácil de ser explicada, afinal, as mulheres não são todas iguais, nem mesmo as mulheres negras são todas iguais e juntar tudo no mesmo saco é invisibilizar pontos importantes para várias destas mulheres. Mulheres negras não são garrafas de coca cola e a gente precisa parar pensar que são. As várias vertentes do feminismo, para aquelas que são feministas, ou os vários outros grupos que unem mulheres em torno de causas são diversos e são várias pautas discutidas sempre, nossa solidão tem nome e sobrenome porque aprendemos depois de muita luta dar nome e voz aos nossos sentimentos.

Mulheres negras estão abandonadas pelo Estado, dizer isso é dizer que nós somos as que mais morremos por violência obstétrica, por exemplo. Maria do Carmo Leal, que coordenou a pesquisa Nascer Nas Prisões, em entrevista ao site do Instituto Fio Cruz fala do racismo explicito no sistema de saúde que leva a ter entre as mulheres negras o maior número de vítimas de violência obstétrica. 

Falta de insumos, medicamentos, profissionais desestimulados com a falta de condições mínimas para trabalhar, aliado ao aumento da pobreza das classes populares, todos juntos podem contribuir para o atraso (por falta de dinheiro) na chegada à maternidade e, uma vez dentro dos serviços de saúde pode se defrontar com dificuldades ou insuficiências para dar a resposta adequada. A Mortalidade Materna é maior em mulheres negras, as mais vulneráveis socialmente e essa é outra coisa inadmissível, que tenhamos discriminação expressa nos nossos indicadores de saúde. É triste estarmos assistindo o aumento da mortalidade materna, infantil, de queda nas coberturas de imunização e epidemias. Não podemos aceitar que depois de tantas conquistas, estejamos caminhando para trás” (leia a entrevista completa AQUI)

Isto é mais da solidão que falo aqui, a solidão que extrapola o campo afetivo, a solidão que mata. Mulheres negras tem sua saúde mental violentada constantemente, o racismo está aí – para homens e mulheres, é bem verdade – acompanhado do machismo para nos tirar do eixo diariamente. Lélia Gonzalez fala rapidamente em seu capítulo do livro "Lugar de Negro" sobre esta dificuldade daquela parcela masculina da militância de aceitar as mulheres, tão resolutivas quanto eles, discutindo sobre a sua solidão dentro do MNU. 

O que estamos debatendo enquanto coletivo é tudo pertinente. Se para Lélia Gonzalez toda pessoa negra deveria ser um centro de luta, porque respeitamos as pautas de uns centros e outros não? Quais os fatores fazem com que as pautas de mulheres negras sejam tão relativizadas pelos seus pares? Se estendermos isto para as mulheres negras que fazem parte da comunidade LBT o cenário piora, são vária opressões que se cruzam no gênero, raça e na orientação sexual destas mulheres.

Continuaremos discutindo e esmiuçando o assunto, primeiro porque teorias importantes estão sendo formuladas nestes campos e não se apaga a produção intelectual de mulheres pretas só porque alguém se cansou da pauta. E segundo, não menos importante, tudo que existe só existe porque tem um nome. Logo, marcar o local da mulher negra nesta discussão é importante para que, depois de visibilizada, a pauta continue gerando os incômodos necessários que levam a discussão do tema.

sábado, 14 de setembro de 2019

AS PALAVRAS DE MULHERES NEGRAS SÃO ATRAVESSADAS DE SILÊNCIO

setembro 14, 2019 0
Resenha crítica apresentada ao curso de Literatura Afro Brasileira - Literafro, da formação transversal em Relações Étnico-raciais e História da África e Cultura Afrobrasileira¹.
1 - Míriam Alves, Geni Guimarães e Aline França (Autoras Afrobrasileiras).

Moema Parente Augel possui graduação em Letras Neolatinas pela UFBA (1961), mestrado em Ciências Humanas também pela UFBA em 1974 e doutorado em Letras Vernáculas pela UFRJ em 2005, desde a sua formação esteve atuando principalmente com literatura e cultura guineenses, literatura afro-brasileira e literatura de viagem (séc. XIX). É professora aposentada, tendo lecionado Português e Cultura Brasileira nas Universidades de Bielefeld e Hamburgo ambas na Alemanha. O texto analisado nesta resenha foi publicado originalmente em 1996 e republicado pelo site Literafro.
Ao longo do artigo a autora recupera autoras negras que tem bastante marcadas em sua sua escrita características que Augel descreve como “próprias” da escrita de mulheres negras, tais como a busca pela autodefinição, contar sobre as próprias vivências, experiências, uma espécie de convocatória de outras pessoas negras para se pensar racialmente e também o convite aos não negros de refletirem sobre as dores de viver numa sociedade cuja cor da pele determina maior ou menor sofrimento social.

O falar sobre ser negra em todos os seus aspectos tais como a negritude, estética, lugar social, implicações de classe, traz junto da ação política disto a conscientização de tomar a atitude de reclamar este lugar e deixar de ser, portanto, a periferia de uma fala branca para tornar-se o centro da própria fala, neste caso através da literatura.

O silenciamento dos personagens negros significa também o aumento da repercussão da voz de sujeitos eurocêntricos que com seu discurso escondem o passado escravocrata brasileiro, bem como as violências físicas, psicológicas e epistêmicas praticadas contra o sujeito negro. O silenciamento seria portanto mais uma violência retroalimentando e mantendo outras que são praticadas contra a população afrobrasileira. Esta população que segundo Augel se revolta através da escrita, como demonstrado nas citações de três autoras com maior destaque por Augel.

A autora cita a produção Cadernos Negros como uma publicação que dá voz à escritores negros. É importante ressaltar que esta publicação pode repercutir a voz destes, que já têm voz própria (SPIVAK, 2014) e em forma de um coletivo autônomo fazem com que as suas vozes sejam reverberadas de maneira ampla entre aqueles que leem a publicação. Mas a voz já é destes indivíduos, primariamente, mesmo que inicialmente não conseguissem completar a dialética de falar e ser ouvido (SPIVAK, 2014). Para citar um exemplo contemporâneo de produções como o Cadernos Negros podemos lembrar da coleção Feminismo Plurais trazida pela filósofa Djamila Ribeiro, embora haja diferenças importantes, como por exemplo o tino totalmente comercial dado a coleção feita com recursos privados e suporte de uma editora formal. No caso dos Cadernos Negros Augel inclusive frisa o fato da produção ser totalmente financiada pelos próprios autores contidos em cada volume. 

O “eu” encontrado nas produções negras, para a autora, seria o eu poético que, segundo Stuart Hall é uma construção do século XIX em relação do mundo moderno, "um sujeito em relação com os outros" (AUGEL, 1996), o tal sujeito sociológico acrescido das emoções advindas da experiência de ser negro ou das memórias ancestrais carregadas pelos que descendem da origem africana. O eu poético é aquele que mistura identidade e individualidade com a sensação em relação ao externo, a sua coletividade.

Augel destrincha então trecho de obras de três autoras da literatura afro-brasileira, são elas: Míriam Alves, Geni Guimarães e Aline França. Cada uma com suas características e pontos de destaque são pensadas por Augel como representantes desta escrita feminina e negra. A escrita específica da mulher negra vem para confrontar certos estereótipos racistas que são impostos a este grupo social. Uma literatura marcada muitas vezes por denúncias, um dos temas destacados pela autora seria esta “dupla colonização”, ou seja, a opressão por gênero e raça sofrida por mulheres negras e sinalizada em suas produções. A escrita das mulheres negras seria então uma elaboração que reflete uma identidade marcada por raça e gênero, ao mesmo tempo, mas que também fala da vida cotidiana, de maternidade, sexualidade e assuntos que “normalizam” a existência negra.

O embranquecimento social é um risco que a pessoa negra corre ao tentar acessar ou ascender socialmente numa sociedade racista (FANON, 1952), para isto serve como ferramenta do racismo o auto silenciamento que acaba sendo local seguro para uma auto colonização. O sujeito negro procura reprimir suas características para caber num padrão branco que está dado automaticamente. Em especial risco estão as mulheres negras que para fugir do local hiperssexualizado no qual são colocadas, acabam assumindo este outro lugar onde são oprimidas e contidas. Como ferramenta de luta contra isto está o autorreconhecimento e a colocação as vezes forçada do “eu” negro em certos espaços como a literatura. Isto promove mudanças de estrutura nos indivíduos negros e na sociedade racista, o que Augel chama de mecanismo de descentramento (AUGEL, 1996). A literatura feita por mulheres negras acaba ocupando um espaço de construtora de uma autoestima coletivizada.

Recuperar estas autoras seria subverter a ordem da historiografia brasileira que coloca como cânone o que é masculino, branco e eurocêntrico. Quando são colocadas as figuras negras como “normais”, como é o caso da escrita de Geni Guimarães ou mesmo quando são colocadas como seres fantásticos e poderosos, como no romance de Aline França, ocorre um deslocamento do senso comum sobre o negro e isto é positivo para o coletivo. A literatura neste caso está sendo utilizada “como um instrumento de transformação de uma realidade que nega o direito à especificidade, enquanto indivíduo e enquanto coletivo” (AUGEL, 1996).

¹ Versão alargada do artigo: "Quando elas rompem o silêncio. Literatura feminina afro-brasileira”, in: Lusorama. Zeitschrift für Lusitanistik: Revista de Estudos sobre os países de Língua Portuguesa, Frankfurt, FFM, n°30, p. 5-25, jun.1996. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/157-moema-parente-augel-e-agora-falamos-nos>. Acesso em: 19 ago. 2019.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. 111 p. (Justificando).

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 3. ed. Belo Horizonte: Ufmg, 2014. 174 p. Tradução de: Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa.

XAVIER, Giovana. Ciência, lugar de fala e mulheres negras na academia: A solução do problema brasileiro passa pela construção de novas epistemologias e pela necessidade de localizar o saber que se produz na ciência. 2018. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2018/Ci%C3%AAncia-lugar-de-fala-e-mulheres-negras-na-academia>. Acesso em: 25 ago. 2018.

AUGEL, Moema Parente. “E Agora Falamos Nós”: Literatura Feminina Afro-Brasileira. 2018. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/157-moema-parente-augel-e-agora-falamos-nos>. Acesso em: 04 set. 2019.

FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: Edufba, 2008. 193 p. Tradução e Revisão de Texto Renato da Silveira. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2013/08/Frantz_Fanon_Pele_negra_mascaras_brancas.pdf>. Acesso em: 04 set. 2019

AS PALAVRAS DE MULHERES NEGRAS SÃO ATRAVESSADAS DE SILÊNCIO

setembro 14, 2019 0
Resenha crítica apresentada ao curso de Literatura Afro Brasileira - Literafro, da formação transversal em Relações Étnico-raciais e História da África e Cultura Afrobrasileira¹.
1 - Míriam Alves, Geni Guimarães e Aline França (Autoras Afrobrasileiras).

Moema Parente Augel possui graduação em Letras Neolatinas pela UFBA (1961), mestrado em Ciências Humanas também pela UFBA em 1974 e doutorado em Letras Vernáculas pela UFRJ em 2005, desde a sua formação esteve atuando principalmente com literatura e cultura guineenses, literatura afro-brasileira e literatura de viagem (séc. XIX). É professora aposentada, tendo lecionado Português e Cultura Brasileira nas Universidades de Bielefeld e Hamburgo ambas na Alemanha. O texto analisado nesta resenha foi publicado originalmente em 1996 e republicado pelo site Literafro.
Ao longo do artigo a autora recupera autoras negras que tem bastante marcadas em sua sua escrita características que Augel descreve como “próprias” da escrita de mulheres negras, tais como a busca pela autodefinição, contar sobre as próprias vivências, experiências, uma espécie de convocatória de outras pessoas negras para se pensar racialmente e também o convite aos não negros de refletirem sobre as dores de viver numa sociedade cuja cor da pele determina maior ou menor sofrimento social.

O falar sobre ser negra em todos os seus aspectos tais como a negritude, estética, lugar social, implicações de classe, traz junto da ação política disto a conscientização de tomar a atitude de reclamar este lugar e deixar de ser, portanto, a periferia de uma fala branca para tornar-se o centro da própria fala, neste caso através da literatura.

O silenciamento dos personagens negros significa também o aumento da repercussão da voz de sujeitos eurocêntricos que com seu discurso escondem o passado escravocrata brasileiro, bem como as violências físicas, psicológicas e epistêmicas praticadas contra o sujeito negro. O silenciamento seria portanto mais uma violência retroalimentando e mantendo outras que são praticadas contra a população afrobrasileira. Esta população que segundo Augel se revolta através da escrita, como demonstrado nas citações de três autoras com maior destaque por Augel.

A autora cita a produção Cadernos Negros como uma publicação que dá voz à escritores negros. É importante ressaltar que esta publicação pode repercutir a voz destes, que já têm voz própria (SPIVAK, 2014) e em forma de um coletivo autônomo fazem com que as suas vozes sejam reverberadas de maneira ampla entre aqueles que leem a publicação. Mas a voz já é destes indivíduos, primariamente, mesmo que inicialmente não conseguissem completar a dialética de falar e ser ouvido (SPIVAK, 2014). Para citar um exemplo contemporâneo de produções como o Cadernos Negros podemos lembrar da coleção Feminismo Plurais trazida pela filósofa Djamila Ribeiro, embora haja diferenças importantes, como por exemplo o tino totalmente comercial dado a coleção feita com recursos privados e suporte de uma editora formal. No caso dos Cadernos Negros Augel inclusive frisa o fato da produção ser totalmente financiada pelos próprios autores contidos em cada volume. 

O “eu” encontrado nas produções negras, para a autora, seria o eu poético que, segundo Stuart Hall é uma construção do século XIX em relação do mundo moderno, "um sujeito em relação com os outros" (AUGEL, 1996), o tal sujeito sociológico acrescido das emoções advindas da experiência de ser negro ou das memórias ancestrais carregadas pelos que descendem da origem africana. O eu poético é aquele que mistura identidade e individualidade com a sensação em relação ao externo, a sua coletividade.

Augel destrincha então trecho de obras de três autoras da literatura afro-brasileira, são elas: Míriam Alves, Geni Guimarães e Aline França. Cada uma com suas características e pontos de destaque são pensadas por Augel como representantes desta escrita feminina e negra. A escrita específica da mulher negra vem para confrontar certos estereótipos racistas que são impostos a este grupo social. Uma literatura marcada muitas vezes por denúncias, um dos temas destacados pela autora seria esta “dupla colonização”, ou seja, a opressão por gênero e raça sofrida por mulheres negras e sinalizada em suas produções. A escrita das mulheres negras seria então uma elaboração que reflete uma identidade marcada por raça e gênero, ao mesmo tempo, mas que também fala da vida cotidiana, de maternidade, sexualidade e assuntos que “normalizam” a existência negra.

O embranquecimento social é um risco que a pessoa negra corre ao tentar acessar ou ascender socialmente numa sociedade racista (FANON, 1952), para isto serve como ferramenta do racismo o auto silenciamento que acaba sendo local seguro para uma auto colonização. O sujeito negro procura reprimir suas características para caber num padrão branco que está dado automaticamente. Em especial risco estão as mulheres negras que para fugir do local hiperssexualizado no qual são colocadas, acabam assumindo este outro lugar onde são oprimidas e contidas. Como ferramenta de luta contra isto está o autorreconhecimento e a colocação as vezes forçada do “eu” negro em certos espaços como a literatura. Isto promove mudanças de estrutura nos indivíduos negros e na sociedade racista, o que Augel chama de mecanismo de descentramento (AUGEL, 1996). A literatura feita por mulheres negras acaba ocupando um espaço de construtora de uma autoestima coletivizada.

Recuperar estas autoras seria subverter a ordem da historiografia brasileira que coloca como cânone o que é masculino, branco e eurocêntrico. Quando são colocadas as figuras negras como “normais”, como é o caso da escrita de Geni Guimarães ou mesmo quando são colocadas como seres fantásticos e poderosos, como no romance de Aline França, ocorre um deslocamento do senso comum sobre o negro e isto é positivo para o coletivo. A literatura neste caso está sendo utilizada “como um instrumento de transformação de uma realidade que nega o direito à especificidade, enquanto indivíduo e enquanto coletivo” (AUGEL, 1996).

¹ Versão alargada do artigo: "Quando elas rompem o silêncio. Literatura feminina afro-brasileira”, in: Lusorama. Zeitschrift für Lusitanistik: Revista de Estudos sobre os países de Língua Portuguesa, Frankfurt, FFM, n°30, p. 5-25, jun.1996. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/157-moema-parente-augel-e-agora-falamos-nos>. Acesso em: 19 ago. 2019.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. 111 p. (Justificando).

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 3. ed. Belo Horizonte: Ufmg, 2014. 174 p. Tradução de: Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa.

XAVIER, Giovana. Ciência, lugar de fala e mulheres negras na academia: A solução do problema brasileiro passa pela construção de novas epistemologias e pela necessidade de localizar o saber que se produz na ciência. 2018. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2018/Ci%C3%AAncia-lugar-de-fala-e-mulheres-negras-na-academia>. Acesso em: 25 ago. 2018.

AUGEL, Moema Parente. “E Agora Falamos Nós”: Literatura Feminina Afro-Brasileira. 2018. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/157-moema-parente-augel-e-agora-falamos-nos>. Acesso em: 04 set. 2019.

FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: Edufba, 2008. 193 p. Tradução e Revisão de Texto Renato da Silveira. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2013/08/Frantz_Fanon_Pele_negra_mascaras_brancas.pdf>. Acesso em: 04 set. 2019

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