domingo, 22 de outubro de 2017

FEMINISMO NEGRO: CADA UMA COM A SUAS OPRESSÕES E DEMANDAS

outubro 22, 2017 0
Uma coisa é fato, se declarar uma mulher feminista sendo uma mulher negra não é fácil, é pesado e carrega um fardo que nem todas conseguem, ou mesmo querem, carregar. Uma das discussões que mais me afeta e me faz ficar atenta é a discussão quanto à liberdade dos nossos corpos e o peso da objetificação sobre a nossa liberdade. Se posicionar politicamente como uma mulher feminista é, embora não devesse ser, uma missão difícil e por vezes cheia de ressalvas, quando se é uma mulher negra a ressalva vem quase sempre acompanhadas da necessidade de explicar que há sim um outro feminismo, negro e que abarca outras pautas muito diferentes.
Primeiro, é preciso deixar bem claro que se rotular ou não feminista não faz muita diferença quando se é pelas mulheres e quando se tem ao menos consciência de que vivemos numa sociedade historicamente machista, o feminismo não precisa de gente "falando" mais do que precisa de gente fazendo. Toda a nossa produção cultural e social e masculina, branca, heteronormativa e, muitas vezes, eurocêntrica, então ter consciência disto e enxergar que é necessário uma mudança estrutural não te obriga necessariamente a se declara feminista, o feminismo também tem a ver com você, mulher, poder fazer o que quiser. Dito isto, outra coisa se faz importante: antes de ser lida como mulher nós negras somos lidas como PRETAS e na nossa sociedade isso vem primeiro determinando a forma como o mundo se relaciona conosco no público e no privado. Enquanto as Sufragistas lutavam lá no final do século XIX por direitos feministas, entre eles o voto, as mulheres negras buscavam ainda o direito de serem enxergadas como humanas, depois mulheres e, depois quem sabe, almejarem o direito ao voto e isto falando do contexto no Reino Unido, para nem dizer que até 1888 as mulheres negras brasileiras estavam em regime de escravidão.
Angela Davis, em seu livro publicado pela editora Boi Tempo, "Mulheres, Raça e Classe", trata no primeiro capítulo sobre a "não feminilidade" (com licença para chamar assim) das mulheres negras estadunidenses no período da escravidão. Além de descrever sobre a rotina destas mulheres, fala sobre os papéis masculinos e femininos que, para quem explorava mão de obra escrava, era praticamente a mesma coisa na hora de desempenhar as tarefas imputadas pela escravidão.
Dito tudo isto, é diante deste contexto que eu me pego a analisar o nu da mulher negra e como isto não seria um símbolo de liberdade dentro da nossa história. O corpo da mulher negra, sempre foi tratado como mercadoria, muito barata, diga-se de passagem, e isto é inegável, objetificação, as vendas, os estupros, tudo isto estão no nosso passado, no nosso presente e, a menos que continuemos lutando, também no nosso futuro. O nosso corpo "nu" não é revolucionário, basta conhecer um pouco da história das nossas ancestrais para pensar sobre isto e não falo aqui do nu "abstrato", "poético", fotos que inclusive tem o poder muitas vezes de resgatar a essência da nossa beleza, não é isto. Falo das fotos "peladas" mesmo, "no seco", o famoso "MANDA NUDES!".
Não é preciso ir muito longe da nossa realidade para enxergar que a mulher negra é objetificada e a sociedade normalizou isto, a imagem da globeleza besuntada em óleo e purpurina é comum e aceita pelo nosso imaginário social, assim, a mulher negra vai sendo culturalmente perpetuada nesse papel de "mulata sensual" e, como há séculos nosso corpo vem sendo exposto, se colocar de novo nesse papel de "carne exposta" não é nenhuma novidade revolucionária. Isto não quer dizer, claro, que seja proibido, mas, não é uma pauta negra assim como das mulheres brancas, buscar poder andar com o corpo descoberto assim como os homens, lembram-se de Angela Davis citada acima? Nós já estávamos sendo equiparadas aos homens há bastante tempo. Não é uma questão de ter pautas melhores ou piores, quem sofre mais ou menos, não é uma "Olimpíada de Opressão" e não estamos aqui para disputar quem sofre mais, mas, é preciso enxergar que existem sim opressões diferentes e tratar do discurso como "somos todas vítimas da mesma opressão" é apagar pautas de mulheres negras, feministas ou não, que sabem de demandas muito específicas para nós e que nunca foram demandas de mulheres brancas.
Outro ponto quando falamos da revolução que é poder reivindicar as nossas pautas, nos declarando ou não feministas, aparece muito claramente no "Dia das Mulheres", a polêmica do "quero flores X não quero flores" todo os anos é debatida por nós, mulheres negras, convidando a refletir sobre um ponto importante: nós, mulheres negras, recebemos flores? E aqui as flores tem muito mais um caráter simbólico do que o material propriamente dito, é dedicado a nós este cuidado cotidiano? O estereótipo mais comum da mulher negra é o que descreve uma mulher forte, insensível, que aguenta tudo, que é tratada "de qualquer forma", a amante, a clandestina, aquela cuja as práticas sexuais não têm limite, então, qual o cuidado cotidiano seria reservado à nós? É preciso enxergar que nós queremos sim as flores, junto com o respeito, mulheres negras ainda não puderam (historicamente falando da sociedade como um todo e não casos pontuais) experimentar este cuidado e zelo, que por vezes pode oprimir, que mulheres brancas experimentam cotidianamente e já se consideram aptas a ponderar. Como já foi dito, mulheres negras muitas vezes não são sequer consideradas mulheres.
Refletir a distinção das pautas não quer dizer que vamos ignorar todas as demandas convocadas das mulheres brancas (muitas vezes podem ser nossas também), mas, quer dizer sim que vamos nos preocupar em resolver aquilo que nos oprime olhando para o nosso passado, nosso presente e desejando um futuro melhor. Não há como saber onde se quer chegar, se não soubermos de onde viemos, no caso das nossas ancestrais foi um passado de desumanização, exposição, estupros, comércio de nossos atributos (Sarah Baartman tem sua história para não nos deixar esquecer) e nos tratando como se fossemos sempre exóticas.
Nossas ancestrais não eram "donas de si" enquanto tinham seus corpos expostos, medidos, invadidos e sempre nus. E, na revolução de se vestir, não se enganem acreditando que este é um discurso puritano ou moralista, pedindo que mulheres negras se cubram dos pés à cabeça ou "se deem ao respeito" se "vestindo direito", não, não é nada disto. Eu estou falando de nos vestirmos quando e como quisermos, mas tendo em mente que não há mais obrigação de cumprir o padrão "mulata exportação", desde que a escolha de como se vestir seja sua e isto lhe faça bem está tudo liberado, o que buscamos com certeza é a certeza de que não estamos mais servindo de atração para a sociedade que se criou nos expondo nuas em gaiolas.


sábado, 21 de outubro de 2017

MAIONESE CAPILAR SKALA COSMÉTICOS | RESENHA

outubro 21, 2017 1
MAIONESE CAPILAR SKALA COSMÉTICOS | RESENHA | www.naveiadanega.com.br

A onda de cosméticos inspirados nas boas e velhas receitas caseiras da crespas e cacheadas trouxe vários produtos novos ao mercado, um dele foi a "maionese capilar", várias marcas colocaram nas prateleiras produtos cujo o principal ingrediente é a proteína do ovo (base da maionese) e que nós já sabíamos há um tempo que faz super bem para os nossos cabelos. 
A Skala Cosméticos lançou neste ano a sua MAIONESE CAPILAR NUTRITIVA e eu corri para experimentar, entre outros motivos, é um produto liberado para técnica de low poo (que não era muito tradicional nos produtos da marca, a maioria que conhecia tinha parafina) e por ser uma marca que conheço e confio a bastante tempo.

MAIONESE CAPILAR SKALA COSMÉTICOS | RESENHA | www.naveiadanega.com.br
Composição: Aqua, Cetearyl Alcohol, Cetrimonium Chloride, Parfum, Ricinus Communis Seed Oil, Methylchloroisothiazolinone (and) Methylisothiazolinone, Styrene (and) Acrylates Copolymer, Shea Butter Cetyl Esters, Argania Spinosa Kernel Oil, Citric Acid, Hydrolyzed Albumen, Panthenol, Tocopheryl Acetate, CI 19.140, CI 15.985.

O que a marca diz? A Máscara Maionese Capilar Skala Expert possui uma fórmula com ingredientes ricos em nutrientes que dão força, hidratam e desembaraçam todos os tipos de cabelos. Prepare-se para os elogios, recomendamos que use e abuse! 

O que eu achei? A Maionese Capilar Skala me surpreendeu positivamente. A marca não foi a primeira a lançar este tipo de produto, mas, das que experimentei até agora a Maionese Capilar Skala foi a que conseguiu juntar qualidade e precinho num produto só. A parte mais difícil foi encontrar o produto na minha região, Ibirité / Belo Horizonte - MG, rodei algum tempo atrás da maionese e, quando encontrei, foi uma filha única num supermercado próximo à minha casa onde encontrei essa maravilha. Paguei R$6,50 no pote de 1KG, isso com certeza é um preço bem em conta, comparado aos outros produtos que estão no mercado com a mesma chamada.

MAIONESE CAPILAR SKALA COSMÉTICOS | RESENHA | www.naveiadanega.com.br

Efeito nos cabelos: A marca sugere duas formas de uso para o produto: usar o produto como condicionador após a lavagem e hidratação ou como a própria máscara de tratamento, deixando agir por dez minutos e depois realizando o enxágue. Utilizei destas duas formas e ainda experimentei como pré-shampoo e também como finalizador. Como condicionador, o efeito de desembaraço é imediato, mesmo após o shampoo que é quando geralmente nossos cabelos ficam mais embaraçados. Na hora de utilizar como máscara de nutrição a surpresa foi muito boa, meus cabelos que não estavam tão ressecados, mas, naquele estado natural do cabelo crespo que ama uma nutrição amou o efeito, o resultado foi um cabelo definido e com muito brilho, totalmente soltinho, que é um efeito difícil de conseguir após uma nutrição, que geralmente deixam os cabelos pesados nos primeiros dias. Depois foi a vez de testar a Maionese Capilar Skala como "pré-shampoo" e adorei; quando passamos muitos dias sem lavar e finalizar os cabelos, o ideal é fazer o processo de pré poo para que os cabelos estejam mais desembaraçados na hora de receber o shampoo e o tratamento posterior, a Maionese Capilar Skala cumpre, e muito bem, esta função. E por último, resolvi testar a Maionese Capilar como finalizador, por ser livre de pretrolato, parafinas e silicones pesados resolvi experimentar, já que não iria deixar meus cabelos pesados. A sensação que tenho sempre que uso um creme muito leve e sem parafina na finalização é de que os cabelos duram menos tempo arrumados e com a Maionese Skala foi bem diferente, o efeito foi um cabelo solto, muito definido e muito leve (misturada a um pouco de gel líquido), que durou mais de três dias, o que considero muito para um creme totalmente sem parafina. 

MAIONESE CAPILAR SKALA COSMÉTICOS | RESENHA | www.naveiadanega.com.br
A consistência da Maionese Capilar Skala é leve, o que torna o produto fácil de aplicar e impede que os cabelos fiquem pesados, quando utilizada como finalizador. Para aquelas que desejam uma super nutrição, aconselho turbinar a máscara com algum óleo vegetal de sua preferência, mas, para cabelos em condições "normais ou moderadas" de ressecamento o produto dá conta do recado. Originalmente a máscara já conta com os óleos de Argan e Rícino na fórmula. 
Para mais detalhes sobre o produto, tem vídeo no canal com muito mais informações sobre esta maravilha:

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Lola Ogunyemi - MODELO DA CAMPANHA DA DOVE FALA SOBRE A REPERCUSSÃO

outubro 11, 2017 0


Ontem, terça feira (10/10), a modelo Lola Ogunyemi deu entrevista ao Jornal britânico "The Guardian", se manifestando sobre a repercussão mundial da campanha desastrosa da Dove. Entre outros trechos emocionantes, a modelo disse "Há definitivamente algo a ser dito aqui sobre como os anunciantes precisam olhar além da superfície e considerar o impacto que as imagens podem causar, especificamente quando se trata de grupos marginalizados de mulheres.

Algumas coisas importantes precisam ser levadas em consideração, na hora de analisar mais de perto a campanha da Dove e, com certeza, uma que não pode passar desapercebido é a importância da análise de discurso subjetivo, na leitura de uma campanha publicitária. É possível perceber, e também como a própria modelo disse, fora do contexto e do filme completo, que teria cerca de trinta segundos, a campanha é totalmente racista, mas, olhando o todo, a coisa não seria bem assim. 
O que me chama séria atenção é, faria total diferença caso a empresa tivesse diversidade em sua equipe, pois, qualquer pessoa negra conseguiria ter o olhar de "olha, talvez isso não pegue bem!", o que obviamente não aconteceu e essa campanha racista foi ao ar. 


Lola foi bem incisiva em sua entrevista, no sentido de deixar claro que ela não estaria ali se soubesse do resultado e não esteve ali como vítima, ela é uma modelo, este é o trabalho dela, agora o trabalho mal feito da edição atingiu, não só a ela, mas uma parcela imensa da população. 



"Eu sou uma mulher nigeriana, nascida em Londres e criada em Atlanta. Cresci muito consciente da opinião da sociedade de que as pessoas de pele escura, especialmente as mulheres, ficariam melhores se a nossa pele tivesse um tom mais leve.

Eu sei que a indústria da beleza alimentou essa opinião com sua longa história de apresentar modelos brancas ou mestiças como padrão de beleza. Historicamente, e em muitos países, ainda hoje é assim. Modelos mais escuras são usadas ​​para demonstrar as qualidades de clareamento da pele de um produto.
Essa narrativa repressiva eu vi afetar mulheres de muitas comunidades diferentes das quais fiz parte. E é por isso que, quando a Dove me ofereceu a chance de ser o rosto de uma nova campanha de sabonete líquido, eu topei.
Ter a oportunidade de representar minhas irmãs negras para uma marca de beleza global me pareceu a maneira perfeita de lembrar ao mundo que estamos aqui, somos lindas e, mais importante, somos valorizadas.
Então, uma manhã, acordei com uma mensagem de um amigo perguntando se a mulher em um post que ele tinha visto era realmente eu. Entrei na internet e descobri que eu me tornara o cartaz involuntário de uma propaganda racista. Não estou mentindo.
Se você digitar “anúncio racista” no Google agora mesmo, uma foto do meu rosto é o primeiro resultado. Eu estava entusiasmada por fazer parte do comercial e promover a força e a beleza da minha raça, então isso era perturbador.
Apelos estavam sendo feitos para boicotar a Dove e amigos de todo o mundo estavam me procurando para ver se eu estava ok. Fiquei impressionada com o quão controverso o anúncio se tornou.
Se eu tivesse a menor suspeita de que eu seria retratada como inferior, ou como “antes” em uma propagada de antes e depois, eu teria sido a primeira a dizer um “não” enfático. Eu teria ido embora. Isso é algo que vai contra tudo o que acredito.
No entanto, a experiência que tive com a equipe Dove foi positiva. Eu tive momentos maravilhosos no set. Todas as mulheres na filmagem entenderam o conceito e o objetivo – usar nossas diferenças para destacar o fato de que toda pele merece gentileza.
Lembro-me de todas nós entusiasmadas com a idéia de usar camisetas e nos transformarmos umas nas outras. Não estávamos certas de como a edição final iria ficar, nem qual de nós seria realmente apresentada, mas todas pareciam estar alegres, inclusive eu.
Então, o primeiro anúncio no Facebook foi lançado: um videoclipe de 13 segundos comigo, uma mulher branca e uma asiática. Eu amei. Meus amigos e familiares adoraram. As pessoas me parabenizaram por ser a primeira a aparecer, por estar fabulosa. Eu estava orgulhosa.
O comercial de TV completo de 30 segundos foi lançado nos EUA e eu estava novamente na lua. Havia sete de nós na versão completa, raças e idades diferentes, cada uma respondendo a mesma pergunta: “Se sua pele fosse uma etiqueta de lavagem, o que ela diria?”
Repetindo, eu era a primeira modelo no anúncio, descrevendo minha pele como “20% seca, 80% brilhante” e aparecendo novamente no final. Adorei, e todos à minha volta pareciam bem. Eu acho que a edição completa da TV era muito melhor para deixar a mensagem da campanha clara.
Há definitivamente algo a ser dito aqui sobre como os anunciantes precisam olhar além da superfície e considerar o impacto que as imagens podem causar, especificamente quando se trata de grupos marginalizados de mulheres. É importante examinar se o seu conteúdo mostra que a voz do seu consumidor não é apenas ouvida, mas também valorizada.
Posso entender como as fotos que estão circulando na web foram mal interpretadas, considerando o fato de que a Dove enfrentou uma reação no passado pelo mesmo problema.
Há uma falta de confiança aqui, e eu sinto que o público estava certo em sua indignação inicial. Dito isso, também vejo que muito foi deixado de fora. A narrativa não forneceu aos consumidores um contexto no qual basear uma opinião.
Embora eu concorde com a resposta da Dove de se desculpar inequivocamente por qualquer ofensa causada, eles também poderiam ter defendido sua visão criativa e sua escolha de me incluir, uma mulher negra, como o rosto de sua campanha.
Eu não sou apenas uma vítima silenciosa de uma campanha de beleza equivocada. Sou forte, sou linda e não vou ser apagada". (The Guardian)

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