sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

#ITAURACISTA: NO BRASIL A RAÇA SOBREPÕE A CLASSE E A CONTA BANCÁRIA

janeiro 31, 2020 0

O discurso Marxista empregado à sociedade brasileira, quando desconsidera o racismo estrutural no qual estamos inseridos, não se sustenta por mais de dez segundos. E posso afirmar isto com tranquilidade enquanto mulher preta e historiadora. Raça, no Brasil, sobrepõe classe SIM!

Nesse momento um dos assuntos mais comentados no Twitter e no #BlackTwitter é o #ITAURACISTA.

Na tarde da última quinta-feira Lorena Vieira que é empresária e mora no Rio de Janeiro sofreu racismo numa agência do Banco Itau, na qual era correntista (Lorena já anunciou que retirará sua conta do banco). A empresária, que faz movimentações altas em sua conta foi acusada de FRAUDE. Lorena alega ter sido "enrolada" pelo banco, ficando lá até não haver mais nenhum cliente na agência e então foi levada pela Polícia Civil para "prestar esclarecimentos" sobre seu próprio dinheiro.

Além de todo o constrangimento provocado pelo Banco Itau contra a cliente a polícia também expôs Lorena à constrangimentos desnecessários ao envolver o nome de seu companheiro nas perguntas sobre a sua conta no banco.
Perguntas relacionadas às suas visitas ao companheiro na prisão foram feitas à Lorena quando na verdade a "averiguação" inicialmente seria sobre uma suposta fraude, denunciada pelo banco Itau em sua própria conta.
O banco se manifestou dizendo se tratar de uma "conduta padrão". Agora, cá entre nós, é padrão chamar a polícia para pessoas brancas que movimentam altas quantias em suas contas bancárias? Este é com certeza mais um daqueles "casos isolados" que só acontecem com gente negra no Brasil.




Outras pessoas tem se manifestado através da rede social sobre o caso de racismo recente no banco Itaú.

E não podemos esquecer que recentemente o mesmo banco esteve envolvido em outra polêmica racista: Uma turma INTEIRA de estagiários, 125 novos trainees do banco e NENHUMA pessoa negra entre os selecionados. Desta vez o banco alegou "coincidência", para justificar seu racismo.


Em sua consta no Instagram (@badgallore) Lorena relatou os fatos e falou de como se sentiu ofendida com a conduta do Banco Itau e dos policiais que a interrogaram sobre o seu companheiro, o Dj Renan da Penha, preso injustamente no ano de 2019.

A esperança que fica neste caso é que, como em 1955 quando Rosa Parks foi presa por se negar a ceder para o segregacionismo num ônibus nos EUA, nós negros brasileiros possamos REALMENTE deixar de dar o nosso dinheiro para um banco que foi explicitamente racista com uma mulher negra. E não que as demais instituições financeiras do país não sejam, são. Mas se não começarmos de algum lugar, nos revoltaremos quando?

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

NÃO É PORQUE EU GOSTO DE MULHER QUE EU VOU DAR EM CIMA DE VOCÊ

janeiro 15, 2020 0
Precisamos falar sobre a autoestima elevada da mulher hétero.


Guardadas as devidas proporções reservadas às mulheres negras e as não negras, numa sociedade racista que joga nossa autoestima no lixo cotidianamente, ainda assim é necessário falar da autoestima hétero. E falo aqui de um lugar muito específico: a mulher que se declarava heterossexual e representava muito bem este estereótipo.

A culpa disso, acredito eu, é de pensarmos todas as relações como pensamos as relações entre a masculinidade tóxica e as mulheres. Mas, mulheres se amam — geralmente — não se comportam como predadoras. 

Nós geralmente somos criadas dentro da heteronormatividade compulsória. Nasceu menina, vai usar rosa, usar vestido e, claro, gostar de meninos. Não consideramos as variantes do gênero muito menos a diversidade sexual quando nasce uma menina. E é nesse padrão que somos criadas. Quem nunca ouviu na infância que se um menino era agressivo com você era porque ele gostava de você? Eu ouvi muito! Lembro da minha primeira experiência com o gostar violento dos meninos, eu tinha uns 10 anos e aprendi que se aquele menino me agredia era o jeito dele demonstrar amor. E é dentro desta lógica de heteronormatividade violenta e agressiva que muitas de nós cresceram. Logo, é comum que projetemos este modelo de relação em qualquer ser humano que se relacione com mulheres. Mas, acredite, eu tô aqui para te contar que não é sempre assim!

E pasme, isso ocorre não porque mulheres sejam seres sagrados e perfeitos, incapazes de serem abusivas. Somos, podemos ser se não cuidarmos. Mas, não é a regra. 

Homens heterossexuais geralmente não gostam de mulheres. Aceite. Repudiam nosso cheiro, nossa forma, nossos traços físicos — e se eu entrar na seara de ser uma mulher negra, piora — e nosso intelecto. Homens geralmente não leem mulheres, não ouvem mulheres, não conversam com mulheres sem intenção sexual e são capazes de jurar que gostam de mulher. "Mano, não gosta, teu amor você guarda pros teus brothers da bunda cabeluda!"

E quando somos criadas dentro dessa lógica insana de violência e repulsa para com mulheres tendemos a acreditar que só existe essa maneira predatória de lidar e se relacionar. Mas, para a nossa felicidade, existem outras.

A VIOLÊNCIA E O COMPORTAMENTO PREDATÓRIO NÃO SÃO AS ÚNICAS MANEIRAS DE AMAR MULHERES. E quando a gente entende isso fica fácil entender outra coisa: NÃO É PORQUE EU GOSTO DE MULHER QUE EU VOU DAR EM CIMA DE VOCÊ, SÓ PORQUE VOCÊ É MULHER!

Acostumadas com a lógica predatória da masculinidade tóxica para com as mulheres heterossexuais elas aplicam à nós mulheres que gostam de mulheres — e muito, graças a Deus — a mesma lógica violenta e predatória da maioria dos homens. Mas, mais uma vez, não é assim que a banda toca.

Aliás este texto, como você já deve ter percebido, é sobre várias coisas que você achou que eram mas na verdade não são. Mulheres que gostam de mulheres não são homens. Homens são homens, mulheres são outro patamar. E, antes que você ache que mulheres são perfeitas, volte algumas linhas neste texto e entenda, a função de tudo isto não é romantizar relações entre mulheres — que podem também ser abusivas.

Quando uma mulher gosta sexualmente de outras mulheres isto não significa que ela enxerga todas as mulheres do mundo como um pedaço de carne pronto para ser comido. Essa é uma lógica machista,  patriarcal e, por mais que algumas mulheres possam sim reproduzir esta lógica, essa é a forma como a masculinidade violenta se organiza e o princípio básico para que você seja a base disso é ser homem. Claro que existem outras formas de viver a masculinidade e vários homens tem se proposto a discutir isso mas está muito mais provável que mulheres façam diferente — por princípio, já que não são homens — do que os próprios. 

Isso quer dizer que não é a regra que mulheres saim por ai querendo meter os seus dedos em todo o buraco só para provar que são comedoras. Não é a regra que mulheres vejam todas as outras mulheres como seu lugar de masturbação, apenas um buraco para satisfazer seus prazeres sexuais. 

Um parênteses aqui, pretendo logo escrever um texto sobre a não romantização das  relações entre mulheres, a gente pode querer só sexo algumas vezes e TÁ TUDO BEM, VIU, MIGA? Mas fica para outra hora.

Entender sobre consentimentos, sobre respeitar espaços, sobre conseguir ouvir o que o outro ser humano está dizendo pode não parecer difícil, mas numa sociedade machista ouvir e sentir mulheres parece ser uma atitude impossível para alguns homens.

Por fim o que importa aqui é que não somos nós mulheres que vivemos nessa lógica predatória, logo, você mulher heterossexual pode ficar bem tranquila, a gente não vai dar em cima de você só porque a gente gosta de mulher. 

Post Top Ad