VOU MANDAR FAZER UM PINGENTE ESCRITO: C O T I S T A!
Lívia Teodoro
janeiro 30, 2016
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Basta falar sobre cotas, para fazer ressurgir das tumbas discursos de senhores e sinhás do engenho com argumentos sem nenhum fundo de conhecimento histórico para desmerecer essa política de reparação que, apesar de estar longe de ser a solução para todos os nossos problemas é uma politica que é totalmente necessária.
As cotas são necessárias para a equiparação de um povo que à anos vem sendo subjugado e impedido de ter acesso a cultura, educação e outros âmbitos sociais que nos deixariam em situação de igualdade eu mesma nunca me considerei capaz de entrar na Federal, por diversos motivos mas o principal deles é reconhecer a defasagem que existe entre o nível de ensino o qual eu tive acesso e o nível que tem a maioria dos estudantes de lá, algumas pessoas que por exemplo a única obrigação na vida é estudar e tirar boas notas. Eu fui fazer a prova do ENEM sem pegar em um livro para me preparar, não tive tempo trabalhando em shopping de duas às dez da noite, trabalhando em paralelo com o meu blog e cuidando do meu filho de três anos (com a ajuda da minha família, porque não fosse eles, nem isso tudo eu conseguiria), não acreditava que teria nota para uma federal e mal sabia eu que todos os estudos que tenho feito nos últimos dois anos para manter e acrescentar ao meu ativismo digital era mais que preparação, muita leitura, muita pesquisa e muita mas muita vontade de aprender a história do meu povo. Outro motivo para eu temer a federal é que o nível de exigência é alto e saí na frente quem pode se dar ao luxo de apenas estudar, coisa que eu não pude e nem posso já que vou ter que me virar para trabalhar, sustentar meu filho e ainda tirar excelentes notas na federal. Por tudo isso, a Universidade Federal de Minas Gerais para mim é um sonho que eu não acreditava conseguir e para entender que foram as cotas que ajudaram a mim e a outros negros chegarem até aqui, é preciso entender da história do nosso país, o que está em falta atualmente.
Após os resultados da Seleção do SISU vários discursos racistas apareceram foi quase como se eu estivesse abrindo um jornal dos séculos 17 e 18 (não somente em relação a minha aprovação, mas como a de diversos negros cotistas, como a Lorena por exemplo), discursos inclusive mandando os negros voltarem para a África como se nós estivemos "roubando" algo de alguém. Acredito que os brasileiros ainda tem muito a estudar sobre a história do próprio país, sobre a política de cotas e vendo tantas manifestações que claramente desconhecem fatores históricos muito importantes fica evidente porque muitas pessoas não obtiveram notas suficientes. Esta prova do ENEM 2015 citou negros importantes, discursos feministas e a criação "modelo família tradicional brasileira" não contempla o diferente, não abraça todas as culturas e principalmente não entende que cotas são um sistema que busca equidade entre nós, busca preencher as lacunas que as políticas racistas nas quais nosso país é pautada deixaram na nossa história. Negros foram libertos da escravidão e jogados a própria sorte, enquanto as pessoas não negras puderam usufruir de todas as "cotas políticas" que foram criadas no período pós-libertação e colhem estes privilégios até hoje. Num país desigual como o nosso, é privilégio estudar numa sala de aula com ar condicionado e pouco mais de 20 alunos, poder pagar um cursinho que custa mais o salário com o qual eu sustento a minha família e sabemos que esta é a realidade de muitos estudantes que são maioria nas faculdade Públicas do nosso país. A política de cotas vem como resultado de anos de luta do Movimento Negro no Brasil e às pessoas precisam primeiro compreender os efeitos de quase 400 anos de escravidão de um povo antes de criticá-la.
A revolta acredito eu não é nem ao número de pessoas privilegiadas que deixaram de entrar, mas sim o número de pessoas que saíram da faxina da faculdade e passarão a ocupar os bancos nas salas de aula. As cotas são necessárias, porque parafraseando a maravilhosa Viola Davis em seu discurso do ano passado: O que separa as pessoas negras de pessoas privilegiadas na O Jornal Estado de Minas publicou nesta semana uma matéria que ajuda a derrubar a falácia de que as cotas levariam a queda do nível do ensino nas faculdades públicas do país, na reportagem foi constatado que a média dos alunos cotistas em 2016 é MAIOR que a média dos alunos no antigo vestibular em 2013 (você pode ler a reportagem AQUI), mais um argumento daqueles que querem a todo custo frear a política que leva cada dia mais homens e mulheres negras á um espaço que sempre foi nosso.
LEI FEDERAL QUE REGULAMENTA AS COTAS RACIAIS: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm
LEI FEDERAL QUE REGULAMENTA AS COTAS RACIAIS: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm