Foto: Ariane Realino |
O que me tornou ativista certamente foi a minha gestação. Até eu ficar grávida sempre achei que algumas questões eram "tanto fez tanto faz". Apesar de eu ter nascido com um senso de justiça imenso, causas sociais nunca haviam me seduzido a ponto de fazer tirar a bunda da cadeira pelos meus ideais. A gestação me fez entender que eu precisava sim me movimentar para mudanças e mesmo que aquelas mudanças não fossem somente para mim ou que eu não pudesse usufruir delas imediatamente, pessoas importantes para mim poderiam colher os frutos da minha luta, como meu filho, por exemplo.
Em 2012 eu entrei de cabeça nos estudos para entender o que poderia ser melhor para os caminhos da minha maternagem e lembro de ter ouvido que a maternidade e o parto começam entre os seus ouvidos, dentro da cabeça. Gestar é mais do que esperar, é estudar muito, quase que sem parar para que as informações sejam absorvidas e processadas. É claro que como leiga, nós entendemos bem menos do que profissionais formados para isso, mas acreditem, muitas vezes aquilo que muitos dos tais profissionais sabem e transmitem já está ultrapassado a muito tempo. A base para qualquer questionamento é a informação e então fui atrás dela feito louca durante a minha gestação, quanto mais se informa mais se questiona e consequentemente mais se empodera, foi ai que começou a minha jornada.
Nas primeiras semanas da minha gravidez (depois de descobrir com 11 semanas, rs) eu estava apavorada com a possibilidade de um parto normal, porque cresci acreditando que parto normal era sinônimo de sofrimento, uma espécie de castigo para a mulher por ter comido a maçã e transformado o paraíso nisto que vivemos hoje, mas enfim, essas eram as informações que eu tinha sobre o parto "normal" e eu simplesmente tinha pavor disto ter que acontecer comigo, mas sem plano de saúde eu não tinha muitas opções: ou pagava por uma cesária eletiva ou recorria a um parto traumático na rede pública. Indo atrás de alternativas, descobri que poderia haver uma terceira opção para o nascimento do meu filho: um parto digno, humano e respeitoso.
Parto humanizado tem sido pauta constante no mundo virtual, virou filme, virou "moda" entre as famosas e o assunto tem sido bastante comentado. Mas, como trazer a realidade maravilhosa do mundo de quem tem dinheiro para humanizar, à uma mulher negra de periferia, mãe fora de um relacionamento e sem emprego? Mais um motivo para eu correr atrás de me empoderar. No parto também não existe meritocracia: não basta querer um parto humanizado para ter um tratamento humano, precisa muito trabalho e uma dose de privilégio social. Na situação de parto as mulheres negras são mais uma vez prejudicadas, os dados sobre violência obstétrica no Brasil gritam que as mulheres negras morrem mais, sofrem mais e tem menos acesso a tratamentos dignos então para nós o buraco realmente é mais embaixo.
Devorando livros, jornais, reportagens e absorvendo o máximo dos grupos de apoio virtual ao parto normal, foi assim que passei a gestação inteira.
Entendendo sobre os procedimentos obsoletos que ainda são aplicados na obstetrícia atual, sobre os processos com o RN que não são recomendados pela OMS mas o Brasil insiste em praticar.. Enfim... Estudar, Estudar e esperar! Em meio as pesquisas encontrei o site da Doutora Melânia Amorim, uma obstetra humanizada do nordeste do Brasil que trabalha exclusivamente no SUS e ainda encontra tempo para informar ao público leigo muitas coisas sobre parto e desvendar muitos mitos que nós ainda sustentamos na nossa sociedade. Falsas indicações de cesarianas e desculpas que o sistema de saúde inventa para que as mulheres acreditem cada vez menos nos seus corpos. Com raras exceções o parto natural é sempre o melhor para mãe/bebê, infelizmente o nosso país é campeão em cirurgias cesarianas e nossos bebês tem nascido cada vez menos.
Entendendo sobre os procedimentos obsoletos que ainda são aplicados na obstetrícia atual, sobre os processos com o RN que não são recomendados pela OMS mas o Brasil insiste em praticar.. Enfim... Estudar, Estudar e esperar! Em meio as pesquisas encontrei o site da Doutora Melânia Amorim, uma obstetra humanizada do nordeste do Brasil que trabalha exclusivamente no SUS e ainda encontra tempo para informar ao público leigo muitas coisas sobre parto e desvendar muitos mitos que nós ainda sustentamos na nossa sociedade. Falsas indicações de cesarianas e desculpas que o sistema de saúde inventa para que as mulheres acreditem cada vez menos nos seus corpos. Com raras exceções o parto natural é sempre o melhor para mãe/bebê, infelizmente o nosso país é campeão em cirurgias cesarianas e nossos bebês tem nascido cada vez menos.
A consequência de se informar é o empoderamento, consequência quase imediata, muito mas muito maravilhosa e o empoderamento leva a escolhas conscientes. Isso quer dizer que toda mulher empoderada vai parir? Não! Quer dizer que toda mulher empoderada vai tomar decisões conscientes dos riscos e estar disposta à assumí-los. A mulher empoderada pode sim escolher uma cirurgia cesariana eletiva mas se o fizer, fará totalmente sabida de que está aumentando em mais de oito vezes os riscos de morte para ela e o seu filho. Se ela sabe de tudo isso e mesmo assim escolhe esta forma para à chegada do seu filho ao mundo, ela está tomando as rédias da própria vida e se responsabilizando por isto.
Eu escolhi o parto natural depois de muita informação absorvida e estudada. Não me senti mais obrigada a parir empurrada pelo sistema publico de saúde e com certeza essa foi a melhor escolha que eu poderia ter feito para o meu filho e para mim. Mas o melhor desfecho para mãe e o bebê é aquele que acontece no decorrer do trabalho de parto, no meu caso o parto natural passou a ser um parto normal induzido e igualmente lindo, costumo dizer que é o melhor parto que meu filho e eu poderíamos ter. Mas o relato do meu parto vai ficar para outro post, pois este já vai se alongando mais do que deveria.
O que me trouxe a descobrir que minhas atitudes podem sim mudar o mundo , que devemos sim nos empoderar, ter conhecimento para lutar foi o mundo do parto. Por um tempo eu virei a "chata do parto normal", aquela que as pessoas tinham até medo de tocar no assunto, porque já imaginavam que iam se tornar textão mas o conhecimento nos ensina inclusive a calar na hora mais adequada e conforme a experiência vai se alongando mais sensatos ficamos nisto. O parto, de fato começa entre os ouvidos dentro da cabeça e o conhecimento é que empodera. Portanto, mães negras, estejamos cientes dos dados que provam o quanto somos prejudicadas pelo racismo institucional mas precisamos ainda mais ter ciência também de como podemos lutar para que isso mude. E o principal, depois de adquirir conhecimento é importante descobrir como usar ele para ajudar outras mulheres negras a terem um bom desfecho, como eu por exemplo.
Fiquem a vontade para deixar dúvidas ou contar suas experiências nos comentários e logo logo falaremos mais sobre parto e maternagem aqui no blog.
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