terça-feira, 22 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA, ROBERT COSTA

novembro 22, 2016 0
Foto: Acervo Pessoal | Robert Costa - Belo Horizonte
Roberth Robson Costa tem 24 anos, é mineiro e Repórter web, escreve para um portal de notícias on line atualmente. Formado em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, Roberth diz ter sido escolhido pela profissão. O jovem repórter e eu fomos colegas de faculdade, para aqueles que não sabem, cursei um semestre de Publicidade e Propaganda mas acabei desistindo da graduação, desde então o acompanho através das redes sociais e vejo bem de perto o trabalho que tem desenvolve como repórter. A entrevista de hoje é para que vocês também conheçam mais sobre este jovem negro, talentoso, bonito e muito competente, que me deu a honra de entrevistá-lo para o blog.

Você relaciona alguma dificuldade ou barreira, existente na sua profissão, com as questões raciais? 
A internet possibilidade uma proximidade maior com quem lê as notícias que escrevo. Quase sempre há discordância dos leitores em relação a algum título ou chamada. A imparcialidade não existe e muita gente não sabe disso. Quando você escreve sobre determinado assunto, automaticamente, já pretere outro e acaba se posicionando. Busco noticiar de maneira menos subjetiva o possível. Mas, a escrita revela muito das ideias do repórter, do que ele defende ou recrimina. Não é bem uma dificuldade relacionada à área, mas é perceptível a surpresa de muitos quando um encontram um negro capaz de manter uma conversa no mesmo nível ou até melhor. Ser repórter dá abertura para construção de um amplo repertório cultural.

É possível marcar seu posicionamento crítico, acerca de raça, no dia a dia da sua profissão?
Meus posicionamentos a respeito de raça, assim como da homossexualidade e de outros temas ainda considerados tabus, aparecem na minha escrita. A pessoalidade não está presente de forma direta no jornalismo factual, mas dar espaço para notícias que tratam de questões relacionadas faz com que eu sinta meu posicionamento representado. Dar voz a vítimas de racismo e homofobia, divulgar punições e potencializar opiniões de quem entende do assunto são alguns exemplos.

E qual conselho você daria, aos negros e negras, que optarem por seguir nesta área de atuação profissional?
Assim como em outras áreas, acredito que fazer jornalismo abre um leque de possibilidades. O mais interessante é buscar autonomia para escrever sobre temas relevantes para a própria pessoa. Liberdade para expor e denunciar questões específicas não é um dos pontos fortes da prática jornalística, visto a atual configuração do mercado. A democratização dos meios de comunicação é uma demanda que se faz urgente.

Amanhã, uma nova entrevista, com uma profissional de outra área. Vamos juntos dar um novo significado à esta expressão, nós podemos tudo! |Entrevista Anterior|

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

LINHA TRANSIÇÃO CAPILAR - MIMOS RECEBIDOS DA FINA FLOR

novembro 21, 2016 0
A Fina Flor resolveu atender à uma parte do mercado que nunca foi pensada exclusivamente: as meninas em transição capilar!

LINHA TRANSIÇÃO CAPILAR - MIMOS RECEBIDOS DA FINA FLOR
Muitas de nós viveu anos alisando o cabelo para nos encaixarmos num padrão "europeu de beleza". Chega uma hora que bate aquela vontade com muita coragem, de se livrar das amarras e libertar nossos cabelos naturais, uma fase temida por muitas e sofrida por quase todas: a transição capilar. 
A transição começa de dentro para fora, não é para se encaixar em uma "moda" ou apenas "mudar o visual", a transição capilar para nós, mulheres negras, é um período de resistência e autoconhecimento, é hora de testar os seus limites, acreditar em si, aprender a lidar com as críticas, ignorar os comentários maldosos, rebater as falas racistas... Em resumo: é difícil demais!
E foi pensando em  toda estas dificuldades que nós passamos, que a Fina Flor Cosméticos resolveu lançar a linha TRANSIÇÃO CAPILAR. São oito produtos pensados especialmente para atender à necessidade do cabelo que está crescendo mas também, manter bem cuidado o cabelo alisado e que você ainda não está pensando em fazer o grande corte (big chop). A linha é TODA LIBERADA pra no e low poo, isto mesmo, inclusive o condicionador é indicado para co-wash.
Estes são os produtos da linha transição:
SHAMPOO SEM SULFATOS com agentes limpantes suaves e ativos que prometem nutrir o couro cabeludo, fortalecer os fios naturais, os alisados/relaxados e estimular o crescimento saudável dos cabelos. O shampoo contém Aloe Vera (que a conhecemos como "babosa"), Chá verde, é rico em Vitamina E, antioxidantes, cafeína e Trehalose, este último é um ativo que evita a degradação de ácidos graxos, ou falando em bom português, evita aquele cheirinho de suor do couro cabeludo, ótimo também para as meninas dos dreads e tranças (em transição ou não) que não ficam lavando cabelo toda semana.
CONDICIONADOR SEM PETROLATOS, PARAFINA, PARABENOS, todinho liberado! E para garantir a nutrição sem nenhum tipo de silicone, a empresa investiu na manteiga de murumuru (já tem post aqui no blog falando dos benefícios desta maravilha), que garante cabelos nutridos sem engordurar.
MÁSCARA BASE, para evitar aquele monte de máscaras na sua prateleira! Sozinha ele tem alto poder de hidratação, pois conta também com a manteiga de murumuru na sua composição, mas também pode ser acrescida dos três
ADITIVOS PARA O CRONOGRAMA CAPILAR, para hidratação, nutrição e reconstrução. O aditivo de hidratação é rico em Vitamina B5, a mesma do Bepantol que anda com o precinho bem salgado. O aditivo de nutrição é a minha atual paixão, contém cinco óleos que meu cabelo ama: Óleo de Macadâmia, Óleo de Argan, Óleo de Coco, Óleo de Abacate, Óleo de Linhaça e Óleo de Girassol. E por último o aditivo de reconstrução, que promete reparar os danos na estrutura capilar, minimizando os pontos de quebra e promovendo a força. Neste aditivo, assim como no condicionador, existe um ativo chamado "Nano Sericin", que também falando em bom português para nós leigas, é uma espécie de "cimento" que vai atuar se ligando à queratina do cabelo para uniformizar a textura, uma espécie de "preenchimento" às arestas que o cabelo em transição costuma apresentar. 
CREME DE PENTEAR que garante fixação sem silicone? É o que a marca promete! Ação antifrizz e um creme mais "encorpado" sem ser pesado que funciona até para fitagem ou texturização, também é todo liberado pra no e low poo.
SPRAY DIA SEGUINTE é uma das propostas bacanas da marca, não "estrangeirizar" os termos em suas linhas. O spray para o dia seguinte veio para acabar de vez com uma das rotinas que mais me causava preguiça na transição capilar: molhar os cabelos todos os dias. É um líquido bem fluído que já vem em um borrifador e é ideal para ajeitar o cabelo no dia seguinte, sem fazer lambança ou desmanchar os cachos.
No vídeo de hoje lá no canal, estou mostrando todas as embalagens (lindas), falando de quantidade e mais detalhes sobre a linha. Não deixe de assistir!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

SE FOREM RACISTAS COM VOCÊ, APENAS SE CALE - COMO TRATAR O RACISMO, POR MORGAN FREEMAN

novembro 10, 2016 0
Começa o mês de novembro e junto com ele, vem a chuva de compartilhamentos da "célebre" frase de um senhor chamado "Morgan Freeman". Morgan Porterfield Freeman Jr., é um ator, produtor, narrador e diretor de cinema estadunidense, nascido em 1937. Em 2009 o ator concedeu uma entrevista falando sobre racismo e desde então, atribuíram à ele uma frase que carrega, supostamente, uma ideia revolucionária que acabaria com o racismo no mundo.

Todos os vídeos aos quais tive acesso estão grosseiramente editados e, por este motivo, fica impossível eu afirmar ou negar a veracidade da fala, mas no post de hoje, vou tentar explicar de maneira simples e didática, honrando minha futura licenciatura, porque é que o racismo não deixará de existir, se nós apenas deixarmos de falar dele.

A primeira coisa à se fazer, com certeza seria desconstruir esta ideia de que o racismo é apenas uma questão de opinião. Talvez você considere uma "opinião preconceituosa", torta, errada, engraçada, vazia, tanto faz, mas considerar o racismo apenas uma "questão de opinião", seria diminuir a importância e o tamanho do estrago que ele pode fazer na vida da população negra em geral. Racismo é um crime, previsto na lei Nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989, pode ser lida neste link a lei que regulamenta e prevê as punições para o crime de racismo, para casos em que uma pessoa for IMPEDIDA de realizar diversas ações em virtude da sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional e por impedir, a lei quer dizer diretamente ou indiretamente, barreira física ou moral para que isto aconteça. Crimes de ofensa à honra são chamados de injuria racial, com punição prevista no código penal e valem para a vida virtual também. Em resumo, se você chamar alguém de "macaco" é injuria racial, se você impedir o macaco de entrar numa loja, comprar um sapato, ir ao cinema, é RACISMO! 
Escurecida a diferença, ainda fica evidente que ambas as ações são CRIMES, certo? Não é brincadeira, questão de opinião, questão de gosto ou  qualquer outro termo que você queira usar para reduzir a gravidade do ato cometido.
Outro ponto à ser considerado que é de extrema importância, é: o racismo se apresenta em diversas esferas da sociedade. Não ocorre "apenas" na internet, em casos isolados ou com um ou outro negro na rua. O racismo estrutural é um ótimo exemplo disto, atingindo 99% das nossas instituições sociais os negros são afetados todo o tempo e prejudicados dia após dia. Na saúde pública, educação e principalmente segurança, que no caso das pessoas negras, na maioria das vezes, não representa estar seguro de fato, a sociedade estruturada sob bases racistas, considera o negro uma ameaça para a segurança e não indivíduo que deva usufruir de, sendo protegido e resguardado por ela. Todos os dias é possível encontrar uma nova pesquisa escancarando o sistema genocida da população negra, um ato protagonizado pelo que deveria ser, a "segurança pública". Negros são a maioria nas prisões e a minoria em cargos de chefia, mulheres negras são a maioria em clínicas psiquiátricas e minoria na mídia, crianças negras são a maioria em situação de rua e a minoria em escolas infantis, é por conta do racismo estrutural que esta conta não se equipara. O racismo no sistema público de saúde, por exemplo, mata todos os dias com doenças que se tratadas com atenção, poderiam ser curadas ou mesmo receberem tratamentos paliativos dignos, mas por conta de uma sociedade racista, negros e negras perdem a vida esperando serem tratados em equidade. É bom dizer, que o próprio Ministério da Saúde iniciou uma campanha visando reduzir os casos de racismo dentro do sistema, mas a campanha acabou "caindo no esquecimento" neste ano.
Muitas vezes por interpretação da lei, crimes de racismo que são inafiançáveis e imprescritíveis, acabam sendo lavrados como apenas injuria racial, onde a pena é mais branda, muitas vezes convertida em prestação de serviços à comunidade. E talvez por isto, as pessoas ainda não tenham ligado o crime à sua devida seriedade, sendo levadas à acreditar que o racismo é só uma questão de "assunto" ou "opinião" e como tal, será resolvido na conversa ou mesmo se "esquecendo o assunto".
Entendendo, ainda que superficialmente, a questão do racismo no Brasil e como ele extrapola a questão de "opinião pessoal", é muito mais fácil desconstruir esta ideia de que o racismo é apenas uma ação  com prejuízos no campo subjetivo. O racismo mata, adoece e dizima a população negra brasileira, desde que fomos sequestrados para este país e nem em tempos de grande opressão, como no período da escravidão em que não poderia se reclamar de ser escravo, afinal era a única condição possível para os negros, nem nesta época em que se falava pouco ou nada sobre racismo, ele deixou de existir, então porque agora isso funcionaria? Se hoje, alcançamos pontos significativos de expressão dentro da sociedade, não foi deixando de falar ou nos calando diante das situações de racismo vividas cotidianamente, mas sim, discutindo e elaborando o tema com conversa, luta e muita disposição.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA, DANIELA TIFFANY

novembro 09, 2016 0
Foto: Marcelo Mauricio Miranda | Daniela Tiffany - Belo Horizonte
Militar nas questões raciais é, sem dúvida, um ato político, mas muita gente confunde ato político com ato partidário, isto é um grave engano. Conhecer a Daniela foi mais uma oportunidade maravilhosa nesta caminhada da militância, provando que embaralhar o conceito de militância com o de partidarismo é um erro, além do que as duas coisas podem acontecer ao mesmo tempo, de forma independente e muito bem feitas. Daniela tem 36 anos, é psicóloga e hoje atua como assessora parlamentar da Deputada mineira Marília Campos. Como psicóloga tem graduação, especialização e mestrado, usa hoje todo este conhecimento, junto da experiência conquistada atuando na política, em sua militância, que admiro muito na forma como é aplicada. Ouvir as explicações e ponderações da Daniela em relação às questões históricas e sociais do nosso povo, fazem a gente acreditar que é possível sim mudar algo com as nossas falas e colocações. A entrevista de hoje, vai fazer com que você conheça e admire ainda mais mulheres como ela, confira!

As suas profissões foram escolhidas por você ou você escolhida por elas? Quando?
A Psicologia eu escolhi. O trabalho como assessora foi uma boa surpresa. Fui indicada para uma entrevista por um trabalho anterior, fui escolhida e se tornou minha escolha também.
Eu me formei em 2004. Trabalhei por quase 10 anos com politicas públicas e sistema prisional. Estou na assessoria parlamentar há 1 ano e 2 meses. Penso neste trabalho como uma oportunidade de fazer e aprender. Me sinto em formação, entendendo como funciona o legislativo. Um trabalho desafiador, isso é bom para mim. 

Você relaciona alguma dificuldade ou barreira, existente na sua profissão, com as questões raciais? 
Muitas são as dificuldades, ainda mais quando se trata de um espaço em que a disputa de poder é estruturante. Assim é a ALMG. Somos poucos negros nos gabinetes ou em outros cargos com mais reconhecimento dentro da assembleia. Isso nos deixa solitários, vulneráveis, sempre. Por outro lado, tenho a oportunidade de trabalhar com as pautas de gênero e raça no mandato. Dessa maneira, tento levar para aquele espaço pautas do povo preto, mais corpos e pensamentos negros. Além de denunciar o racismo sempre velado e persistente. 

Dá para pontuar seu posicionamento crítico, acerca de raça, no dia a dia da sua profissão?
Certamente! Este é meu exercício diário. Tento fazer meu trabalho consciente de que sou mulher e de que sou negra. De que tenho uma oportunidade para fazer contatos e estar em espaços privilegiados. Mas isso não deve servir apenas para mim individualmente, precisa possibilitar a entrada de mais negras e negros nestes ou em outros espaços de poder. Além do que, trabalhar com a Marília possibilita ser crítica e ativa no meu trabalho, ela valoriza isto e tenho conseguido espaço para as pautas que proponho. É muito importante atuar num mandato em que a Parlamentar é coerente!

E qual conselho você daria, aos negros e negras, que optarem por seguir em alguma das suas áreas profissionais?
Não sou boa de conselhos, mas aprendi que nossas conquistas são sempre frágeis se forem individuais. É preciso criar laços, saber história, respeitar os que vieram antes e se colocar a serviço dos nossos, pelos nossos.

Amanhã, uma nova entrevista, com uma profissional de outra área. Vamos juntos dar um novo significado à esta expressão, nós podemos tudo! |Entrevista Anterior|

terça-feira, 8 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA, IZAÚ VERAS

novembro 08, 2016 0
Foto: Acervo Pessoal | Izau Veras - Belo Horizonte
A educação do Brasil, principalmente a pública, tem sofrido vários e duros golpes nos últimos meses. O que o governo ilegítimo chama de "contenção de gastos" ou "medidas impopulares", pode ser definido como o caminho mais curto para o fim da educação pública de qualidade. Conhecer nos dias de hoje professores que buscam, ainda que nadando contra a maré, fazerem um bom trabalho para garantir uma educação inclusiva e socialmente correta, é um alento aos nossos corações. Enquanto futura educadora, posso dizer que conhecer profissionais como Izaú é como renovar as forças e as crenças de que, ser professor é um ato de resistência que se torna coletivo, quando levamos nossos alunos conosco nesta.  

O primeiro homem a aparecer aqui nesta série de entrevistas, Izaú Veras Gomes tem 24 anos e é Professor, Bacharel e Licenciado, de Educação Física, atualmente também leciona a disciplina de Música e Cultura Afro, que faz parte do currículo da escola em que trabalha, na rede municipal de Contagem. Confira a entrevista!

Izaú, você escolheu ou "foi escolhido" para ser professor? Quando? 
Aos poucos, durante a graduação, minha vontade de ser professor foi crescendo, vou sendo “escolhido” até o ponto em que inicio meus primeiros contatos com a escola na condição de futuro professor pelos estágios obrigatórios e bolsa de iniciação à docência (PIBID) e, finalmente, escolho ser professor da rede pública de ensino. Nesse processo comecei a me deparar com a fragilidade em minha formação para a educação das relações étnico-raciais. Com a deficiência no meu currículo de formação, plenamente embranquecido, tive de buscar formação sobre a corporeidade negra e suas práticas que poderiam estar presentes no universo da Educação Física escolar fora do meio acadêmico. Lá se foram experiências através das danças urbanas, do samba, da dança afro, de um ano de Capoeira interrompido por questões cotidianas e de tentar ressignificar tudo que havia aprendido na Educação Física até então, com o recorte racial. 

Na sua área de atuação, quais dificuldades ou barreiras podem ser relacionadas à questão racial?
Depois desse processo me deparo com a dificuldade de dialogar e conseguir construir uma prática pedagógica que dialogue com a cultura negra porque encontro professores desmotivados com a formação continuada, professores brancos que seguem na comodidade do currículo tradicional e não tem sensibilidade para toda estrutura de exclusão produzida na escola para estudantes negros e negras, gestão que não dá apoio pedagógico e você percebe que a prática pedagógica para a valorização da cultura negra e indígena ainda se dá quase que totalmente por professores militantes, quando deveria ser uma causa comum da escola. É difícil lidar com olhares e falas dos colegas de profissão sobre “os vagabundos que não querem nada” e “preguiçosas” todos os dias, a gente vai adoecendo e quem não me faz desistir são esses estudantes. 

E no cotidiano, é possível inserir seu posicionamento crítico à cerca das questões raciais e realizar intervenções positivas?
Sim, meu posicionamento crítico se insere quando chego todos os dias as 6:40 na escola com meu corpo, minha história, minha estética, no meu trato com os estudantes negros e negras, e, inevitavelmente, tudo isso vai até o final da manhã. Meu posicionamento também se dá na escolha dos conteúdos e neles me encontro sempre num campo minado ao tratar das questões raciais com adolescentes em um processo de formação identitária conturbado, permeado por apagamento das suas identidades, da sua cultura, por imposições religiosas, familiares e afins, no qual uma palavra pode cortar de vez várias possibilidades, mas aos poucos vou aprendendo mais estratégias e adquirindo experiência.

Qual conselho você daria àqueles que, assim como você, desejam seguir atuando como professores, seja de educação física ou outras matérias tão fundamentais quanto?
A gente precisa tomar e ocupar os mais diversos espaços. O negro tem o direito de ser o que quiser e para isso, precisamos de professores e professoras negras nessa luta!

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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA, JACQUELINE MAIA

novembro 07, 2016 3
Foto: Renata Delgada (Coletivo Naiá) | Jacqueline Maia - Belo Horizonte

Jacqueline Maia tem trinta anos, é bancária, historiadora e uma das pessoas mais encantadoras que a graduação em história me deu a oportunidade de conhecer. Jacqueline concluiu a licenciatura antes de eu ingressar na universidade, mas agora com ela cursando o bacharelado teremos a chance de ser, pelo menos por alguns semestres, colegas de curso e, espero eu, parceiras na construção de uma melhor atuação profissional melhor dentro da nossa área de graduação. Na entrevista de hoje, Jacqueline vai contar um pouco sobre a sua atuação como bancária além de historiadora, confira a entrevista.

Jacqueline, você tem formação técnica ou graduação superior nesta área em que atua?
Sim. No banco trabalho como analista de risco de crédito, uso a minha formação em administração com habilitação em comércio exterior. 
Minha atuação como historiadora envolve pesquisas, oficinas, palestras sobre gênero, raça e educação para relações étnico-raciais, isso por eu estar envolvida na militância.

Você escolheu esta profissão ou “foi escolhida”? E quanto à ser historiadora? Quando se deu tudo isto?
Eu fiz concurso público pra trabalhar em banco. De certa forma eu escolhi, rs... Passar e ter a estabilidade é sim positivo. Mas quando eu entrei na faculdade de Administração, a minha ideia era me preparar para o concurso de diplomata do Instituto Rio Branco, os obstáculos ao longo da vida, que naquela época eu entendia como intransponíveis, me fizeram à adequar os meus interesses.
Já a profissão de Historiadora (e em algum momento professora de História), foi plenamente consciente e está intrinsecamente ligada a minha tomada de conscientização, de ser mulher e negra numa sociedade desigual. Comecei estudar História principalmente para tentar compreender isto. Comecei a trabalhar como bancária aos 22 anos, mas fiz o concurso com 18.
Eu me entendo como historiadora a partir do momento que entrei no curso de história, com 26 anos.

Alguma barreira ou dificuldade, dentro das suas áreas de atuação, que possam ser relacionadas às questões raciais?
Uma...bem... No banco, a maioria das colegas que entraram comigo e que tem a minha faixa etária já tem cargos técnicos superiores ou cargos de gestão. Quando eu entrei, trabalhava em uma agência ligada à uma superintendência com fama de exigir um "determinado padrão de beleza" para atender o público e serem alçadas à promoção. Eu estava fora deste padrão de beleza e fui relegada à tarefas menos valorizadas, porém mais desgastantes dentro de uma agência bancária. Engordei 10kg, sendo menosprezada por clientes de diversas formas. Graças à Deus consegui sair da agência, ir para áreas onde o meu trabalho e profissionalismo eram valorizados.
Eu sigo sendo a única negra no local de trabalho. Nos últimos 6 anos tive a oportunidade de trabalhar em um ambiente com 6 negros entre 140 pessoas, agora, depois da promoção, sou a única entre 70. O que eu percebo é que quanto mais eu subo profissionalmente, menos negros encontro.

E é possível inserir seu posicionamento ideológico, acerca de raça, no dia a dia da sua profissão?
No setor onde eu trabalhei nos últimos 6 anos, tinha abertura para fazer esse tipo de debate e conscientização. Principalmente porque trabalhava em uma área ligada à benefícios sociais para o trabalhador. Agora estou em um setor novo e ainda não tive a percepção se poderei fazer esse debate de forma ampla. Já na História minha atuação é exatamente para fazer debate de raça.

Para encerrar, qual o seu conselho para os negros que querem seguir nestas áreas?
Trabalhar em banco público é ótimo, no sentido da segurança, da estabilidade, dos benefícios, que não existem em muitas áreas. Dá pra trabalhar em banco fazendo algo que se gosta. E tem lugar para quase todos os tipos de profissão. Apesar de trabalhar como administradora, existem atividades que poderiam incluir o trabalho de historiadora (em menor quantidade, infelizmente).

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domingo, 6 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA, LUANA FERREIRA

novembro 06, 2016 0
Foto: Carlyle Ramos | Luana Ferreira - Belo Horizonte
Luana Ferreira tem 24 anos e é Gestora de Recursos Humanos. O curso que habilita este tipo de profissional é um superior tecnólogo, com a duração de até dois anos e meio formando profissionais essenciais para a vida das empresas atualmente. A gestão de recursos humanos é uma área importantíssima quando consideramos a atuação do profissional negro que pode, não só identificar a disparidade racial dentro de uma instituição, como também, atuar buscando soluções para este problema. Na entrevista de hoje, Luana Ferreira contou para o blog, sobre os desafios desta profissão.

Você escolheu esta profissão ou “foi escolhida”? Quando?
Escolhi fazer Gestão de Recursos Humanos por que é uma área que envolve pessoas, onde eu pude lidar diretamente e me desenvolver, não só profissionalmente mas pessoalmente também. Demorei a me decidir qual curso fazer, gostava da área administrativa e não queria fazer Administração, mas sim um curso que além de ser da área administrativa, fosse ligada a gestão de pessoas, foi quando eu escolhi fazer Gestão de Recursos Humanos. 

Uma dificuldade que você poderia citar, relacionada ao fato de ser negra e atuar nesta área profissional?
Uma dificuldade dessa profissão de RH é você lidar com vários tipos de pessoas e o fato de eu ser negra bate muito com isso. Muitas pessoas não aceitam o fato de uma negra ter primeiramente, uma formação acadêmica e ter um cargo até mesmo de liderança em uma empresa. 

E é possível pensar e propor soluções, considerando o recorte racial e as desigualdades causadas pelo racismo estrutural, dentro da sua profissão?
Não é fácil. Infelizmente muitas pessoas ainda não aceitam um negro com voz ativa em um mercado de trabalho, mas não podemos desistir. 

E, para finalizar, qual conselho daria aos futuros Gestores de RH e negros?
Haverá muitas dificuldades no caminho, mas se é a área que você quer estar, vá em frente e ocupe.

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sábado, 5 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA, LAVÍNIA ROCHA

novembro 05, 2016 1
Foto: Taylor Abá Fotografia | Lavínia Rocha - Belo Horizonte
Lavínia Rocha tem 19 anos e é escritora! Isto mesmo, não se deixe enganar por esta carinha de menina, apesar da pouca idade, Lavínia já tem quatro livros publicados que fazem muito sucesso Brasil afora. Hoje Lavínia cursa história na mesma turma que eu, na Universidade Federal de Minas Gerais pude conhecer essa mulher negra, escritora, empoderada e muito talentosa. 
A profissão de Lavínia ainda não conta com curso superior no nosso país, mas não custa nada torcermos para o curso de Escrita Criativa chegar logo às nossas faculdades, podendo assim revelar novos talentos. Na entrevista de hoje, você vai conhecer um pouco mais sobre ela e a relação com esta profissão tão linda.

Você escolheu esta profissão ou “foi escolhida”? Quando?
Quando eu escrevi meu livro, aos 11 anos, eu não pensava que poderia me tornar escritora, parecia algo distante demais para mim. O que me levou a esse universo foi a insistência de uma amiga e o apoio da minha mãe. Hoje não consigo me ver fora da carreira de escritora. Aos 13 anos publiquei o primeiro livro, mas escrever era mais como um hobby. Quando fui contratada por uma editora e publiquei meu segundo livro, aos 17, tudo se tornou mais sério e mais profissional.

Alguma dificuldade na sua profissão, que possa ser relacionada às questões raciais?
O mundo editorial ainda é muito branco. Há dias estou tentando pensar em exemplos de autores negros que conheço, que fazem parte do meu convívio ou que escrevem para o mesmo público que eu, mas não consigo pensar em nem cinco colegas de profissão - isto porque participo de feiras, eventos e bate-papos em diversas cidades e acabo conhecendo muitos autores. Por esse motivo, colocar em debate a representatividade na literatura se torna uma tarefa extremamente árdua. Muitos colegas não têm o mínimo conhecimento, não se esforçam para isso ou pior: fazem um desserviço para a literatura ao criar personagens negros estereotipados e ao abordar racismo de forma desrespeitosa. Acho que essa seja uma das maiores dificuldades no universo literário.

Você considera possível inserir seu posicionamento crítico, acerca de raça, no dia a dia da sua profissão?
O tempo todo! Quando comecei a resgatar minha identidade negra, a ler sobre o movimento negro e a me cercar de amigos militantes, minha visão sobre o mundo mudou completamente. Antes sempre sentia necessidade de me parecer com as mocinhas e de me relacionar com garotos iguais aos mocinhos. Depois, com tudo que estava assimilando, me tornei uma pessoa mais crítica e percebi o que tanto me incomodava no mundo literário: nunca me senti representada. Associado a isso, comecei a ver que meus leitores assimilavam muito sobre sociedade inclusiva, o tema que escolhi para o meu segundo livro, De olhos fechados, em que a protagonista é cega, e foi aí que entendi o poder que a literatura pode exercer. Decidi usar essa ferramenta para criar personagens que eu gostaria de ter conhecido na minha adolescência e para abordar temas que precisamos discutir urgentemente, mas sempre com a noção de que escrevo para crianças e adolescentes e preciso trazer exemplos e situações cotidianas na linguagem deles.
Além dos livros, mantenho esse mesmo debate nas redes sociais, que atualmente são grandes aliadas dos escritores. Procuro sempre trazer textos, vídeos e imagens sobre o assunto, e é bastante gratificante vê-los interagindo comigo, debatendo sobre o tema e enviando mensagens de histórias pessoais.

Um bom conselho para quem deseja, assim como você, se tornar um escritor e sendo negro, no nosso país?
A carreira de escritor é bem complicada, mas a dica principal é: não desistam. Precisamos ocupar o mundo editorial, precisamos de personagens que nos representem e precisamos falar sobre racismo em uma sociedade que ainda acredita no mito da democracia racial! Então, ainda que haja muitas dificuldades, continuem persistindo e tentem de outras formas (como publicação em plataformas digitais, por exemplo)!

Amanhã, uma nova entrevista, com uma profissional de outra área. Vamos juntos dar um novo significado à esta expressão, nós podemos tudo! |Entrevista Anterior|

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA, CIDA SANTOS

novembro 04, 2016 0
Foto: Ly Cavalcanti | Cida Santos - Belo Horizonte
Maria Aparecida da Silva dos Santos ou, como é mais conhecida, Cida Santos, empresária e dona da marca "Nega Badu" que produz acessórios afros em Belo Horizonte. Com peças exclusivas em suas coleções, a grife Nega Badu é presença garantida nas feiras de afro empreendedores na cidade. 
Cida Santos sempre trabalhou com artesanato, mas foi no mercado da moda que ela se encontrou e encontrou portas para investir de vez no seu trabalho. Na hora de responder se ela escolheu ou foi escolhida por esta profissão, Cida Santos diz que acredita que foi uma espécie de casamento perfeito, "comecei a fazer artesanato para me ocupar e quando vi , já estava de corpo e alma".
Na sua profissão, você encontra alguma dificuldade que, no seu ponto de vista, esteja relacionada ao fato de ser negra?
A dificuldade está em fazer o cliente reconhecer o valor do meu trabalho e entender que é exclusivo, artesanal e com estilo.
E a dificuldade relatada por ela também é sentida por vários profissionais negros em suas áreas, sejam elas quais forem, a valorização da mão de obra negra é historicamente minimizada em todas as situações.


Cida, no dia-a-dia da sua profissão, você consegue inserir seu posicionamento crítico em relação às questões raciais?
Às vezes consigo dependendo do local que eu levo meus acessórios, como em escolas, eventos e palestras. Nestes locais, normalmente eu consigo falar e mostrar minha posição em relação ao assunto.
A maioria dos afro empreendedores de Belo Horizonte, por exemplo, expõe seus trabalhos em feiras que contemplam exatamente este recorte racial, talvez por isto, se torne mais fácil abordar os assuntos sob uma ótica empoderada.


E, para finalizarmos, Cida, um conselho que daria para os negros que desejam se profissionalizar na mesma área de atuação que você?
Perseverança, acreditar no que faz.


Amanhã, uma nova entrevista, com uma profissional de outra área. Vamos juntos dar um novo significado à esta expressão, nós podemos tudo! |Entrevista Anterior|

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA THAIS ANGÉLICA

novembro 03, 2016 1
Foto: Arquivo Pessoal | Thais Angélica - Belo Horizonte

Thais Angélica é mineira, de Belo Horizonte. Blogueira, Maquiadora e atualmente incorporando uma nova profissão ao seu currículo: afro empreendedora. Assim como centenas de mulheres negras, Thais também se tornou dona do seu próprio negócio, resistindo mais uma vez. Ela tem formação pelo Instituto Embelleze como maquiadora e curso de trancista profissional.
Na entrevista de hoje, Thais resume sua trajetória e conta um pouco sobre ser mulher, negra e multiprofissional.

Thais, as profissões lhe escolheram ou você escolheu a elas?
Nunca pensei em trabalhar nessas áreas, mas a partir do meio social em que vivo, por interesse nestas áreas acabei decidindo me profissionalizar há pouco mais de um ano.

Alguma dificuldade dentro das suas profissões que, para você, tem relação com o fato de você ser negra?
Como maquiadora é muito complicado encontrar produtos voltados para a pele negra, como blogueira recebo muitos comentários racistas e como afro empreendedora até agora só tive retorno positivo.

Nas áreas em que você atua, é possível inserir posicionamento crítico, em relação às questões raciais?
Sim, trabalho com o empoderamento negro, principalmente da mulher negra, tento estar o mais engajada possível para me empoderar cada vez mais e assim empoderar os outros.

E, para finalizar, se tiver que escolher um conselho para profissionais que desejam seguir nesta linha, qual será?

Estudem muito, sempre vão achar que você sabe pouco simplesmente pelo tom da sua pele, mostre que você sabe, seu comprometimento!

Amanhã, uma nova entrevista, com uma profissional de outra área. Vamos juntos dar um novo significado à esta expressão, nós podemos tudo! |Entrevista Anterior|

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

NOVEMBRO NEGRO | SERVIÇO DE PRETO: CONHEÇA SANDRINHA FLÁVIA

novembro 02, 2016 0
Foto: Carol Lopes | Sandrinha Flávia - Belo Horizonte
Sandrinha Flávia é mineira, de Divinópolis e é também o que nós podemos chamar de multiprofissional, ela é Radialista, repórter, mestra de cerimônia, assessora de comunicação, produtora de eventos, empresária e editora da revista Canjerê. Atualmente, graduanda em jornalismo, Sandrinha está prestes à incorporar ao seu currículo uma nova profissão.
Mestre de cerimônia bastante requisitada, principalmente, nos eventos de temática afro que acontecem em Belo Horizonte, Sandrinha já é bastante conhecida por aqui. Na entrevista de hoje, vamos saber um pouco mais sobre uma, dos muitos de serviços desta preta: Locutora!

Sandrinha, você diria que escolheu ou foi escolhida, para exercer esta profissão?
É uma pergunta interessante! Em 2002 eu trabalhava nas lojas Rede na cidade de Divinópolis. Meu diretor dizia que achava a minha voz bonita (eu não acreditava). Comecei a anunciar algumas ofertas, morria de vergonha rsrsrs. Após sair da empresa, fiz um curso de locução com o mestre Garcia Júnior. Eu só fiz o curso, porque o diretor geral da empresa quase implorou para que eu pegasse o meu acerto e investisse na profissão de locutora. Durante o curso fui indicada para uma vaga de locutora em um shopping da cidade, após 1 ano recebi o primeiro convite para atuar numa rádio em Carmo do Cajuru, foi a porta de entrada. Fiz outro curso na Escola para Locutores Beth Seixas e foi este curso onde percebi que "até que eu tinha chance de ser uma grande profissional" mas, no fundo eu não sabia se eu queria, eu tinha a autoestima muito baixa, achava que era demais pra mim e que jamais teria condições de atuar na área. Antes eu achava que fui empurrada para a profissão, hoje analisando a minha trajetória, entendo que eu nasci para essa função. Na infância eu era apresentadora de um programa chamado Show Arco Iris rsrssr, era uma brincadeira onde eu apresentava um programa para as crianças da rua onde eu morava. Tinha show, brincadeiras e até as minhas assistentes: as Arcoketes!

Das dificuldades que você vê na sua profissão, associa alguma ao fato de ser uma profissional negra?
A maior dificuldade foi por eu não acreditar no meu próprio potencial e isso se deve ao fato de eu ser negra, sem dúvida nenhuma. O racismo me abafou, me calou durante anos e não me deixava avançar. Eu não me sentia digna de atuar na profissão, achava que só as pessoas brancas podiam. No início eu ficava incomodada quando os ouvintes iam me conhecer, manifestavam frustração quando viam, uma ouvinte até chegou a dizer que estava decepcionada porque achava que eu era loira e alta. Eu demorei muita para me afirmar na profissão, nem todos os eventos querem colocar uma mulher negra e crespa como mestra de cerimônia. Tem eventos em que vou trabalhar que é necessário uma luta para provar na portaria que eu sou a MC contratada.

No dia a dia da sua profissão, é possível inserir seu posicionamento acerca das questões raciais, de forma crítica?
Às vezes consigo, depende de onde estou atuando. Acho que o fato de ter uma mulher negra como locutora, repórter ou mestra de cerimônia já é uma forma de proporcionar uma boa reflexão pra muita gente. No meu trabalho fixo, na Nossa Rádio BH, conversamos abertamente sobre racismo nos bastidores. Sinto que essa temática ganhou força na emissora. Quando estou no ar consigo inserir a pauta mas, de forma bem sutil ainda.

E para finalizar, um conselho aos negros que desejam seguir nesta linha profissional:
Estudar muito e ter a certeza de que você também pode. Colocaram na minha cabeça que eu não podia, eu fui na marra e com várias pessoas empurrando, porque eu não acreditava que eu podia. VOCÊ PODE, não se esqueça disso!


Ser mulher e negra, numa sociedade racista e machista não é fácil, mas com muita resistência, esta profissional está provando que "Serviço de preto, também é muito bem feito"! 
Amanhã, uma nova entrevista, com uma profissional de outra área. Vamos juntos dar um novo significado à esta expressão, nós podemos tudo!

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