sábado, 22 de dezembro de 2018

sábado, 15 de dezembro de 2018

CINCO MOMENTOS EM QUE FEMINISTAS BRANCAS FORAM TÓXICAS AO MOVIMENTO DE MULHERES NEGRAS

dezembro 15, 2018 4
A Brazilian family in Rio de Janeiro by Jean-Baptiste Debret 1839
"Vocês querem separar o movimento...", "Estamos todas sob a mesma opressão...", "Eu acho que você não entendeu direito o que eu quis dizer...”
Essas e outras frases são comuns nas falas de mulheres feministas que, embora acreditem estar em defesa de todas as mulheres, ainda tem seu julgamento e atitudes formados por estereótipos racistas, mas é como diz aquele velho ditado: de boas intenções o inferno está cheio!

1 – ELA É QUASE DA FAMÍLIA...

A relação das mulheres brancas – e ricas – com o serviço doméstico é algo que antropologia precisa urgentemente estudar. Em African Woman - A Political Economy, da autora Meredeth Turshen, publicado em 2010, a autora discute como a liberdade das mulheres brancas de classe média levou as mulheres negras das classes mais baixas africanas à outra opressão, a de estarem relegadas a executar as tarefas dentro do lar para aquelas mulheres que alcançaram a sua “liberdade profissional”. Embora esteja clara a intenção de escrever isso, acho interessante explicar que: isso não é sobre querer que as mulheres brancas não saiam de casa e conquistem seus empregos, é sobre dizer que elas precisam logo entender que a liberdade construída em cima da opressão de mulheres negras não contempla as mulheres negras.

2 – ABAIXO O PATRIARCADO OS HOMENS DO MUNDO!

Aqui concordamos em um ponto, a estrutura da sociedade patriarcal não é positiva para nós, mulheres. Isto é um fato. O machismo, que não é o contrário do feminismo, não é positivo e não nos contempla, nos mata, nos fere e nos violenta todos os dias. Nós, mulheres negras, somos provas físicas e numéricas de que o machismo mata. Nos últimos 15 anos, segundo o mapa da violência divulgado em 2016, o número de mortes violentas das mulheres brancas caiu pouco mais de nove por cento, enquanto o assassinato de mulheres negras subiu mais de 50%, então, nós precisamos sim gritar contra o sistema que está posto. Por outro lado, há uma dificuldade de compreender as mulheres negras que ao mesmo tempo que lutam contra o machismo também lutam pelos homens negros. A população carcerária do Brasil cresceu mais de 600% nos últimos 10 anos, em especial após a nova lei “antidrogas” que criminaliza o pequeno comércio e os homens negros são a maioria nas prisões - a autora Juliana Borges discutiu em seu livro O que é encarceramento em massa? (2018) o aumento exponencial da população carcerária e vale a pena a leitura. Estes homens são nossos filhos, irmãos, amigos, companheiros, netos, sobrinhos e somos nós, mulheres negras, muitas vezes a única esperança de alguém lutando por seus direitos aqui fora. Portanto, quando você feminista branca acredita que o problema está unica e exclusivamente nos homens, nós temos muito ainda para lhe mostrar.

Mãe Preta (lLucílio de Albuquerque), tela, c. 1917, Museu de Arte da Bahia

3 – A NUDEZ EMPODERADORA QUE NEM SEMPRE NOS CONTEMPLA

É importante saber que cada uma faz do seu corpo o que quiser, mas, um resgate histórico breve do lugar do corpo da mulher negra em nossa sociedade mostra muito bem onde a nossa nudez foi colocada. O corpo negro, tanto homens quanto mulheres, é historicamente hipersexualizado e, como disse Elza Soares, “A carne mais barata do mercado é a carne negra...”. Esse lugar de peça exposta já foi dado as mulheres negras desde o nosso primeiro sequestro, os estupros praticados pelos senhores ou mesmo os castigos impostos pelas sinhás quando as mulheres negras “seduziam” seus maridos – lê-se, eram estupradas por eles – tudo isso é reflexo da forma como nosso corpo é apresentado e, ainda assim, há várias críticas do feminismo branco à episódios como no caso em que foi – finalmente – vestida a “Globeleza”. Este corpo besuntado de óleo e exposto nu não é mesmo a representatividade que estamos buscando e vestir o símbolo nacional da “mulata do samba” para nós é uma pequena vitória.

4 – OS ESTEREÓTIPOS DE FEMINILIDADE

Ao mesmo tempo que comemoramos o progressivo fim da Globeleza nós ficamos felizes quando mulheres negras vencem o concurso de Miss Brasil. Aí a feminista branca se pergunta, 
“MaS cOmO aSsIm?”.
Então, minhas caras, lhes explico: O lugar de carne barata, da mulher “não mulher”, daquela que tem que lutar para ter sua humanidade e feminilidade reconhecidas sempre foi das mulheres negras. Entendemos que o machismo coloca as mulheres – todas as mulheres – em lugar de inferior ao homem, mas, no caso das mulheres brancas ambos continuam sendo humanos e de nós foi tirada inclusive a humanidade. Angela Davis discute em seu livro Mulheres, classe e raça (2016), como as mulheres negras foram, junto com os homens negros, retiradas da categoria de humanas. O discurso de Sojourner Truth no século XIX (1851) é um grito por existência, humanidade e, porque não, feminilidade. Por isto, entendam, lutar contra os estereótipos de gênero ligados as mulheres brancas – princesinha, sensível, aquela que necessita de cuidados – não é uma pauta que historicamente seja das mulheres negras, afinal, não sou eu uma mulher? Pois bem, ter a nossa humanidade e feminilidade reconhecidas também pode ser então positivo neste sentido. O mesmo sobre as flores do dia da mulher, como disse anteriormente, nós somos a prova física e numérica da violência contra mulher e flores definitivamente não eliminam as nossas mortes, mas, queremos as flores também, queremos a humanidade também.

5 – PORQUE RADFEM NEM É GENTE!

Ah, os memes, estes que se expressam melhor do que eu jamais poderia!
O feminismo radical, que certamente deve ter coisas mais interessantes do que esta parte que menciono, é um bom exemplo de como o feminismo branco – e entendo que podem haver mulheres negras nesse movimento, fazer o quê?! – ainda precisa entender muito sobre recortes. O Brasil é o terceiro país mais perigoso para uma pessoa trans ou travesti, o país que mais mata e mais consome pornografia do gênero, ao mesmo tempo e ainda assim é possível encontrar discursos contra a população transexual dentro desta vertente do feminismo. Se cruzamos os dados teremos então a cor das pessoas trans que mais sofrem. E o mais curioso nisso tudo é que, a raiz do movimento do feminismo radical, veio exatamente da necessidade de acolher os homens trans, bizarro, não?
As mulheres transexuais são diariamente empurradas para a prostituição por motivos óbvios, o racismo é mais um ingrediente da criminalização destes corpos e para completar conseguimos encontrar um movimento feminista que – certamente, entre outras pautas relevantes – se dedica a discriminar estas mulheres. A pergunta que não quer calar é: precisa mesmo?
Toda a problemática de performar gênero e feminilidade já foi respondida no tópico anterior deste texto, se não entendeu, basta voltar um ponto.


Por fim...

Precisamos entender que dizer tudo isto não é uma conclusão de que a vida das mulheres brancas está ótima, um conto de fadas, acabou machismo, nada disto! Mas, reconhecer as diferenças é o primeiro passo para solucioná-las, apagar as diferenças que a raça provoca dentro do gênero e fazer com que estas divergências não sejam discutidas é a maneira mais eficiente de fazê-las permanecer. Só poderemos considerar o feminismo uma luta de todas, quando todas estas pautas  forem discutidas e antes de mencionar que o feminismo não é "mãe" para "resolver todas as opressões", eu te pergunto, "E não sou eu uma mulher?".

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

PRÊMIO LÊDA MARIA MARTINS - SEGUNDA EDIÇÃO

dezembro 11, 2018 0
Equipe do Prêmio, Leda Maria Martins
O Prêmio Leda Maria Martins celebra as produções negras de teatro, dança e performance de Belo Horizonte, de todos os tempos.

Para a segunda edição, a novidade da premiação é a relação da Arte e a Educação. A equipe da premiação é formada por homens e mulheres que, além de artistas, são pesquisadores em Educação na Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG). 

Luciana Matias, Evandro Nunes, Eneida Baraúna, Rikelle Ribeiro, Ana Martins, Denilson Tourinho, Letícia Souza e Guilherme Diniz, compõe a equipe que coordena a premiação este ano.

A premiação acontece no próximo dia 12 de dezembro, quarta-feira, às 18:00. O evento será realizado no Auditório Paulo Camillo – Rua Bernardo Guimarães, 1600, no bairro de Lourdes.

A entrada gratuita, então não tem desculpa para não prestigiar a nossa cultura, não é mesmo? Mas, fiquem atentos, a capacidade de público será reduzida e o espaço sujeito à lotação.

Mais informações através do e-mail: premioledamariamartins@gmail.com.

domingo, 9 de dezembro de 2018

DESODALINA E MONALIZ - SUPLEMENTOS ALIMENTARES PARA EMAGRECIMENTO

dezembro 09, 2018 0
Com a correria do dia a dia e a idade chegando, além de melhorar a alimentação e fazer exercícios, a gente precisa de uma ajudinha extra - sob orientação médica/profissional, claro! É neste sentido que aparecem a Desodalina* e o Monaliz**.

Desodalina e Monaliz - Suplementos alimentares para emagrecimento
Ambos os medicamentos dispensam a necessidade de receita para a compra, o que não quer dizer que você possa utilizá-los sem a supervisão médica (nutricionista ou educador físico, por exemplo). Além disto, a Desodalina e o Monaliz não são indicados para gestantes, nutrizes (mães que amamentam) e crianças Gestantes, nutrizes e crianças de até 3 (três) anos (por motivos óbvios, ? Quem vai dar suplemento alimentar de adulto à uma criança?).

Ambos são considerados complementares na busca pela perca de peso, andam ali de mãozinhas dadas com uma alimentação saudável, uma rotina de exercícios e acompanhamento médico. Então, porque não testar mais este aliado?

As duas caixinhas chegaram aqui em casa esta semana e, depois de uma boa pesagem incluirei estas gracinhas a minha rotina. 

A ideia destes dois é aumentar a sensação de saciedade ou em bom português, inibir o apetite, por isto a necessidade de uma alimentação saudável, afinal, você vai reduzir a quantidade de alimentos que ingere e esta troca deve ser compensada pela qualidade.

Desodalina e Monaliz - Suplementos alimentares para emagrecimento
A sugestão de uso do fabricante para o Monaliz é de um comprimido diário, junto a principal refeição. Já para a Desodalina a recomendação é de duas a quatro capsulas por dia, acompanhadas de no mínimo dois copos d'água, trinta minutos antes do almoço. Uma informação importante é que, para aos alérgicos a frutos do mar a Desodalina não é recomendada, pois contém dericados de peixes e crustáceos.

*Desodalina - suplemento alimentar Sanibras. 30 comprimidos.
**Monaliz - suplemento alimentar Sanibras. 60 cápsulas.

sábado, 8 de dezembro de 2018

"Poxa, nenhuma branca..." OU, SOBRE COMO A BRANQUITUDE NÃO É O CENTRO DO UNIVERSO

dezembro 08, 2018 0
Precisamos parar de existir apenas em contraposição à existência do outro. Isto é urgente.

Quem cria "o outro" é quem o nomeia. Para explicar melhor, o "negro" só existe em contraposição ao "branco", isto está bem explicadinho em Fanon, em Pele Negra, Máscaras Brancas, dá uma lidinha neste clássico, com amor. Em África nós não éramos apenas os negros, eram os Bantus, Congoleses, Zulus, estávamos nos impérios de Gana, Mali, no Egito Antigo. Eram médicos, mestres, homens e mulheres, não apenas negros isto é uma invenção da branquitude, do colonialismo, da dominação, não nossa. E é exatamente por isto que é perigoso continuar existindo apenas dentro desta condição de oposição à este conceito criado pelo colonizador.

Mulheres e homens afro brasileiros são uma multiplicidade de seres. Assim como fomos no período pré-colonial, hoje somos médicos, professores, artistas, escritores, mães, avós, pais, reis, rainhas, pessoas de sorte. E podemos ser tudo isto sem o contraponto branco. Crítica da Razão Negra, livro de Achille Mbembe, discute a formação dessa identidade que surge em contraposição ao branco e busca exatamente resgatar os nossos próprios termos de comparação. Ou seja, é como dizer que nossas referências também podem ser negras, não existe aqui uma disputa ou uma intenção de ocupar o lugar do outro. 

Esta semana, com o lançamento do feat desastroso de Mano Brown e Cléo Pires, surgiram vários comentários defendendo e acusando o cantor – como se coubesse algum tipo de acusação ao fucking Mano Brown – e um deles em particular me chamou atenção. A defesa se baseava em algo mais ou menos assim:

"Vocês estão bravos porque ela não escolheu um branquinho do olho azul pro clipe."

Minha gente, pelo amor de Oxalá.. Quem é que quer ocupar esse lugar!? Representatividade do que?

Participação de Mano Brown no clipe da Música "Melhor que eu" - Disponível no Youtube
Comentários no mesmo sentido puderam ser lidos quando Flávio Renegado, Rapper de Belo Horizonte, colocou mulheres negras – conscientes e de maneira consentida – num clipe simulando sexo, na penumbra – eu odiei! Pronto, bastou isso para que os comentário de “defesa” se baseassem em: “Vocês estão achando ruim porque ele não colocou mulheres brancas do olho azul...”. Querida, eu não! Lembrando que o refrão da música trazia o “acabou o amor, agora é só luxúria”, basta dar uma olhada na carreira do rapper para sabermos onde cabe amor, não é mesmo?

Cena do clipe da música "Luxo Só" - Disponível no youtube
Voltando as contraposições, esta é uma discussão cara e urgente, precisamos parar de existir apenas como contraponto de um outro ou outros. Quando procuramos em marcadores coloniais a nossa afirmação, a nossa existência, o nosso sucesso, não tem como dar certo, não tem como funcionar. 
Pois procurar ser tão bom quanto – insira aqui pessoas que tem uma trajetória totalmente diferente da sua – não faz nenhum sentido, pois, parafraseando Fanon: nós não buscamos ocupar o outro lado, nós queremos destruir o outro lado, nós queremos que não haja lados e só então será possível discutir, só fora da situação colonial é que teremos condições de (re)existir. 

Nós somos bonitos porque somos, porque basta olhar no espelho para ver o quanto nossos traços são maravilhosos. Nós somos fortes porque somos, porque basta ver que o mundo inteiro vem de nós. Nós somos inteligente porque somos, basta ver nossas contribuições para as ciências. Eu sou porque somos porque nós somos.

Nós somos diversos, plurais, múltiplos – sim, se repetir é necessário neste caso – podemos ser nossos próprios contrapontos. Já pensou nisto?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O corpo.

dezembro 03, 2018 0

Parar para pensar no local que o corpo negro ocupa dentro da nossa sociedade, às vezes é uma tarefa mais pesada para os nervos que para o intelecto.

O homem negro, historicamente hipersexualizado e levado ao extremo da humilhação, não se difere da mulher negra na gravidade dos ataques, mudamos a forma como as opressões acontecem, mas, elas continuam existindo. A obrigação de ser sempre o "machão", o "ativo", o "reprodutor" sempre disponível e aqueles que algumas vezes ousam colocar sentimentos a frente desta virilidade imposta  são colocados em lugar de negros com defeito, tudo isso recai sobre o homem preto.

Para a mulher negra sobra o lugar as vezes de corpo invisível, as vezes menos mulher, outras a carne para descarga das outras carnes, sempre assim, um corpo, abusado ou exposto, isso, um corpo.

Pensar no lugar do corpo negro sem falar de amor é negar à nós um novo lugar de humanos, que além de corpos que servem à outros têm sentimentos que podem ser trocados com o outro.

Amor preto cura. Amor preto humaniza. 💓

sábado, 1 de dezembro de 2018

A IMPORTÂNCIA DA ESCRITA NEGRA

dezembro 01, 2018 0
A história ancestral negra é marcada pela oralidade. Assim construímos e solidificamos tradições ao longo dos anos, inclusive os anos de escravidão, tráfico, torturas, violências e depois sobrevivendo ao genocídio, apagamento cultural, políticas de embranquecimento e etc... A oralidade foi e vem sendo a maneira que os negros que foram sequestrados pra cá, ou os que nasceram aqui, encontraram de resistir e fazer sobreviver a nossa cultura.
Por outro lado também vemos a necessidade de registrar nossas histórias ou, como diria Conceição Evaristo, cresce a necessidade e emergência das nossas Escrevivências. A importância da escrita negra vem sendo cada vez mais percebida e, note, estou longe de falar apenas sobre a escrita acadêmica.



Unicamp, dita por algumas pessoas como "a casa grande da acadêmia", incluiu o álbum Sobrevivendo ao inferno, de 1990, à leitura obrigatória para o vestibular de 2020. 
Ainda causa espanto para algumas pessoas, que um álbum longe de ser considerado clássico entre para a lista de um vestibular tão concorrido como o da Unicamp, mas, para repetir as palavras do coordenador executivo da comissão organizadora do exame (Comvest), José Alves de Freitas Neto, que também é professor de História: "As críticas feitas neste álbum permanecem atuais".

Para além de entrar para a lista de um dos vestibulares mais disputados do país, o que pode ser fácil para qualquer pessoa medíocre que não seja atingida pelo racismo, a escrita negra tem vários outros aspectos relevantes. A reconstrução da nossa autoestima, por exemplo, pode ter como ferramenta o que homens e mulheres negras vem escrevendo nos últimos tempos. Escrevendo com a planejada intenção de ser voz para uns que ainda não tem coragem de se expressar, ou ser apoio para outros que ainda se sentem sozinhos em meio as pauladas que o racismo nos dá, dia após dia.

Músicas, sambas-enredo, filmes, peças de teatro, blogs, canais de comunicação em geral, livros, teses e dissertações tem sido cada vez mais escritas por homens e mulheres negros. Isso significa começar a subverter uma ordem que aparentemente estava dada e era isso mesmo que ia acontecer... Mas, talvez não. Talvez nós tenhamos o que falar sobre nós.

Recentemente ouvi de uma amiga, que está no meio de seu doutorado, críticas pesadas à sua própria escrita. Ela repediu algumas vezes sobre como "escrevia mal" e sobre ter ciência da própria dificuldade de escrita. Procurei ouvir, porque era o papel que me cabia na hora. Mas, duvido muito que uma mulher, negra e com um grande pacote de particularidades em sua história, tenha chegado aonde ela está "escrevendo mal". Isso não é um luxo ao qual uma pessoa negra pode se dar. Se ela de fato "escrevesse mal", sou capaz de apostar que ela não estaria neste lugar dentro da academia.

O que acontece, e muito, é que somos constantemente tomados pela nossa oralidade. E, oras, não há como se afastar daquilo que é essencialmente nossa marca cultural, nossa origem. É difícil se desfazer completamente das suas origens, principalmente se for para cumprir uma agenda de exigências eurocêntricas que tentam a todo custo embranquecer nossas escritas para tolerá-las. 

A nossa missão passa a ser então, conciliar nossa maneira de Escreviver nossas histórias e registrar nossa marca para além da oralidade, na escrita. Sem deixar, no entanto, de marcar a nossa existência também nessa parcela da história. Como diria Lélia Gonzales, homens e mulheres negras ao falarem "assumem um risco", mas, um risco extremamente importante ao meu ver.

Podemos hoje registrar em jornais, revistas, livros, trabalhos acadêmicos, blogs, canais de vídeo e outras tantas formas de produzir História, a nossa própria marca, a nossa própria maneira de viver e ver o que acontece conosco. Para, num futuro breve, inaugurar uma nova leva de documentos em que estejamos nós mesmos falando de nós. Escrever, para homens e mulheres negros, é mais que colocar de maneira ordenada palavras no papel, é registrar de maneira fiel e próxima, aquilo que sabemos que é a nossa própria História.

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