Amar sem medo é um privilégio |
A vida às vezes nos coloca para pensar nos nossos "privilégios".
Já falamos sobre isto aqui. Numa sociedade que é machista e racista, é impossível dizer que uma mulher preta e bissexual tem algum privilégio. Mas, então vamos falar de acessos.
A não-monossexualidade não é a situação mais confortável. A sociedade é homofóbica, os desconstruídos buscam lidar com a não-heterossexualidade de uma maneira mais suave, mas, ainda pecam quando a caixinha abre para uma sexualidade que abarca ambos os gêneros. Ainda estamos caminhando na intenção de fazer as pessoas entenderem isso.
Mas, os desconstruídos nem sempre estão dentro da nossa casa. Ou, se estão, somem quando a não-heterossexualidade bate à porta com um familiar. E essa é uma reflexão que se torna inevitável quando você pára para pensar: "Opa, eu vou apresentar uma namoradinha em casa!"
Os números de mortes por homofobia crescem a cada dia, no Brasil: no ano de 2018 foram registradas 419 mortes de pessoas LGBT tendo a LGBTfobia como motivação. A fonte é o site Quem a homofobia matou hoje?, que apresentou um ranking realizado pelo GGB - Grupo Gay da Bahia. Minas Gerais ocupa o 20º lugar entre os 27 estados brasileiros, contabilizando 27 mortes no ano de 2018. Para além das mortes registradas, os casos de violência aumentam todos os dias. A eleição de um governo fascista, pautado em preconceito e ódio deixou às claras muitos dos eleitores que, motivados pela cólera, votaram neste governo. A consequência dessa onda de retrocessos não é obviamente o próprio presidente eleito ou o exército entrando nas casas e matando pessoas LGBT - como gostam de repetir, em tom debochado, seus eleitores - mas, significa que a institucionalização do preconceito e do ódio tornam o Brasil um país "seguro para ser homofóbico".
A não-monossexualidade nos deixa mais próximos de entender as sutilezas da lesbofobia. Isto é, experimentar os dois lados do tratamento social nos faz enxergar com uma nitidez absurda o tratamento que é dispensado a duas mulheres que se amam. As pessoas não se incomodam com casais heterossexuais e isso é fato. Shoppings, cinemas, shows ou no dia-a-dia na rua NINGUÉM SE INCOMODA e isso eu posso dizer de cadeira.
E a coisa muda de figura quando uma mulher decide namorar uma mulher. Muda muito.
E é nessa mudança de figura que reconhecemos o privilégio que significa poder se relacionar em paz, sem brigas, guerras, agressões ou maus tratos. Você, pessoa heterossexual NUNCA vai ter dúvidas se a sua família vai ou não aceitar a pessoa que você escolheu para estar do seu lado - exceto se você tiver um família racista, classista ou escrota de alguma maneira, mas, isto é assunto para outro texto. Registradas estas exceções, os demais casos não tem o que temer. Mas, você já parou para pensar que casais LGBT têm, por princípio, esse medo?
Logo, não sentir esse medo é um privilégio.
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