"Ah, mas, mulher preta também erra...". Erra, claro que erra! Mas, aqui estamos na frente de um probleminha bem maior.
Imagem: Retirado do site: Negrospe.blogspot.com |
Acontece que vamos agora admitir que a internet também é nossa casa, ou seja, ao admitir que a internet também é um campo de disputa de poder para o povo negro, além de ser plural. Isto é, não é mais de negros versus brancos, mas, pessoas versus pessoas, admitimos que disputas criadas no campo virtual são passíveis de se desenrolar dentro dele, não importando que os personagens sejam pessoas negras. A internet é nossa casa e nossa roupa suja também pode ser lavada aqui.
Pessoas pretas são diversas. "Não somos garras de coca-cola" e não devemos nunca ser considerados como uma massa que pensa e age igual desconsiderando nossas especificidades e está tudo certo em discordarmos. Ou deveria estar.
Quando isso não acontece, a tendência é que várias pessoas se manifestem no sentido de demonstrar que tiveram seus sonhos quebrados, destruídos. Vira as vezes um longo roteiro de lamentação sobre ídolos perdidos. E este comportamento é extremamente perigoso. Primeiro, porque não devemos idolatrar (sem nenhum sentido cristão) as pessoas que admiramos, isto os torna inatingíveis, os desumaniza e corremos o grande risco de nos decepcionar com atitudes que são normais, humanas. E em segundo lugar, é preciso admitir que já passou da hora de colocarmos pessoas negras em locais imaculados (também ignorando o sentido cristão) e completamente perfeitos. Seres humanos negros são diversos.
Mas, para além da preocupação da desumanização por detrás disso, está um outro ponto muito importante: embora esperemos que as pessoas errem, afinal, são humanas, não devemos "justificar" comportamentos que vão contra o empoderamento coletivo.
Em seu livro O que é empoderamento?, a autora Joice Berth destaca a importância de ações coletivas que levam ao empoderamento. O empoderamento individual, este que não vai levar ao avanço da comunidade negra que, mesmo diversa, deve caminhar para a frente. É por isso que lutamos e por isso que entendemos a importância da equidade racial.
As críticas que muitos insistem em pessoalizar, transformar em "ataques de inveja" podem ir muito além disto. Explico.
Pessoas negras com acesso a meios institucionais que a maior parte da população negra não tem, não deveriam usar estes acessos no empoderamento individual, com carreiras e visibilidade – na internet – que lhes permitem acessar alternativas que outras pessoas não tem. Rafael Braga, por exemplo, embora tenha tido visibilidade não poderia nunca usar de artifícios do sistema ao seu favor, por não deter o capital cultural necessário para isso. Já pessoas negras que vivem num meio branco falando sobre a negritude e lucram com isto, tem uma entrada diferente e, ao entrar no sistema para mudá-lo de dentro assumem o risco de que o sistema também aja sobre elas. Neste momento deixam de apenas estar lá dentro para mudar, mas, também passam a fazer com que, em alguma medida, o sistema funcione para elas.
É lógico que, enquanto pessoa preta, este indivíduo jamais irá subverter a ordem social, mas, esses microabusos passam a ser cometidos de maneira deliberada. Aí que é que está, não é mais "um erro ao qual está sujeito todo humano".
Enxergar e sinalizar isto não é desumanização deliberada, não é tirar da pessoa preta o direito de errar. É apontar um erro sistêmico que leva o buraco bem abaixo.
Quem_tem_medo_do_feminismo_negro_djamila_ribeiro_treta_acao_judicial_movimento_negro
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