Dá para amar um corpo com estrias? E celulite? Dá para se amar com "defeito"?
Esta é a perspectiva que corpos comuns foram encaixados para serem enxergados, afinal, é comum ter celulites e estrias, levando em consideração que você é uma mulher adulta com um corpo que tem história para contar, você não é uma boneca de plástico rígido, isto mesmo, rígido, já que até as bonecas de corpo maleável vão acabar tendo marcas de tempo.
Outro fator que encaixa nossos corpos, todos normais, em diversas categorias de anormalidade: o machismo, isto mesmo, aquele conceito social que nos ensina, desde pequenas, a competir e atacar as outras mulheres com base em suas características visíveis, logo, ser gorda, magra, alta, baixa (demais) ou ter estrias e celulite é mais um artifício usado pela rivalidade feminina para categorizar de maneira negativa os corpos umas das outras. Não é incomum ver mulheres se exaltando ou relativizando a beleza das outras usando argumentos como "pelo menos eu visto 38" ou "pelo menos eu não tenho celulite", como se isto fosse fator determinante sobre a felicidade do outro. Isto de fato não deveria ser.
Suposto perfil falso atribuído a ex-bbb Vívian Amorim no Twitter |
A verdade é que na prática estamos tão acostumadas a competir e usar como armas nesta disputa as características dos nossos corpos que ficou comum enxergarmos como defeito o que, na verdade, são marcas das nossas vivências, aquela estria não estaria ali não fossem as mudanças que seu corpo sofreu e só você sabe o significado destas mudanças. Isto não é só responsabilidade do machismo, ele isolado não conseguiria fazer isto, porém, temos a companhia de toda uma sociedade que endossa estes apontamentos, como as revistas, novelas, televisão, telejornal, a mídia "convencional" como um todo mostra o tempo todo que qualquer corpo que não seja magro, liso, "perfeito" e geralmente branco vai ser encaixado como errado. Não importa se para você está tudo bem, se não representa o ideal photoshopado na vida real, você não se encaixa no padrão.
Capas de revista 2018 |
Não há nada de errado com corpos normais, que carregam marcas comuns de vidas que estão longe de serem novelas, estão longe de serem românticas em 100% do tempo, então, qual o seu problema com as suas estrias? Vejamos, se a sua história é só sua, seria normal então que só você tivesse as suas marcas, certo? Então porque se esforçar tanto para ter o corpo de um outro alguém que nunca habitou a sua pele ou viveu a sua vida? As atrizes de destaque da novela das oito, por exemplo, são sempre mulheres magras, geralmente brancas, com um corpo de "dar inveja" e que parecem nunca ter uma dessas marcas "normais" que nós temos.
Bianca Bin e Grazi Massafera fazem parte do elenco de 'O Outro Lado do Paraíso |
Atrizes estas que são comumente massacradas ao serem "flagradas" com uma ou outra "gordurinha" fora do lugar e muitas vezes nós, mulheres comuns, nos juntamos ao coro do julgamento onde o corpo "normal" é enquadrado como defeituoso.
Será possível então ser feliz e encarar de frente uma sociedade gordofóbica, machista e preconceituosa, que coloca as mulheres como objetos a serem qualificados e separados apenas por suas características externas? É possível que nós consigamos nos desfazer destes padrões introjetados? Mais do que isto, como no exemplo ao lado, mulheres que estão longe de poderem ser consideradas gordas, são enquadradas como "defeituosas", por não esconderem ou retocarem marcas naturais de estrias ou celulites, as que são gordas então, melhor nem dizer por não ser meu local de fala, mas, sabemos bem o que a sociedade reserva para as mulheres que são gordas, não é mesmo?
Então, o que separa da felicidade uma mulher com um corpo perfeito e funcional, além do machismo, da rivalidade ou da gordofobia?
Aparentemente nada além disso separa nós, mulheres normais, de conseguirmos nos sentir confortável dentro dos nossos corpos que carregam marcas que são só nossas.
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