segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

PARAÍSO DO TUIUTI FAZ HISTÓRIA (LITERALMENTE) NA AVENIDA

Mesmo que você não goste de carnaval hoje vai ouvir falar do desfile da "Paraíso do Tuiuti". A escola levou para avenida história, protesto, luta e o cenário político atual do Brasil. 

Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO (Reprodução Portal R7)
Foi difícil em especial para os comentaristas da TV que mais lucra em transmitir o carnaval carioca comentar o desfile da Paraíso do Tuiuti, comentários tentando deslegitimar o sofrimento do povo negro como "Podemos ver que o capataz também é negro" acompanharam a entrada da comissão de frente durante os comentários da TV Globo. O abre alas retratou com respeito e a luta e sofrimento dos escravos, utilizando a máscara que era utilizada como castigo aos nossos e ficou popularmente conhecida recentemente após ser usada como estampa por uma marca famosa ou como "jóia" por uma modelo semi-famosa no Brasil.

Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO (Reprodução Portal R7)

O enredo: "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?" dos compositores: Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal, retratou a realidade brasileira além da nossa vontade de fazer parecer que vivemos numa democracia racial. 

"Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o valor? Pobre artigo de mercado
Senhor eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar escravidão e um prato de feijão com arroz"

As críticas seguiram os séculos avançando no que hoje pode ser considerado um estrago causado por nossa herança escravocrata, como as reformas da previdência e trabalhista, que tiraram direitos do povo brasileiro e, em especial, das camadas mais baixas que são "coincidentemente" as camadas mais ocupadas por pessoas negras.

Foto: Reprodução transmissão Globo.
A manipulação daqueles que pediram pelo golpe também foi retratada pela escola e também foi motivo de constrangimento para os comentaristas da dita televisão que, por muitos momentos durante o desfile da Paraíso do Tuiuti tiveram que se fazer de desentendidos para comentar as alas que passavam pela avenida.

(Foto: Fernanda Rouvenat/ Reprodução site: G1)

Estudar história é fundamental para entender os rumos que a política toma no nosso país, entender que a nossa já dita herança escravocrata tem total influência sobre a nossa situação só é possível se conhecermos o que já se passou. O professor Léo Morais veio representando um "personagem com uma faixa que fazia alusão a faixa presidencial, imitando um vampiro e de chifres", por motivos óbvios nem a escola ou o professor afirmam se tratar do presidente em exercício do nosso país, mas, para bom entendedor, meio vampirão basta, não é mesmo? Léo Morais afirma que como professor de história o protesto tudo tem a ver com ele e não poderia deixar de gritar, neste momento crítico do país, mais esta denúncia. A figura do "Presidente Vampirão" veio no último carro batizado de "Navio Neo Tumbeiro", um nome que diz tudo sobre o contexto. Léo também é assistente do carnavalesco da escola e, como sempre digo, história é tudo, a Paraíso do Tuiuti brilhou ao estudar para pisar na avenida, tocando de forma sutil e ao mesmo tempo contundente em pontos cruciais do nosso país. 


O ENREDO DA PARAÍSO DO TUIUTI 2018

Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o valor? Pobre artigo de mercado
Senhor eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar escravidão e um prato de feijão com arroz

Eu fui mandinga, cambinda, haussá
Fui um rei egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se planta gente

Ê calunga! Ê ê calunga!
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou
Onde mora a sengora liberdade
Não tem ferro, nem feitor

Amparo do rosário ao negro Benedito
Um grito feito pele de tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor

E assim, quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação


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