SOBRE VESTIR: QUEM TEM QUE CABER É A ROUPA OU VOCÊ?
Lívia Teodoro
abril 30, 2018
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Você serve às suas roupas ou as suas roupas servem em você? Projetado pelo Freepik |
Para abrir mão de se encaixar num padrão, primeiro você precisa ter consciência do que é fazer parte deste padrão. Mulheres negras não são o padrão social num país racista, pensar isso não seria sequer lógico. Afinal, se o padrão é branco [eu arradiquei!], por princípio, os itens que vem depois (magra, alta, loira, cabelo liso) estão automaticamente debaixo deste grande "guarda-chuva" de regras.
SOBRE VESTIR: QUEM TEM QUE CABER É A ROUPA OU VOCÊ? |
Deu para entender? É basicamente para dizer que, para nós, mulheres negras, é mais difícil abrir mão completamente do padrão e nos sentirmos bem fora dele, porque, mesmo que tenhamos os três requisitos dentro do guarda-chuva, o básico para ser consideradas padrões, ou seja, o próprio guarda-chuvas, não temos.
Estando conscientes desta dificuldade e encarando ela de frente, fica mais fácil partirmos para o ponto central desta discussão: na hora de falar de tamanho de corpo, eu tenho que caber neste padrão ou ele terá de se adequar a mim?
Se você entrar numa loja para experimentar uma roupa que viu na vitrine e ela não servir em você, isso te deixa mal?
O Brasil é um país miscigenado, isso não é um post para discutir o que penso sobre isto, neste momento é importante reconhecer que esta miscigenação (e por consequente, o racismo) tem influência, inclusive, no nosso modelo corporal. Na tv, nas revistas e jornais, na maior parte do tempo o que se vê são corpos que aparentemente não passaram por esta influência, isso acaba refletindo em corpos esguios e que cabem perfeitamente nestas roupas de fast fashion que tanto desejamos e quase nunca entramos.
Mas, não entrar nestas peças é um problema seu ou das roupas?
Se as roupas são feitas para um "padrão", falando apenas de tamanho de corpo, que não é o seu, então são elas que estão sendo feitas para o tamanho errado e não você que "foi feita" errado. Entender isso é o primeiro passo. O segundo é ter consciência corporal.
A distorção da autoimagem é bem percebida quando falamos de casos severos de transtornos alimentares. Isto é quando olham no espelho e têm uma visão deturpada do próprio corpo. Como por exemplo, ser magra e se ver gorda no reflexo. Mas, isto também pode acontecer num outro grau, onde o espelho é a mídia, a propaganda no geral. Olhar para você através de um espelho distorcido, que pode ser a tv, a revista ou a internet, tende a gerar na sua cabeça uma imagem de você que não é real. Daí você vai se olhar de uma maneira, entender que determinadas peças te servem e se frustrar ao tentar vestir percebendo que não é bem assim.
Nem precisa ir tão longe, não precisa sequer chegar ao provador da loja porque talvez isso já tenha acontecido com você na sua própria casa. Sabe aquela calça jeans que você não usa há anos, mas, não desapega porque sempre que olha para ela, tem a impressão de que vai usar algum dia? Até que tenta usar e, adivinha? Não entra!
Você pode ter passado tanto tempo olhando para aquela roupa no seu corpo que, na sua cabeça, ela ainda corresponde a sua realidade. Mas, na verdade não! E retomar esta "consciência corporal" não é nada fácil.
A consciência corporal é muito mais do que ter noção de qual tamanho vestir.
É quase uma filosofia que recomenda que você conheça e reconheça seu corpo como um todo, entenda que cada parte está ali por uma razão e que, juntas, todas estas partes cumprem a maravilhosa missão de te fazer existir.
No nosso caso, mulheres negras, esta consciência corporal também envolve nossa pele, nossa "casca". Mas, vamos nos ater as roupas que vestem estes corpos.
É preciso ter consciência do seu "tamanho" e entender que isto é seu, é único. Nem todas as mulheres que vestem 42 entram na mesma roupa. Existem as que não vestem nem 42, nem 44 e o "43" não existe nas lojas.
Experimente começar a fazer um exercício de desapego, olhar bem para cada uma das suas roupas e se perguntar, primeiro: "Você me serve ou eu te sirvo?". E segundo: Eu sou feliz com você aqui? Isto é, feliz ainda que peça não te sirva naquele momento, mas também não lhe provoca nenhuma angústia em estar ali, "esperando pra servir de novo". Se qualquer uma destas respostas lhe causar incomodo é porque com certeza esta hora de se desfazer daquela peça.
Parece óbvio, mas, entender o tamanho que você veste não é tão simples. E descobrir isto pode fazer de você uma pessoa muito mais feliz: com menos peças inúteis no seu armário, menos dinheiro gasto em coisas que sequer entram no seu corpo e o vivendo seu consumo de maneira muito mais saudável.
É quase uma filosofia que recomenda que você conheça e reconheça seu corpo como um todo, entenda que cada parte está ali por uma razão e que, juntas, todas estas partes cumprem a maravilhosa missão de te fazer existir.
No nosso caso, mulheres negras, esta consciência corporal também envolve nossa pele, nossa "casca". Mas, vamos nos ater as roupas que vestem estes corpos.
É preciso ter consciência do seu "tamanho" e entender que isto é seu, é único. Nem todas as mulheres que vestem 42 entram na mesma roupa. Existem as que não vestem nem 42, nem 44 e o "43" não existe nas lojas.
Experimente começar a fazer um exercício de desapego, olhar bem para cada uma das suas roupas e se perguntar, primeiro: "Você me serve ou eu te sirvo?". E segundo: Eu sou feliz com você aqui? Isto é, feliz ainda que peça não te sirva naquele momento, mas também não lhe provoca nenhuma angústia em estar ali, "esperando pra servir de novo". Se qualquer uma destas respostas lhe causar incomodo é porque com certeza esta hora de se desfazer daquela peça.
Parece óbvio, mas, entender o tamanho que você veste não é tão simples. E descobrir isto pode fazer de você uma pessoa muito mais feliz: com menos peças inúteis no seu armário, menos dinheiro gasto em coisas que sequer entram no seu corpo e o vivendo seu consumo de maneira muito mais saudável.