Como é o processo de inserção do DIU de Cobre |
Durante o processo de decisão para inserção do DIU de cobre fiz muitas pesquisas, li muito material do Ministério da Saúde e da OMS, mas, também li muitos relatos pessoais para entender como havia sido a experiência individual de cada uma. Claro, sabia também que cada mulher é única e, portanto, poderia ser completamente diferente comigo. Como os relatos foram importantes para mim decidi dividir aqui no blog o meu relato pessoal com vocês.
É importante dizer que cada médico tem uma conduta e o ideal é que você fale com o médico sobre todo o procedimento e a forma que ele realiza a inserção. Para saber mais sobre o DIU, já tem post aqui no blog, basta clicar aqui.
COMO FOI O PROCESSO ATÉ CHEGAR AQUI?
O processo até chegar a inserção foi extremamente demorado, cansativo, burocrático e moroso. Atribuo muito disto à falhas humanas, uma burocracia criada apenas com o intuito de impedir o acesso ao DIU, com base em juízo de valor de um médico, que burocratiza o processo, afim de fazer a maioria das mulheres desistir de realizar a inserção. No meu caso, desde a primeira manifestação de interesse em utilizar o DIU de cobre, até a inserção, se passou 14 meses.
O SUS tem OBRIGAÇÃO de fornecer o DIU de cobre (modelo padrão TCu 380A), bem como informar a todas as mulheres sobre vantagens, desvantagens, riscos, taxa de eficiência e tudo que envolve o processo, mas, são poucas as mulheres que resistem as burocracias impostas por vários médicos. Porque não "gostam" de inserir DIU de cobre, porque não sabem ou porque fazem juízo de valor com base numa medicina ultrapassada. Enfim, vários podem ser os motivos da burocratização e poucas mulheres aguardariam tanto tempo quanto eu. Eu sei. Sei também que nem todo mundo que acessa o SUS tem possibilidade de obter as informações necessárias para enfrentar esta burocracia inútil.
Após vários telefonemas, argumentações e contatos, fui encaminhada ao médico que realizou a inserção do meu DIU de cobre. O Dr. Marcelo Eduardo atende pelo SUS na minha cidade, Ibirité. A primeira consulta com ele foi realizada no dia 02 de abril e a inserção foi realizada no dia 16 de abril. Ou seja, Dr. Marcelo resolveu em 14 dias (duas semanas), o que o outro médico da mesma rede de saúde não resolveu em 13 meses. Isto, para mim, é mais uma prova de que muito desta demora tem a ver com a qualidade (ou falta dela) do serviço prestado por certos profissionais do SUS.
O SUS pode funcionar, tem profissionais incríveis e tem sim um déficit de investimento muito grande no nosso país, mas, funciona na medida do possível e na medida em que os profissionais envolvidos não criam burocracias desnecessárias para desmotivar os usuários.
EXAMES PRÉ-INSERÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o DIU de cobre pode, inclusive, ser utilizado como contracepção de emergência, isso quer dizer que EM TEORIA não demanda nenhum exame demorado ou complicado. Esta informação pode ser confirmada no MANUAL GLOBAL PARA PROFISSIONAIS E SERVIÇOS DE SAÚDE da OMS (página 52 e acessível neste link). No mesmo manual, na página 137, consta: "Em muitos casos, uma mulher pode começar a usar o DIU a
qualquer momento se houver certeza razoável de que ela não está grávida." Então, basicamente, é preciso não estar grávida e a anamnese é que vai indicar se há ou não riscos que indiquem necessidade de outros exames mais complexos.
No caso da minha inserção foi solicitado: ULTRASSOM ENDOVAGINAL PARA ESTUDO DE ÚTERO (com a intenção de confirmar se meu útero estava na posição típica, em anteversoflexão), exame de Papanicolau (que já havia sido feito por solicitação da outra unidade de saúde burocrática). Alguns médicos colocam exigências como estar menstruada, não foi o caso do médico que realizou minha inserção.
O DIA DA INSERÇÃO
A consulta estava marcada para 09:30hrs no "PACS Sede", no centro da cidade de Ibirité, com Dr. Marcelo Eduardo. Extremamente atencioso e interessado em resolver meu problema, porque esta inserção já havia se tornado um incoveniente.
Chegando ao consultório, o médico conferiu o resultado da ultrassom, fez anotações no meu prontuário e em seguida me encaminhou para a maca. Inseriu o espéculo para avaliar visualmente o colo do útero, nada anormal. Ok. A enfermeira chefe da UBS acompanhou e auxiliou no procedimento a partir daí.
Havia toda uma parafernália cirúrgica assustadora, parecia que era até algo grave, mas, eram apenas materiais estéreis para a manipulação do útero, que é delicada. Finalmente começou a inserção.
Como li muitos relatos pessoais antes de passar por este processo, tantos que nem sei precisar, me preparei para sentir uma dor incapacitante. Li várias mulheres que desmaiaram, caíram a pressão, então eu realmente me preparei para sentir a "dor da morte".
Primeiro ele fez a assepsia do canal vaginal e esta é, sem dúvida, a parte mais chata, mais incomoda de todas. Não sentir dor, mas, incomoda aquela gaze "esfregando" no canal vaginal.
Depois de inserir um outro espéculo, pediu para enfermeira direcionar o foco de luz para fazer a histerometria (processo de medição manual do útero, feito com uma cânula graduada em mm, se não me engano) e me avisou de que eu sentiria um "beliscão", foi o que senti, um beliscão leve e NADA ATERRORIZANTE. Fiquei o tempo todo pensando "é agora, hein, agora vai doer", e este momento nunca chegou.
Bom, feita a medição o médico pegou o DIU que a enfermeira já havia aberto e comparou com a medida encontrada. Me avisou que eu sentiria uma cólica, não senti muito, na verdade. Eu costumo ter cólicas bem fortes de uns tempos para cá, foi bem mais leve do que sinto normalmente. Então ele inseriu e logo depois tirou o tubo que coloca o DIU de cobre dentro do útero, pegou uma tesoura enorme e cortou as cordinhas, não senti nem cócegas para isso.
Não estava menstruada e após o procedimento permaneci com um leve sangramento por algumas horas, não durou até a noite. A cólica também durou um pouco depois da inserção, mas, um comprimido de Buscopan deu conta do recado.
Terminado o procedimento, o médico me entregou o cartão de paciente e colocou a data de troca do DIU para 2023. Porém, o DIU TCu 380A tem uma duração comprovada de, no mínimo, 10 anos. Nos EUA já aprovaram o uso por 12 anos. Não questionei a data, sei que o modelo fica 10 anos e achei mesmo que isso não seria motivo de discussão. O médico disse que: "não gosta que o DIU de cobre fique mais de 5 anos dentro da paciente, porque pode quebrar as cordinhas e dificultar a retirada do mesmo. Mas, até "uns" 7 anos (porque eu mencionei que talvez eu tenha outro filho quando acabar meu doutorado - estou na graduação ainda) ele aguenta!".
Eu estou muito feliz por não ter sentido dor nenhuma comparado ao que me preparei, sei que dor depende muito da sensibilidade de cada uma, mas, acho que ler coisas positivas sobre ela também ajuda.
A taxa de eficácia do DIU de cobre TCu 380A normoposicionado é de 99,4%. Lembrando que DIU normoposicionado é DIU de Cobre DENTRO do útero. Não importa a posição, a distância do fundo do útero. Precisa estar TOTALMENTE dentro do útero para funcionar. Apenas isto.
A recomendação agora é uma nova ultrassom após o primeiro ciclo menstrual, para avaliar a posição do DIU dentro do corpo. Após isto, não é preciso ficar fazendo exames de imagem sempre, apenas acompanhar pelo autoexame o posicionamento das cordinhas, tentando perceber se estão maiores que de costume ou se sente alguma ponta "endurecida" na saída do colo do útero, o que pode ser sinal de expulsão parcial do dispositivo.
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