quinta-feira, 22 de setembro de 2016

DESCULPE O TRANSTORNO, MAS, É PRECISO FALAR SOBRE PROFESSORES RACISTAS

A escola de modo geral, é um ambiente inóspito para pessoas negras, eu posso falar disto com toda a certeza em generalizar, porque exceções existem, mas elas só vem para confirmar a regra: escolas são ambientes racistas!
DESCULPE O TRANSTORNO, É PRECISO FALAR SOBRE PROFESSORES RACISTAS
A vida toda fui aluna de escola pública, com exceção apenas da pré-escola, pois na minha região este ensino não era oferecido pela administração pública às crianças e, para eu não chegar ao ensino fundamental sem saber nada, minha mãe fez um esforço além das suas possibilidades para me colocar numa escola particular, que nos dias de hoje, custaria algo em torno de R$100,00. Muito humilde, muito simples e, tinha lá seus defeitos, foi onde aprendi a ler, escrever e que a vida não seria nada fácil na escola.
Dizem que ninguém nasce racista e eu acredito nisto, mas se aprende muito cedo a ter esse comportamento lamentável. Com sete anos, as crianças que estudavam na mesma escola que eu, já sabiam fazer piadas maldosas com o meu cabelo, minha cor da pele, meu nariz largo e com os meus lábios grossos. As crianças, em sua maioria negras nesta escola, sabiam inclusive, separar os de pele clara para "pegar mais leve" nas piadas. 
No ensino fundamental I, não foi diferente. Era uma escola muito grande, mais de 200 alunos só na mesma série em que eu estava, todos os dias uma ofensa ou piada diferentes, quase todas envolvendo meu cabelo ou o fato das minhas pernas ficarem "russas" com facilidade. E obviamente não era só comigo, mas todas as crianças negras que ali estavam, como sendo maioria, os negros por vezes oprimiam seus iguais, fruto de um aprendizado com os maiores e principalmente, da omissão dos professores e coordenação da escola. Era uma época em que era "comum", chamar o colega negro de macaco e os professores não reprimirem aquele comportamento.
Os anos passaram e ao invés de reduzir, o racismo na escola só aumentava. A pré-adolescência é um período difícil para todas nós, mas ser mulher e negra nesta fase da vida, é muito próximo do inferno. Os colegas são cruéis, as colegas consideradas "padrão" são cruéis, os professores além de omissos passam a tratar, principalmente os meninos, com um racismo ainda maior e, as meninas, com uma objetificação sem fim.
Um estudante de 14 anos, negro, foi chamado de macaco por uma professora durante uma discussão no Instituto de Educação Clélia Nanci, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. O caso aconteceu na segunda-feira, mas a docente, identificada como Nádia Restum, só foi afastada da escola estadual nesta quarta. A mãe do aluno registrou uma queixa por injúria racial na polícia.
Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/professora-chama-aluno-negro-de-macaco-durante-discussao-em-sala-de-aula-20152093.html#ixzz4L17YjWa0

Toda a minha trajetória escolar, foi marcada pelo racismo sem dúvidas e, ledo engano de quem acha que, ao chegar no ensino superior, a história vai melhorar. Não, não vai e se bobear, piora!
Atualmente, curso história numa universidade federal que é considerada uma das melhores do Brasil, mas, que não é diferente em nada, da primeira escola pública em que estudei. Ou melhor, é diferente no fato de que os professores não são apenas omissos, mas tão ou mais racistas, que meus colegas de universidade. Como já disse, existem as exceções que estão aí para confirmarem a regra, mas no geral, entendo o porque do comprometimento da saúde mental de tantos dos nossos estudantes negros país afora, a Universidade é um ambiente racista também.
No curso de história, um dos termos preferidos dos meus professores é o tal anacronismo, que quer dizer basicamente, o erro cometido ao contextualizar um tempo histórico com base no seu tempo atual, é mais ou menos como eu querer analisar, levando em consideração os valores da nossa sociedade hoje, algo ocorrido no século 19. Pois bem, este termo é usado por muitas vezes para justificar eles ainda serem racistas, como alguns gostam de dizer, "em pleno 2016". Exemplo disto, é um determinado professor, que em todas as suas teses, artigos publicados e aulas dadas, afirma a teoria de que EXISTEM e QUE SOMOS todos frutos de uma mestiçagem positiva e romantizada, por isso, não somos negros e sim, MESTIÇOS, PARDOS OU MULATAS. Isto mesmo, mulatas, em 2016, um termo reconhecidamente racista e já debatido por diversos estudiosos que hoje, reconhecem o racismo nesta expressão. Mas, para não ser anacrônica, é preciso separar quando se usa este termo para referir-se à um tempo em que, a expressão era comummente usada, do nosso tempo agora, em que muitos estudiosos reconhecem o caráter depreciativo desta expressão. Menos, é claro, este professor citado.
O ambiente acadêmico é branco, sendo assim, ao estudante negro restam poucas alternativas: debater, adoecer ou embranquecer!
Podemos então continuar considerando normal e esperado, que a ancestralidade negra seja massacrada no ambiente acadêmico? A ponto de aceitar o estudante negro, somente se ele for levado ao seu ponto máximo de exaustão?
Diariamente são vinculadas na mídia reportagens retratando racismo por parte de professores, o que não é de espantar. Nossos professores estão sendo formados em um ambiente racista, por outros racistas, que num ciclo, já se formaram com outros mestres igualmente preconceituosos. E é sabido que o meio docente, não é dado a aceitar críticas e muito menos, descer de seus pedestais. Precisamos sim quebrar este ciclo, mas, como faríamos isto se a universidade continua funcionando como um ambiente inóspito para as pessoas negras, assim como todo o ciclo básico escolar?
Sabemos que é preciso resistência, seguiremos então abrindo espaços, há dez anos atrás era muito mais difícil que hoje. Sigamos todos denunciando sempre estes casos, promovendo debates, levando para dentro das paredes blindadas da acadêmia, nossas pautas e contra-argumentos, sempre que possível, nos baseando em pesquisa. Apenas quando ocuparmos os espaços de formação, com a produção de novos educadores, é que conseguiremos modificar este ciclo racista.

Um comentário:

  1. Falou tudo,minha trajetória escolar também foi marcada por crianças e adolescentes racistas,minha mãe era chamada na escola porque alguém podia me chamar de macaca que era brincadeira ,mas na hora que eu revidava era agressão aos colegas de sala ...
    Cheguei a um ponto de não querer mais estudar graças a minha mãe que não permitiu tal fuga,mas sempre fui alvo de comentários maldosos de todas as formas...
    Pessoas como essa professora ,tem que comer cadeia ...

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