quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O PODER TRANSFORMADOR E A FORÇA DO ÓDIO

dezembro 18, 2019 2
Conversar com uma pessoa que nasceu, cresceu, viveu e para sempre vai viver numa pele que não representa uma ameaça à ela chega a ser quase uma experiência antropológica para uma pessoa negra. Eu, mulher negra e com um alvo nas costas há 28 anos não sei o que é viver sem medo. Nunca soube, mesmo quando eu não sabia de onde vinha o medo que sentia. O ódio é a linguagem com a qual pessoas negras são educadas e, perceba, não estou aqui falando dos nossos lares, do nosso local de segurança, estou falando de uma estrutura social que conversa com pessoas negras através do ódio e somente ele. Frantz Fanon, psiquiatra martinicano que escreveu “Os Condenados da Terra”, título publicado em 1961, tratou em sua obra da linguagem da violência aplicada pelo sistema colonial aos corpos e mentes negras, durante a guerra de libertação da Argélia. Fanon analisa ali um contexto sendo contemporâneo da repressão colonial, mas peço licença para analisar o contexto brasileiro aos olhos do psiquiatra.


Imagem: Getty Images
Ter a tranquilidade de poder não sentir ódio é, com toda a certeza, um privilégio.
Todos os dias lemos notícias de injustiças, desmandos e ataques diretos às pessoas negras e periféricas. Ao pensar na Indústria da Cultura, segundo o filósofo Adorno, é possível ver qual o papel da mídia na hora de formar e tranquilizar uma sociedade em relação às suas mazelas, mas, e quando a indústria da cultura é pensada para amenizar apenas “um lado” da história? O sistema colonial faz o trabalho de manter dóceis alguns membros da sociedade que, mesmo sendo negros, não conseguem se revoltar contra o sistema. Mas, aí é que está, nem todos nós conseguimos nos anestesiar.

Quando você cresce sem a necessidade de se revoltar com um sistema que foi feito para atrasar, oprimir e matar (no extremo do genocídio negro) a única coisa que lhe garantiria o mínimo de incômodo com a situação de quem sente essa necessidade é uma formação ideológica bastante refinada (referência ao antropólogo Kabengele Munanga, em seu livro “Negritude: Usos e Sentidos") mas numa sociedade criada sob a falsa ideia de uma democracia racial e a cordialidade entre as diferentes raças (do ponto de vista social e não biológico), fica muito difícil criar em pessoas não negras essa revolta inata que nasce com as pessoas negras. Já está mais do que provado que biologicamente o conceito de raça não se sustenta, em especial para explicar as diferenças entre pessoas, mas, socialmente o conceito existe e é forte, por isso é impossível não falar de racismo na hora de identificar as diferenças sociais entre pessoas negras e brancas num país como o Brasil. 

Raça aqui é fator determinante. E, quanto mais escuro, mais decisivo é este fator na vida das pessoas. A pigmentocracia no Brasil é real. 

Pessoas negras são o alvo direto da necropolítica atualmente instalada no Brasil. Criar um inimigo para poder exterminá-lo com aprovação de várias camadas da sociedade não é novo, mas vem se fortalecendo cada dia mais e mais. E nós, pessoas negras minimamente conscientes, nos revoltamos com isso, odiamos isso. Daí, voltamos a Fanon, se é com ódio que dialogam conosco, qual será a linguagem usaremos para responder aos ataques, se não o mesmo ódio?

Odiar é normal e esperado quando nossos corpos são alvo diariamente deste ódio social.

E é a colonialidade que tem a missão de manter domesticado este ódio.
Evocar a paz e a “civilidade” diante da raiva e indignação de pessoas negras com a violência sistematizada é, no mínimo, desrespeitoso. Confundir a reação do oprimido com a violência do opressor é também desrespeitoso para com quem não conhece outra linguagem de tratamento a não ser a violência. 
A sociedade espera o que além disso de quem é criado para saber que deverá se submeter ao ódio?

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

SANKOFA: É SEMPRE POSSÍVEL VOLTAR AO PASSADO PARA RESSIGNIFICAR O PRESENTE

novembro 08, 2019 0
Resenha crítica apresentada ao curso de Literatura Afro Brasileira - Literafro, da formação transversal em Relações Étnico-raciais e História da África e Cultura Afro-brasileira¹.

Imagem de Pexels por Pixabay

Eduardo Assis Duarte graduou-se em Letras pela UFMG em 1973, é mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro e doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada, pela USP desde 1991. Aposentado desde 2005, mantém vínculo voluntário com a UFMG, atuando como professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Letras. Participa do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade - NEIA e coordena o Literafro Portal da Literatura Afro-brasileira.
O artigo Margens da história: a revisitação do passado na ficção afro-brasileira, que foi publicado em 2015 e hoje encontra-se disponível no portal Literafro, trata sobre a característica de discurso sociológico do romance afro-brasileiro, pensando na perspectiva política na qual estes autores estão inseridos.
A escrita literária afro-brasileira, ou mais recentemente “negro-brasileira”, é marcada pelo resgate de um passado que, para uma certa camada da nossa sociedade, já passou de fato. Mas que para aqueles que identificam o local da sua escrita como literatura negro-brasileira, esse passado ainda precisa ser discutido, revisitado e rememorado para ter uma espécie de solução ou o mais próximo disto. Este local da escrita da literatura afro-brasileira é também outro marcador importante na tarefa de descartar o mito da imparcialidade de quem escreve. Mito este que é geralmente invocado sob a justificativa - parcial - de que estas são questões identitárias, no entanto, Duarte fala da importância de debater estas questões, e é quando o romance ganha um viés de “documento sociológico” (Jean-Yves Mérian - 2000). 
A memória é usada na literatura tanto como chave de leitura do público que encara esta obra, como na composição dos personagens e as narrativas de suas histórias. Memórias coletivas do povo são levadas em consideração 
"O texto de Nei Lopes mescla falas e tempos distintos, num dialogismo entre passado e presente que dá ao conto ares de crônica histórica inusitada e plural."
A memória traumática de uma escravidão ainda que não vivenciada diretamente mas sentida graças aos elos atemporais que são construídos com seus semelhantes, o tal eu mais amplo (DUARTE, 2019) é uma construção que muitas vezes se dá através da escola e colegas de turma, desde a infância até adultos.
"À memória traumática da escravização acrescenta-se a da leitura enviesada produzida pelo discurso pedagógico, que faz da escola aparelho ideológico disseminador do racismo."
Este reconhecimento do seu semelhante na memória também é debatido pela autora Vilma Piedade em sua obra, Dororidade. Falando especificamente do Feminismo Negro a autora, fazendo uma referência a Sororidade, traz a discussão sobre como mulheres negras se reconhecem e se solidarizam a partir da dor. 
Memórias de crueldade que estariam relegadas ao esquecimento ganham registros e forma, a partir da voz do lado “vencido” da história
"O texto se faz ainda com o depoimento dos pretos velhos, tornado causo e lembrado pelos mais jovens. Nestes momentos o tom sobe e a crueldade do passado aflora sem meias palavras."
Desta forma a história oral, que acaba não resistindo muito ao tempo, devido as suas limitações intrínsecas, acaba ganhando um registro bastante duradouro dentro destes romances históricos.
O autor também procura demonstrar as consequências de séculos de exploração, escravidão, racismo e violências várias, 
"Suas atitudes resultam de um passado que não se restringe à individualidade. Remontam ao processo que atinge corpo e identidade negros submetidos ao rebaixamento histórico que os exclui dos padrões de beleza oriundos da branquitude."
Para Duarte a literatura afro-brasileira contribui para a humanização e a fuga dos estereótipos do negro, 
"O tom anti-laudatório propicia, por outro lado, a recusa ao discurso da vitimização pura e simples do negro."
E demonstra que o que houve na verdade foi a desumanização de um sistema e não dos sujeitos que, embora violentados, continuavam sendo seres humanos, com seus defeitos e qualidades, seu lado bom e lado ruim, como todo ser social. Não ficando condicionados ao lugar de monstros, vítimas ou infans. 
Estes são romances que ambientam e humanizam favelas, ocupações, morros, senzalas e espaços marginais da sociedade que são majoritariamente ocupados por pessoas negras, além de ser também um espaço para que aqueles que professam religião de matriz africana possam falar de sua fé sem estarem rodeados pelos estereótipos e sensacionalismos da escrita não-negra.
A literatura afro-brasileira é então um espaço político de afirmação, reafirmação, retorno e avanço ao mesmo tempo para os escritores que fazem parte desta comunidade, com um propósito real de resgate e registro de todos os aspectos que rodeiam a nossa população. 
Humanizar é tirar o véu da colonização, ao escrever suas próprias histórias e memórias históricas, o literato afro-brasileiro insere sua obra num local de resistência política há um apagamento sistêmico ou o “memoricídio” da história desta parte da população.


¹ In: SISCAR, Marcos; NATALI, Marcos (Org.). Margens da democracia: a literatura e a questão da
diferença. Campinas, SP / São Paulo, SP: Editora da Unicamp / Editora da USP, 2015, p. 167-189.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUARTE, Eduardo Assis. Margens da história: A revisitação do passado na ficção afro-brasileira. 2019. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/151-eduardo-de-assis-duarte-margens-da-historia>. Acesso em: 05 out. 2019.

FANON, Frantz. Guerra colonial e distúrbios mentais. In: FANON, Frantz. Os condenados da terra. Juiz de Fora: Editora Ufjf, 2015. Cap. 5. p. 285-358. Tradução de: Les damnés de la terre.

GONZALES, Lélia. RACISMO E SEXISMO NA CULTURA BRASILEIRA. Ciências Sociais Hoje: ANPOCS, São Paulo, v. 5, n. 8, p.223-244, nov. 1984. Anual. VII Encontro Anual da ANPOCS. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20-%20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2019.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

"a solidão da mulher negra..." É UMA PAUTA QUE PRECISA SER SUPERADA LOGO

outubro 29, 2019 1

"A pauta da solidão da mulher negra precisa ser superada. Acho que já chegou a hora de unificar os movimentos..."

Imagem de TréVoy Kelly por Pixabay
Esta foi fala de um homem sobre o assunto dado momento numa aula de literatura afro brasileira. Aula esta em que se discutia a importância de marcar o lugar do negro dentro da literatura através da identidade "afro" de seus escritos e de como é fundamental lutar pela demonstração de um lugar bastante específico onde está localizada a literatura negra.

O curioso caso das pautas menos importantes, que devem ser sublimadas e superadas. E que coincidentemente afetam diretamente as mulheres pretas.

Esta não é a única pauta negra e feminina que é silenciada, mas cabe aqui pensar o quanto são tratadas como conversas de boteco – e estas também têm lá sua importância – as pautas da militância negra feminina. A nossa estética enquanto ato político, as nossas relações afetivas, os nossos corpos e vontades... Tudo ficando abaixo de uma lógica patriarcal e machista que considera menos importante pautas que para nós também são importantes.

Como já discutimos aqui, num dos posts mais lidos deste blog, A SOLIDÃO DA MULHER NEGRA NÃO É SÓ AFETIVA, no entanto existe também uma discussão fundamentada sobre esta solidão da mulher negra e sempre cito a dissertação da Claudete Alves da Silva, abrindo os caminhos (até onde sei) em 2008 na PUC SP. Esta discussão que tem sido cada dia mais aprofundada por mulheres negras é nossa episteme, é nossa produção intelectual sobre as mazelas que nos afetam. Acaso alguém pede para que deixemos de discutir as teorias de Michel Foucault sobre o corpo e a relação da sociedade com a punição, violência? Alguém tem dúvidas de que é preciso discutir e entender a necropolítica como uma política de estado existente? Não, absolutamente. Mas, aquilo que nos é caro pode ficar para depois?

"A mulher Negra precisa entender que ela pode ser feliz sem homem..."

Essa frase tem tantos problemas que é difícil saber de onde começar, mas, vamos lá, discutir ponto por ponto até que fique perceptível que a solidão da mulher negra não é falta de pau ou de homem!

A começar pelo problema da heteronormatividade desta ideia de que a mulher que reclama de solidão está necessariamente reclamando da falta de um parceiro do sexo masculino. Em primeiro lugar porque mulheres são diversas, inclusive nas suas condições sexuais e – graças a Deusa – muitas destas mulheres também amam outras mulheres. Tratar sobre a solidão da mulher negra não é sobre um discurso cristão culpabilizador de uma figura, neste caso o homem negro, da nossa solidão. Não mesmo, está bem longe disso.

Outro ponto levantado é que "não existe uma solidão específica da mulher negra, solidão é solidão". Esta é uma frase rasa e muito fácil de ser explicada, afinal, as mulheres não são todas iguais, nem mesmo as mulheres negras são todas iguais e juntar tudo no mesmo saco é invisibilizar pontos importantes para várias destas mulheres. Mulheres negras não são garrafas de coca cola e a gente precisa parar pensar que são. As várias vertentes do feminismo, para aquelas que são feministas, ou os vários outros grupos que unem mulheres em torno de causas são diversos e são várias pautas discutidas sempre, nossa solidão tem nome e sobrenome porque aprendemos depois de muita luta dar nome e voz aos nossos sentimentos.

Mulheres negras estão abandonadas pelo Estado, dizer isso é dizer que nós somos as que mais morremos por violência obstétrica, por exemplo. Maria do Carmo Leal, que coordenou a pesquisa Nascer Nas Prisões, em entrevista ao site do Instituto Fio Cruz fala do racismo explicito no sistema de saúde que leva a ter entre as mulheres negras o maior número de vítimas de violência obstétrica. 

Falta de insumos, medicamentos, profissionais desestimulados com a falta de condições mínimas para trabalhar, aliado ao aumento da pobreza das classes populares, todos juntos podem contribuir para o atraso (por falta de dinheiro) na chegada à maternidade e, uma vez dentro dos serviços de saúde pode se defrontar com dificuldades ou insuficiências para dar a resposta adequada. A Mortalidade Materna é maior em mulheres negras, as mais vulneráveis socialmente e essa é outra coisa inadmissível, que tenhamos discriminação expressa nos nossos indicadores de saúde. É triste estarmos assistindo o aumento da mortalidade materna, infantil, de queda nas coberturas de imunização e epidemias. Não podemos aceitar que depois de tantas conquistas, estejamos caminhando para trás” (leia a entrevista completa AQUI)

Isto é mais da solidão que falo aqui, a solidão que extrapola o campo afetivo, a solidão que mata. Mulheres negras tem sua saúde mental violentada constantemente, o racismo está aí – para homens e mulheres, é bem verdade – acompanhado do machismo para nos tirar do eixo diariamente. Lélia Gonzalez fala rapidamente em seu capítulo do livro "Lugar de Negro" sobre esta dificuldade daquela parcela masculina da militância de aceitar as mulheres, tão resolutivas quanto eles, discutindo sobre a sua solidão dentro do MNU. 

O que estamos debatendo enquanto coletivo é tudo pertinente. Se para Lélia Gonzalez toda pessoa negra deveria ser um centro de luta, porque respeitamos as pautas de uns centros e outros não? Quais os fatores fazem com que as pautas de mulheres negras sejam tão relativizadas pelos seus pares? Se estendermos isto para as mulheres negras que fazem parte da comunidade LBT o cenário piora, são vária opressões que se cruzam no gênero, raça e na orientação sexual destas mulheres.

Continuaremos discutindo e esmiuçando o assunto, primeiro porque teorias importantes estão sendo formuladas nestes campos e não se apaga a produção intelectual de mulheres pretas só porque alguém se cansou da pauta. E segundo, não menos importante, tudo que existe só existe porque tem um nome. Logo, marcar o local da mulher negra nesta discussão é importante para que, depois de visibilizada, a pauta continue gerando os incômodos necessários que levam a discussão do tema.

sábado, 14 de setembro de 2019

AS PALAVRAS DE MULHERES NEGRAS SÃO ATRAVESSADAS DE SILÊNCIO

setembro 14, 2019 0
Resenha crítica apresentada ao curso de Literatura Afro Brasileira - Literafro, da formação transversal em Relações Étnico-raciais e História da África e Cultura Afrobrasileira¹.
1 - Míriam Alves, Geni Guimarães e Aline França (Autoras Afrobrasileiras).

Moema Parente Augel possui graduação em Letras Neolatinas pela UFBA (1961), mestrado em Ciências Humanas também pela UFBA em 1974 e doutorado em Letras Vernáculas pela UFRJ em 2005, desde a sua formação esteve atuando principalmente com literatura e cultura guineenses, literatura afro-brasileira e literatura de viagem (séc. XIX). É professora aposentada, tendo lecionado Português e Cultura Brasileira nas Universidades de Bielefeld e Hamburgo ambas na Alemanha. O texto analisado nesta resenha foi publicado originalmente em 1996 e republicado pelo site Literafro.
Ao longo do artigo a autora recupera autoras negras que tem bastante marcadas em sua sua escrita características que Augel descreve como “próprias” da escrita de mulheres negras, tais como a busca pela autodefinição, contar sobre as próprias vivências, experiências, uma espécie de convocatória de outras pessoas negras para se pensar racialmente e também o convite aos não negros de refletirem sobre as dores de viver numa sociedade cuja cor da pele determina maior ou menor sofrimento social.

O falar sobre ser negra em todos os seus aspectos tais como a negritude, estética, lugar social, implicações de classe, traz junto da ação política disto a conscientização de tomar a atitude de reclamar este lugar e deixar de ser, portanto, a periferia de uma fala branca para tornar-se o centro da própria fala, neste caso através da literatura.

O silenciamento dos personagens negros significa também o aumento da repercussão da voz de sujeitos eurocêntricos que com seu discurso escondem o passado escravocrata brasileiro, bem como as violências físicas, psicológicas e epistêmicas praticadas contra o sujeito negro. O silenciamento seria portanto mais uma violência retroalimentando e mantendo outras que são praticadas contra a população afrobrasileira. Esta população que segundo Augel se revolta através da escrita, como demonstrado nas citações de três autoras com maior destaque por Augel.

A autora cita a produção Cadernos Negros como uma publicação que dá voz à escritores negros. É importante ressaltar que esta publicação pode repercutir a voz destes, que já têm voz própria (SPIVAK, 2014) e em forma de um coletivo autônomo fazem com que as suas vozes sejam reverberadas de maneira ampla entre aqueles que leem a publicação. Mas a voz já é destes indivíduos, primariamente, mesmo que inicialmente não conseguissem completar a dialética de falar e ser ouvido (SPIVAK, 2014). Para citar um exemplo contemporâneo de produções como o Cadernos Negros podemos lembrar da coleção Feminismo Plurais trazida pela filósofa Djamila Ribeiro, embora haja diferenças importantes, como por exemplo o tino totalmente comercial dado a coleção feita com recursos privados e suporte de uma editora formal. No caso dos Cadernos Negros Augel inclusive frisa o fato da produção ser totalmente financiada pelos próprios autores contidos em cada volume. 

O “eu” encontrado nas produções negras, para a autora, seria o eu poético que, segundo Stuart Hall é uma construção do século XIX em relação do mundo moderno, "um sujeito em relação com os outros" (AUGEL, 1996), o tal sujeito sociológico acrescido das emoções advindas da experiência de ser negro ou das memórias ancestrais carregadas pelos que descendem da origem africana. O eu poético é aquele que mistura identidade e individualidade com a sensação em relação ao externo, a sua coletividade.

Augel destrincha então trecho de obras de três autoras da literatura afro-brasileira, são elas: Míriam Alves, Geni Guimarães e Aline França. Cada uma com suas características e pontos de destaque são pensadas por Augel como representantes desta escrita feminina e negra. A escrita específica da mulher negra vem para confrontar certos estereótipos racistas que são impostos a este grupo social. Uma literatura marcada muitas vezes por denúncias, um dos temas destacados pela autora seria esta “dupla colonização”, ou seja, a opressão por gênero e raça sofrida por mulheres negras e sinalizada em suas produções. A escrita das mulheres negras seria então uma elaboração que reflete uma identidade marcada por raça e gênero, ao mesmo tempo, mas que também fala da vida cotidiana, de maternidade, sexualidade e assuntos que “normalizam” a existência negra.

O embranquecimento social é um risco que a pessoa negra corre ao tentar acessar ou ascender socialmente numa sociedade racista (FANON, 1952), para isto serve como ferramenta do racismo o auto silenciamento que acaba sendo local seguro para uma auto colonização. O sujeito negro procura reprimir suas características para caber num padrão branco que está dado automaticamente. Em especial risco estão as mulheres negras que para fugir do local hiperssexualizado no qual são colocadas, acabam assumindo este outro lugar onde são oprimidas e contidas. Como ferramenta de luta contra isto está o autorreconhecimento e a colocação as vezes forçada do “eu” negro em certos espaços como a literatura. Isto promove mudanças de estrutura nos indivíduos negros e na sociedade racista, o que Augel chama de mecanismo de descentramento (AUGEL, 1996). A literatura feita por mulheres negras acaba ocupando um espaço de construtora de uma autoestima coletivizada.

Recuperar estas autoras seria subverter a ordem da historiografia brasileira que coloca como cânone o que é masculino, branco e eurocêntrico. Quando são colocadas as figuras negras como “normais”, como é o caso da escrita de Geni Guimarães ou mesmo quando são colocadas como seres fantásticos e poderosos, como no romance de Aline França, ocorre um deslocamento do senso comum sobre o negro e isto é positivo para o coletivo. A literatura neste caso está sendo utilizada “como um instrumento de transformação de uma realidade que nega o direito à especificidade, enquanto indivíduo e enquanto coletivo” (AUGEL, 1996).

¹ Versão alargada do artigo: "Quando elas rompem o silêncio. Literatura feminina afro-brasileira”, in: Lusorama. Zeitschrift für Lusitanistik: Revista de Estudos sobre os países de Língua Portuguesa, Frankfurt, FFM, n°30, p. 5-25, jun.1996. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/157-moema-parente-augel-e-agora-falamos-nos>. Acesso em: 19 ago. 2019.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. 111 p. (Justificando).

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 3. ed. Belo Horizonte: Ufmg, 2014. 174 p. Tradução de: Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa.

XAVIER, Giovana. Ciência, lugar de fala e mulheres negras na academia: A solução do problema brasileiro passa pela construção de novas epistemologias e pela necessidade de localizar o saber que se produz na ciência. 2018. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2018/Ci%C3%AAncia-lugar-de-fala-e-mulheres-negras-na-academia>. Acesso em: 25 ago. 2018.

AUGEL, Moema Parente. “E Agora Falamos Nós”: Literatura Feminina Afro-Brasileira. 2018. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/157-moema-parente-augel-e-agora-falamos-nos>. Acesso em: 04 set. 2019.

FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: Edufba, 2008. 193 p. Tradução e Revisão de Texto Renato da Silveira. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2013/08/Frantz_Fanon_Pele_negra_mascaras_brancas.pdf>. Acesso em: 04 set. 2019

AS PALAVRAS DE MULHERES NEGRAS SÃO ATRAVESSADAS DE SILÊNCIO

setembro 14, 2019 0
Resenha crítica apresentada ao curso de Literatura Afro Brasileira - Literafro, da formação transversal em Relações Étnico-raciais e História da África e Cultura Afrobrasileira¹.
1 - Míriam Alves, Geni Guimarães e Aline França (Autoras Afrobrasileiras).

Moema Parente Augel possui graduação em Letras Neolatinas pela UFBA (1961), mestrado em Ciências Humanas também pela UFBA em 1974 e doutorado em Letras Vernáculas pela UFRJ em 2005, desde a sua formação esteve atuando principalmente com literatura e cultura guineenses, literatura afro-brasileira e literatura de viagem (séc. XIX). É professora aposentada, tendo lecionado Português e Cultura Brasileira nas Universidades de Bielefeld e Hamburgo ambas na Alemanha. O texto analisado nesta resenha foi publicado originalmente em 1996 e republicado pelo site Literafro.
Ao longo do artigo a autora recupera autoras negras que tem bastante marcadas em sua sua escrita características que Augel descreve como “próprias” da escrita de mulheres negras, tais como a busca pela autodefinição, contar sobre as próprias vivências, experiências, uma espécie de convocatória de outras pessoas negras para se pensar racialmente e também o convite aos não negros de refletirem sobre as dores de viver numa sociedade cuja cor da pele determina maior ou menor sofrimento social.

O falar sobre ser negra em todos os seus aspectos tais como a negritude, estética, lugar social, implicações de classe, traz junto da ação política disto a conscientização de tomar a atitude de reclamar este lugar e deixar de ser, portanto, a periferia de uma fala branca para tornar-se o centro da própria fala, neste caso através da literatura.

O silenciamento dos personagens negros significa também o aumento da repercussão da voz de sujeitos eurocêntricos que com seu discurso escondem o passado escravocrata brasileiro, bem como as violências físicas, psicológicas e epistêmicas praticadas contra o sujeito negro. O silenciamento seria portanto mais uma violência retroalimentando e mantendo outras que são praticadas contra a população afrobrasileira. Esta população que segundo Augel se revolta através da escrita, como demonstrado nas citações de três autoras com maior destaque por Augel.

A autora cita a produção Cadernos Negros como uma publicação que dá voz à escritores negros. É importante ressaltar que esta publicação pode repercutir a voz destes, que já têm voz própria (SPIVAK, 2014) e em forma de um coletivo autônomo fazem com que as suas vozes sejam reverberadas de maneira ampla entre aqueles que leem a publicação. Mas a voz já é destes indivíduos, primariamente, mesmo que inicialmente não conseguissem completar a dialética de falar e ser ouvido (SPIVAK, 2014). Para citar um exemplo contemporâneo de produções como o Cadernos Negros podemos lembrar da coleção Feminismo Plurais trazida pela filósofa Djamila Ribeiro, embora haja diferenças importantes, como por exemplo o tino totalmente comercial dado a coleção feita com recursos privados e suporte de uma editora formal. No caso dos Cadernos Negros Augel inclusive frisa o fato da produção ser totalmente financiada pelos próprios autores contidos em cada volume. 

O “eu” encontrado nas produções negras, para a autora, seria o eu poético que, segundo Stuart Hall é uma construção do século XIX em relação do mundo moderno, "um sujeito em relação com os outros" (AUGEL, 1996), o tal sujeito sociológico acrescido das emoções advindas da experiência de ser negro ou das memórias ancestrais carregadas pelos que descendem da origem africana. O eu poético é aquele que mistura identidade e individualidade com a sensação em relação ao externo, a sua coletividade.

Augel destrincha então trecho de obras de três autoras da literatura afro-brasileira, são elas: Míriam Alves, Geni Guimarães e Aline França. Cada uma com suas características e pontos de destaque são pensadas por Augel como representantes desta escrita feminina e negra. A escrita específica da mulher negra vem para confrontar certos estereótipos racistas que são impostos a este grupo social. Uma literatura marcada muitas vezes por denúncias, um dos temas destacados pela autora seria esta “dupla colonização”, ou seja, a opressão por gênero e raça sofrida por mulheres negras e sinalizada em suas produções. A escrita das mulheres negras seria então uma elaboração que reflete uma identidade marcada por raça e gênero, ao mesmo tempo, mas que também fala da vida cotidiana, de maternidade, sexualidade e assuntos que “normalizam” a existência negra.

O embranquecimento social é um risco que a pessoa negra corre ao tentar acessar ou ascender socialmente numa sociedade racista (FANON, 1952), para isto serve como ferramenta do racismo o auto silenciamento que acaba sendo local seguro para uma auto colonização. O sujeito negro procura reprimir suas características para caber num padrão branco que está dado automaticamente. Em especial risco estão as mulheres negras que para fugir do local hiperssexualizado no qual são colocadas, acabam assumindo este outro lugar onde são oprimidas e contidas. Como ferramenta de luta contra isto está o autorreconhecimento e a colocação as vezes forçada do “eu” negro em certos espaços como a literatura. Isto promove mudanças de estrutura nos indivíduos negros e na sociedade racista, o que Augel chama de mecanismo de descentramento (AUGEL, 1996). A literatura feita por mulheres negras acaba ocupando um espaço de construtora de uma autoestima coletivizada.

Recuperar estas autoras seria subverter a ordem da historiografia brasileira que coloca como cânone o que é masculino, branco e eurocêntrico. Quando são colocadas as figuras negras como “normais”, como é o caso da escrita de Geni Guimarães ou mesmo quando são colocadas como seres fantásticos e poderosos, como no romance de Aline França, ocorre um deslocamento do senso comum sobre o negro e isto é positivo para o coletivo. A literatura neste caso está sendo utilizada “como um instrumento de transformação de uma realidade que nega o direito à especificidade, enquanto indivíduo e enquanto coletivo” (AUGEL, 1996).

¹ Versão alargada do artigo: "Quando elas rompem o silêncio. Literatura feminina afro-brasileira”, in: Lusorama. Zeitschrift für Lusitanistik: Revista de Estudos sobre os países de Língua Portuguesa, Frankfurt, FFM, n°30, p. 5-25, jun.1996. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/157-moema-parente-augel-e-agora-falamos-nos>. Acesso em: 19 ago. 2019.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. 111 p. (Justificando).

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 3. ed. Belo Horizonte: Ufmg, 2014. 174 p. Tradução de: Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa.

XAVIER, Giovana. Ciência, lugar de fala e mulheres negras na academia: A solução do problema brasileiro passa pela construção de novas epistemologias e pela necessidade de localizar o saber que se produz na ciência. 2018. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2018/Ci%C3%AAncia-lugar-de-fala-e-mulheres-negras-na-academia>. Acesso em: 25 ago. 2018.

AUGEL, Moema Parente. “E Agora Falamos Nós”: Literatura Feminina Afro-Brasileira. 2018. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-conceituais/157-moema-parente-augel-e-agora-falamos-nos>. Acesso em: 04 set. 2019.

FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: Edufba, 2008. 193 p. Tradução e Revisão de Texto Renato da Silveira. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2013/08/Frantz_Fanon_Pele_negra_mascaras_brancas.pdf>. Acesso em: 04 set. 2019

quarta-feira, 24 de julho de 2019

PRIMEIRA MOSTRA NACIONAL DE MÍDIA NEGRA E FEMININA

julho 24, 2019 0
Belo Horizonte recebeu no último dia 19 de julho a PRIMEIRA MOSTRA NACIONAL DE MÍDIA NEGRA E FEMININA do país. 
Foto: Marcelo Teodoro | Clube de Blogueiras Negras
O Clube de Blogueiras Negras apresentou para  o público o resultado de três edições do projeto "Sou Negra e Quero Falar" da jornalista Lívia Teodoro (Blog Na Veia da Nêga).

O evento promovido pelo Clube de Blogueiras Negras divulgou a produção das participantes do projeto "Sou Negra e Quero Falar", todo o conteúdo foi idealizado ao longo de três edições deste projeto. 
A Mostra foi realizada com o apoio do Fundo Feminista Internacional "Frida Fund".
O projeto "Sou Negra e Quero Falar" #SNeQF é uma criação da jornalista Lívia Teodoro, com produção executiva de Zaíra Magalhães e contou com financiamento do Fundo Feminista e apoio da Artigo 19 em suas duas primeiras edições. 

Confira as fotos do evento:

quarta-feira, 22 de maio de 2019

VOCÊ QUER O FIM DO PRIVILÉGIO OU APENAS QUER FAZER PARTE DELE?

maio 22, 2019 0
"Ah, mas, mulher preta também erra...". Erra, claro que erra! Mas, aqui estamos na frente de um probleminha bem maior.


Imagem: Retirado do site: Negrospe.blogspot.com 
Em tempos de exposição na internet para "resolver" divergências políticas e morais esbarramos em algo que até pouco tempo tínhamos como consenso não fazer. Uma delas, expor as atitudes que consideramos erradas e partiram de pessoas pretas no intuito de envergonhá-las ou fazer com que elas repensem atitudes que repudiamos. Era comum a máxima de que "a nossa roupa suja se lava em casa" e que expor os problemas internos da comunidade negra para o "grande público" – lê-se a branquitude que, ao presenciar estas discussões internas reuniria "ferramentas" para ataques desnecessários a pessoas ou grupos internos a comunidade negra – logo, silenciar publicamente para "não rechaçar os nossos", era um comportamento esperado, afinal, temos problemas maiores para nos preocupar – como, por exemplo, o genocídio do povo negro.

Acontece que vamos agora admitir que a internet também é nossa casa, ou seja, ao admitir que a internet também é um campo de disputa de poder para o povo negro, além de ser plural. Isto é, não é mais de negros versus brancos, mas, pessoas versus pessoas, admitimos que disputas criadas no campo virtual são passíveis de se desenrolar dentro dele, não importando que os personagens sejam pessoas negras. A internet é nossa casa e nossa roupa suja também pode ser lavada aqui.

Pessoas pretas são diversas. "Não somos garras de coca-cola" e não devemos nunca ser considerados como uma massa que pensa e age igual desconsiderando nossas especificidades e está tudo certo em discordarmos. Ou deveria estar.

Quando isso não acontece, a tendência é que várias pessoas se manifestem no sentido de demonstrar que tiveram seus sonhos quebrados, destruídos. Vira as vezes um longo roteiro de lamentação sobre ídolos perdidos. E este comportamento é extremamente perigoso. Primeiro, porque não devemos idolatrar (sem nenhum sentido cristão) as pessoas que admiramos, isto os torna inatingíveis, os desumaniza e corremos o grande risco de nos decepcionar com atitudes que são normais, humanas. E em segundo lugar, é preciso admitir que já passou da hora de colocarmos pessoas negras em locais imaculados (também ignorando o sentido cristão) e completamente perfeitos. Seres humanos negros são diversos.

Mas, para além da preocupação da desumanização por detrás disso, está um outro ponto muito importante: embora esperemos que as pessoas errem, afinal, são humanas, não devemos "justificar" comportamentos que vão contra o empoderamento coletivo.

Em seu livro O que é empoderamento?, a autora Joice Berth destaca a importância de ações coletivas que levam ao empoderamento. O empoderamento individual, este que não vai levar ao avanço da comunidade negra que, mesmo diversa, deve caminhar para a frente. É por isso que lutamos e por isso que entendemos a importância da equidade racial.

As críticas que muitos insistem em pessoalizar, transformar em "ataques de inveja" podem ir muito além disto. Explico.

Pessoas negras com acesso a meios institucionais que a maior parte da população negra não tem, não deveriam usar estes acessos no empoderamento individual, com carreiras e visibilidade – na internet – que lhes permitem acessar alternativas que outras pessoas não tem. Rafael Braga, por exemplo, embora tenha tido visibilidade não poderia nunca usar de artifícios do sistema ao seu favor, por não deter o capital cultural necessário para isso. Já pessoas negras que vivem num meio branco falando sobre a negritude e lucram com isto, tem uma entrada diferente e, ao entrar no sistema para mudá-lo de dentro assumem o risco de que o sistema também aja sobre elas. Neste momento deixam de apenas estar lá dentro para mudar, mas, também passam a fazer com que, em alguma medida, o sistema funcione para elas.

É lógico que, enquanto pessoa preta, este indivíduo jamais irá subverter a ordem social, mas, esses microabusos passam a ser cometidos de maneira deliberada. Aí que é que está, não é mais "um erro ao qual está sujeito todo humano".

Enxergar e sinalizar isto não é desumanização deliberada, não é tirar da pessoa preta o direito de errar. É apontar um erro sistêmico que leva o buraco bem abaixo.

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sábado, 18 de maio de 2019

APLICATIVOS PARA ORGANIZAR A VIDA DAS INFLUENCIADORAS DIGITAIS

maio 18, 2019 0
Aplicativos para organizar a vida das Influenciadoras Digitais, Blogueiras e Youtubers. Foto: GettyImages
Existem aplicativos para organizar a vida das influenciadoras digitais que podem ser simples, gratuitos e ao alcance de todas nós. Isso para nos ajudar na coordenação desta vida. Esta estruturação é ponto fundamental para que nós que executamos todas as partes do trabalho de influenciadora digital, para não nos perdermos no meio de tantas tarefas. Então, vamos saber quais aplicativos são estes.

Para quem está no YOUTUBE é fundamental acompanhar de pertinho as métricas da rede. Saber quais são os melhores dias e horários para alcançar seu público ou ver como andam suas visualizações. E o que nem tanta gente sabe é que o Youtube possui um aplicativo de gerenciamento especialmente para isto. O app é o YOUTUBE CREATOR e ele traz várias funcionalidades diretamente do youtube estúdio. O Analytics está bem organizado e fácil de visualizar, além de você poder acompanhar os dados em tempo real, você pode subir capas personalizadas para seus vídeos.

 

Ainda para ajudar as que utilizam o YOUTUBE, o aplicativo PICSTART pode ser uma mão na roda! Na hora de fazer a capa dos vídeos algumas de nós sofrem para encontrar o tamanho perfeito da famosa thumbnail. Com este aplicativo você encontra o tamanho certo para várias redes sociais, inclusive o tamanho exato para as miniaturas de vídeo.

 


NOTAS DO KEEP é um aplicativo do time de funcionalidades do GOOGLE, isso significa que você também poderá acessá-lo pelo computador e é isso que o torna tão útil. Este é um aplicativo de notas e listas fundamental para organização da vida de criadora de conteúdo. Nem sempre você pode executar na hora uma ideia, então basta anotar na sua listinha e acessar quando for produzir seu material, seja utilizando o computador ou pelo celular.

 

Para repostar fotos no INSTAGRAM, vindas de outro perfil, geralmente os aplicativos não tem a opção sem carimbo (marga d'´gua) ou cobram para liberação desta funcionalidade. O aplicativo REPOSTA te dá esta opção gratuitamente. De todos os aplicativos para organizar a vida das influenciadoras digitais este deve ser um dos que possui o funcionamento mais simples facilitando demais a nossa vida.

 


Quer produzir vídeos curtinhos com base num conteúdo maior? Por exemplo, você gravou um vídeo para o Youtube e quer reduzi-lo para o Instagram? O QUICK VÍDEO vai te ajudar. Com este aplicativo você pode, de uma só vez, reduzir o tamanho, suprimir o áudio original, acrescentar nova trilha e ter em segundos um resumão do seu vídeo original para outras redes sociais, não é o máximo?



O LEGEND é um aplicativo gratuito que transforma em vídeos animados qualquer texto. Isso quer dizer que você pode produzir vídeos curtinhos que podem ser usados para muitas coisas, como vinhetas do YOUTUBE, por exemplo. São várias carinhas possíveis para o mesmo texto, várias cores e fontes, todos gratuitos.



Todos estes aplicativos para organizar a vida das influenciadoras digitais estão disponíveis para ANDROID, se você encontrar algum deles - ou algum semelhante que substitua - para o IOS é só deixar aqui nos comentários.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

TRÊS SÉRIES + UM FILME PARA MARATONAR NO FERIADO

maio 02, 2019 0
TRÊS SÉRIES + UM FILME PARA MARATONAR NO FERIADO
Quem nunca maratonou uma série na NETFLIX que atire a primeira pedra!
Este é um comportamento viciante, mas, também vale para quem quer relaxar e curtir o feriado sem atividades muito badaladas. 
Pensando nisto, preparei uma lista com minhas séries e filmes favoritos para indicar ótimas maratonas neste feriado.

1 - LA CASA DE PAPEL

É a história de um assalto à Casa da Moeda Espanhola. Você vai deixar de torcer para os mocinhos, aliás, a polícia deixa de ser o "lado bom" da história e você se pega torcendo para os bandidos vencerem essa saga.
TRÊS SÉRIES + UM FILME PARA MARATONAR NO FERIADO

2 - SENSE 8

Para mim, a melhor série que a Netflix já produziu! Diversa e muito emocionante, os personagens saem da caixinha e do circuito Holliwodiano. Tem gente de quase todos os continentes e com todas as caras. A gente não enjoa de ver sempre os mesmos rostinhos padrões na nossa tela.

As outras duas dicas estão em vídeo, lá no canal. Confere, assiste e me conta nos comentários o que você achou!

sexta-feira, 5 de abril de 2019

TÁ NA HORA DE PARAR DE DAR MORAL PRA R4C1ST4

abril 05, 2019 0


Vamos parar de falar de racista? 
Não, não é parando de falar de RACISMO que ele acaba, mas, pra isso a gente não precisa deixar racista famoso, não é, bebê?
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Todos os dias uma "jovem inocente" vai parar na rede sendo racista e, da noite pro dia, as redes explodem e a bicha tá famosa. Enquanto isso, vocês perdem o conteúdo de vaaaaárias minas negras muito boas de serviço. Várias empresas têm investido no hate whatching, uma espécie de "audiência do ódio": cometem racismo, lotam as redes, pedem desculpas e PRONTO!

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Tá na hora de parar de deixar racista famoso. A recompensa em ser racista não pode ser a fama, galera, acorda! Porque vocês não viralizam os nossos? Agora, basta uma racista fazer uma coisa esquisita no cabelo e pronto, vocês colocam gente sem senso do ridículo no topo das listas. .
Que tal a gente aprender, de uma vez por todas, a brincar de internet? Racismo é crime, ALÉM das redes sociais isso é caso de POLÍCIA!
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Vamos combater e falar do RACISMO, racista não tem que ficar famoso as custas da nossa dor.


quarta-feira, 27 de março de 2019

Liniker e os Caramelows levam o repertório de Goela Abaixo para o palco!

março 27, 2019 0
Foto: Leila Penteado
Goela Abaixo é um disco de muitos CEPs. O segundo disco da carreira de Liniker e os Caramelows teve registros feitos em Portugal, na Alemanha, em São Paulo, Araquara, entre outros. Isso se deu devido à movimentada agenda de shows da banda. É como se o álbum fosse fruto da estrada. E é pra ela que o trabalho volta. No dia 30 de março (30/03), sábado, o grupo apresenta o novo show no Sesc Palladium, em Belo Horizonte. Os ingressos já estão à venda e podem ser encontrados aqui.
“É um som para respirar, para dançar espaçado e sentir para onde cada faixa leva”, diz a cantora e compositora Liniker Barros sobre Goela Abaixo, que tem produção assinada por Rafael Barone, baixista dos Caramelows.

No palco, os momentos intimistas do álbum são mantidos, a exemplo das músicas que são guiadas por piano: “Claridades”, “Initimidade” e “Amarela Paixão”. Ainda assim, a já conhecida explosão dos grooves do conjunto ao vivo se mantém.
Para a turnê de Goela Abaixo, também há novidades na formação da banda. Além de Liniker Barros (voz), Rafael Barone (baixo), Pericles Zuanon (bateria), William Zaharanszki (guitarra), Renata Éssis (backing vocal), Marja Lenski (percussão), Fernando TRZ (teclados) e Éder Araújo (saxofone), um trompetista e uma backing vocal somam ao time.
Na parte visual do novo show, o destaque vai para as projeções da VJ Laura do Lago.

Vamos nos ver?
Quando: Dia 30 de Março, às 21h00.
Onde: No Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046 - Centro - Belo Horizonte)
Quanto: Os ingressos custam à partir de R$30,00, que podem ser comprados através do site ou presencialmente na bilheteria do Sesc Palladium.



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A NAMORADA TEM NAMORADA. E UM FILHO TAMBÉM.

fevereiro 28, 2019 2
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Há pouco tempo li um texto do Jay-Z contando sobre a mãe dele ser uma mulher lésbica, durante toda a vida e, mesmo assim, escondeu isso dos filhos para que isso não lhes causasse dor. O cantor explicou que o medo da mãe não era de que seus filhos - boas pessoas e bem criadas, sem preconceitos - lhe maltratassem ou passassem a ver a mãe com indiferença, mas sim de que as pessoas tratassem seus filhos com ódio ao descobrir que ela, a mãe deles, era uma mulher que amava outras mulheres. Jay-Z seguiu dizendo que “no fundo sempre soube”, mas esperou que a mãe o dissesse por livre e espontânea vontade sobre a sua orientação/condição sexual.

Em 2015, o garoto Peterson Ricardo de Oliveira, de 14 anos, foi assassinado por colegas de escola após se envolver em uma briga.


O estopim da confusão foi, pasmem, o fato de o garoto ser filho de um casal homoafetivo. Peterson foi espancado e morreu após quinze dias internado em estado grave.

Jay-Z passou sua infância e adolescência entre os anos 1970 e 1980 no Brooklyn, Nova York, em épocas e locais diferentes, mas, mais de trinta anos depois, é possível encontrar notícias recentes que justifiquem o medo de Gloria Carter até hoje. Então, como lidar quando a namorada tem, além de uma namorada, um filho?

A maternidade já é - sem precisar de agravantes - complicada e delicada de levar. A tarefa de criar um ser humano é muito maior e mais exaustiva do que se pode imaginar. E falando em condições de família tradicional brasileira - como querem nos fazer crer os tradicionais - já é difícil criar um ser humano isento de “traumas”, imagina então quando a família dessa criança foge ao papel social heteronormativo e padrão esperado? Bicho, que trampo! E infelizmente não existe um manual pronto de como lidar com os outros, quando a namorada é namorada da namorada e mãe… Ufa!
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A conversa deveria ser a base de todas as famílias, o diálogo franco e aberto pode ajudar - e muito - que as crianças elaborem e consigam lidar com um possível preconceito vindo de fora. A probabilidade de que o preconceito exista é alta, sabemos.. Estamos vivendo uma onda conservadora em pleno século XXI. O ano é 2019 e a prioridade do nosso atual governo é, nada mais nada menos, que ferir a laicidade do Estado, violar o direito de imagem de menores de idade e, de quebra, inserir slogan de campanha eleitoral em comunicado oficial a ser lido por funcionários públicos em exercício de sua função. É normal que estejamos preparados para o preconceito e preparemos também nossos filhos, mas,


Conversar abertamente sobre o assunto e fazer com que ele não seja um tabu - ao menos dentro de casa - vai fazer com que as crianças tenham argumentos sadios e inteligentes para discutir, se isso for preciso,

uma situação que para ela vai acabar sendo comum. Assim como Glória, é normal que muitas mulheres tomem a decisão de “esconder” de seus filhos a sua orientação/condição sexual, mas, a partir do momento que entendemos todas as formas de amor como válidas, não há porque criminalizar umas e outras não. A verdade liberta!

Outra maneira de deixar as crianças seguras em relação a relacionamentos não heteronormativos de suas mães é mostrar que, se preciso for, vamos sim acionar os meios institucionais. A escola é um dos aparelhos do Estado e, como sabemos, vai funcionar como ele. Não preciso relembrar da onda conservadora para dizer que ultimamente - mais ou menos nos últimos 500 anos - o Estado anda falhando com as pessoas negras e se esta pessoa, além de negra, for LGBT aí, meu amigo, as falhas são elevadas à décima potência. Mas, ainda assim, é preciso institucionalizar as nossas queixas na mesma medida em que o Estado institucionaliza o racismo e a LGBTfobia. O que quero dizer com isso? Estas mães devem buscar a responsabilidade de ambientes como a escola, por exemplo, em assegurar que aquela criança será tratada da mesma maneira que as outras com outros modelos de famílias. Aliás, isso vale para todos os modelos familiares que, como já dito, fogem do padrão heteronormativo. A escola tem o dever de ser um ambiente plural e seguro para que as diversidades possam conviver em harmonia. Nós não somos todos iguais e, por isso, vamos respeitar a cada um dentro da sua diferença.

Em tempos de governos autoritários, falas racistas e LGBTfóbicas institucionalizadas, perdas de direitos e retrocessos, é preciso que nós tenhamos consciência do nosso espaço, mas resistamos com inteligência, especialmente inteligência emocional. Não dá para fazer como os franceses, incendiar meia dúzia de carros e reclamar dos nossos direitos. A nossa história mostra que esse não é mais nosso perfil. No entanto, é possível que nós, que somos mães e amamos outras mulheres, cuidemos para que a geração dos nossos filhos possa não só cantar, mas entender que agora a namorada tem namorada, filho, liberdade e que deverão ser consideradas justas, de verdade, todas as formas de amor.



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